Am'oonchild 16/10/2022
O poder do Saber
Eu tenho muitos elogios a esse livro.
A começar que a fluidez dele é impecável, os capítulos pulavam sobre os meus olhos e eu absorvia cada pedaço da história com prazer, entre as idas e vidas dos anos tudo se alinhava muito bem. Isto foi um dos principais motivos de eu ter lido tão rápido, pois ao saber que seriam quatro personagens com narrativa temi que passaria muito tempo para sair de um e ir para o outro, que a história se estenderia cansativamente e foi total o contrário! Eu começava a ler sobre um, o entendia, entrava na sua linha de raciocínio, quando acabava me sentia abalada e achava que o próximo não conseguiria me prender, mas o ciclo ia se repetia.
Os quatros irmãos são todos interessantes. Todos funcionando de um jeito diferente, com ligações, contextos e sentimentos diferentes, mas todos se amando e não sabendo como expressar. Foi doloroso ver eles afastados com angustias no peito e na cabeça, porém, sem dividirem uns com os outros.
No que diz respeito aos personagens secundários, em cada arco foram introduzidas pessoas incríveis, que traziam uma bagagem diferente, que nos apresentavam uma perspectiva mais ampla de vários assuntos que os protagonistas eram alheios e, de determinada maneira, até ignorantes sobre. Logo, essas pessoas foram acréscimos muito importantes que tornaram o livro melhor ao fomentar discussões raciais, politicas e religiosas.
E, essa premissa de saber a data de sua morte, é incrível. Eu refleti bastante ao perceber como o simples fato deles saberem, deles terem essa informação instalada em suas cabeças isso os conduziu a viverem suas vidas de certas formas. É surreal enxergar o poder que nossa mente tem para nos sabotar, para nos fazer tomar decisões, para nos impulsionar. Um dos pontos que mais me pegaram foi perceber que Simon que tinha tido uma previsão de morrer jovem, se jogou de cabeça no que desejava de verdade, fugindo de tudo que esperavam dele. Ele se permitiu ser quem era e se descobriu muito mais no processo. Ele pode experenciar coisas que de longe teriam sido reais se ele tivesse ficado parado. Em contra partida, Varya que recebeu a previsão de morrer mais velha que todos desenvolveu um TOC que a impedia de viver, como se qualquer coisa fora do controle a fosse sentenciar a morte, ela se privou de inúmeras coisas e na sua parte da história há um paralelo super interessante com sua pesquisa de longevidade em primatas. Klara e Daniel também não ficam atrás, ambos sofrendo com consequências de ter essa ideia implantada em suas cabeças, bem lá no fundo os mexendo de algum forma e há um contraste forte entre suas mortes que mostra como isso os consumiu no fim.
Mas, ao mesmo tempo fica o questionamento de "se eles tivessem feito diferente o resultado ainda poderia ser o mesmo, não?". Simon ainda poderia ter morrido cedo ao contrair AIDS num relacionamento escondido da família em Nova York, Klara ainda poderia ter problemas com álcool e ficar fragilizada, Daniel poderia ter saído de casa de cabeça quente e ter batido o carro.
E essa é a beleza da vida, a gente nunca tem certeza, tudo que fazemos é tentar. Acho que essa é a mensagem que fica quando Varya se ver confrontada por tudo o que guardou em si durante anos e anos e, por fim, quebra. Não tem essa de recuperar o tempo perdido, mas o respirar fundo e aprender que só podemos seguir vivendo um dia após o outro.