Nica 04/12/2012Conselho de Amiga: superficial e nada subjetivoConselho de Amiga é um dos quatro livros infanto juvenis já publicados pela autora Siobhan Vivian e o segundo aqui no Brasil pela Editora Novo Conceito (o primeiro foi Não sou este tipo de garota - mil vezes melhor que este segundo).
Nesse romance juvenil, conhecemos a história de Ruby, que está completando 16 anos e vive somente com sua mãe após a dolorida e repentina separação de seus pais. Ruby não sonha com a esperada festa de aniversário (nos EUA comemora-se o "My Sweet Sixteen", a transição da menina em mulher, que é comemorada aqui no Brasil quando as moças completam 15 anos), mas não podia prever que a mesma seria um desastre.
Em uma reunião simples, em sua casa, rodeada por suas melhores amigas: a "leal" Beth, a "perigosa" Katherine e a "fofoqueira" Maria; e sua mãe, Ruby está cantando parabéns quando a campainha soa. Enquanto as meninas continuam a cantar, Katherine vai atender a porta, munida da Polaroid de Ruby, e retorna acompanhada por uma surpresa: o pai da amiga.
O clima fica tenso. Ruby não via o pai desde que este se separou de sua mãe; na verdade, não via ou tinha notícias do mesmo desde então. E é por causa desse acontecimento inesperado que a pacata vida de Ruby sofre uma reviravolta. A menina passa a descobrir verdades até então ocultadas, começa a perceber quem são as pessoas que se dizem suas amigas, principalmente no que diz respeito à Beth, sua amiga mais antiga, e descobre que a separação entre seus pais não foi bem como ela imaginara.
"É assim que são as conversas entre mim e minha mãe. Falas sarcásticas como fumaça e espelhos, então a gente pode conversar sobre algo sem nem menos tocar no assunto. Um soco na memória. Vejo faces estúpidas diante das velinhas do bolo, a garganta sensível depois do discurso cortês, ouço o papel celofane sendo amassado. Ele esteve aqui, mas foi embora. De novo."
Narrado em primeira pessoa, sob a visão da personagem Ruby, basicamente no presente, com alguns flashbacks para que possamos entender a história das melhores amigas Beth e Ruby, bem como a verdadeira história por trás do divórcio dos pais de Ruby, o livro possui uma narrativa leve e fluída.
No entanto, Conselho de Amiga não me conquistou. Calma, não é uma história ruim. Mas o livro promete mais do que cumpre, na minha opinião. Como eu falei, a narrativa é boa, você não se cansa, não me recordo de ter encontrado erros de revisão ou tradução - como sempre a Novo Conceito é bem atenta e cuidadosa em relação a isso -, mas achei as personagens meio... como dizer, confusas e rasas.
Na verdade, o que enfraquece o livro são justamente as personagens. Somente uma das personagens femininas me cativou, de alguma maneira, que foi a "perigosa" Katherine, a única que se impôs em alguns momentos, que externalizava suas emoções, que me pareceu mais palpável, mais real, mais impulsiva.
Vocês devem estar se perguntando o por quê das aspas nas descrições das amigas, certo? Então, vamos lá. Foi exatamente essa descrição deturpada que fez com que eu desanimasse com a leitura ao passo que ia percebendo que as meninas não eram nada do que a sinopse "vendia"...
A melhor amiga de Ruby, Beth, não é um poço de lealdade como descrita. Ela esconde muitas coisas da amiga, coisas que eu nunca esconderia, coisas que fizeram com que Ruby tivesse pensamentos errados sobre seus pais, coisas que pertenciam à menina e que Beth, independente da dor que pudesse causar, não deveria ter escondido. Fora que a Ruby começa o livro sempre se perguntando e se culpando por ficar perturbando a amiga com seus problemas.
"Em parte, não quero aborrecer Beth com o que ando sentindo. Quero dizer, já discutimos isso centenas de vezes e duvido que haja algo novo a ser dito. A coisa é que, quando seus amigos perguntam se tem algo errado, eles realmente não querem saber tudo. Sobretudo se eles veem que você vive aborrecida com o mesmo assunto de sempre."
Hã? Amigos de verdade não são só para situações legais, eles devem estar presentes principalmente quando tudo parece ir mal... E, se por algum motivo, alguma situação não foi totalmente resolvida / esquecida, eu acho que é papel do amigo ajudar a resolver a mesma, ainda que tenha que se falar do assunto "um milhão" de vezes!!!
Depois temos a "fofoqueira" Maria. Coitada dessa menina! Levou a fama sem deitar na cama! Em momento algum Maria me parece uma "dona fifi", do contrário, ela é a mais passional de todas as meninas em relação às suas vidas, ela espera que as amigas dividam suas situações. Na verdade, Maria acaba sempre se abrindo demais com as meninas, mas sem esperar nada de volta. Aliás, das quatro amigas é a mais apagadinha.
Não bastassem as amigas adolescentes, a mãe de Ruby é outra personagem fraca. Se bem que até consigo entender. Ela esconde uma verdade que pode mudar toda a relação que ela construiu com a filha. Mas, ainda assim, algumas de suas reações, de suas atitudes, são mais infantis do que as da própria garota!
"Somos dois amigos que foram juntos para a guerra. Temos uma história, nos amamos e somos companheiras, mas nenhuma de nós quer reviver as batalhas por que passamos ou comparar nossas feridas. Estamos satisfeitas com o passado que pesa entre nós sem fazer nenhum comentário ou suspiro. Nenhuma de nós quer puxar o gatilho das memórias doloridas."
As duas personagens masculinas que merecem destaque são o pai de Ruby e Charlie, que acaba se tornando mais que um amigo para a menina. O primeiro, apesar de injustiçado em relação ao divórcio, não agiu como pai, era imaturo e ainda é, fechado e solitário, preferindo sempre se isolar. Uma personagem que me deu raiva por ser tão pacífica. Já o jovem Charles é a outra grande personagem do romance.
Charles é um menino doce, que entende as crises de Ruby, que além de se tornar um grande amigo, se torna seu namorado. E, apesar de a sinopse dar a entender que poderia rolar algum tipo de ciúme entre as amigas de Ruby e seu novo amigo, não é bem isso que acontece. De fato, Beth se preocupa com a aproximação do menino, não por ciúme... Mas por medo. Charles incentiva Ruby a ir atrás de seu pai, conhecê-lo melhor, tentar entender por quê ele saiu de casa e nunca mais, até seus 16 anos, deu sinal de vida. Fora que o romance deles é super fofo. Charles é o primeiro namorado de Ruby.
"Depois de um tempo, abro um olho e verifico que ainda estamos sozinhos. Acho bom que isso esteja acontecendo bem na frente da minha mãe, na frente da nossa casa. Porque, embora eu seja novata nisso, ela pode aprender uma ou duas coisas comigo."
Conselho de Amiga é um livro sessão da tarde. Volto a repetir, não é de todo ruim, mas também não é um dos melhores romances já lançados pela Novo Conceito ou pela própria Siobhan Vivian. Confesso que esperava mais se tratando de uma história voltada para o público jovem. Muitas das situações geradas poderiam ser contornadas com conversa, com honestidade. E esse é justamente o ponto alto do livro: comunicação. Nos faz pensar quantas "saias-justas" poderíamos evitar se fossemos sempre diretos e sinceros.
“Mais vale uma verdade que fere do que uma mentira que consola”
Resenha postada no blog Drafts da Nica (http://nicasdrafts.blogspot.com.br/2012/10/resenha-conselho-de-amiga-superficial-e.html) sendo proibida qualquer reprodução sem autorização, sendo tal ato considerado plágio.