MiCandeloro 04/11/2012
Fraco e sem graça
A história do livro gira em torno da vida de Ruby, uma adolescente que está completando 16 anos e que no dia da festa do seu aniversário, seu pai, Jim, reaparece, reabrindo uma ferida há tempos adormecida em seu coração. Desde a partida misteriosa e abrupta de seu pai, Ruby tem uma vida muito conturbada e emocionalmente abalada. Ficou anos em tratamento psicoterápico tentando se curar do trauma e no decorrer do livro fica visível que ela nunca conseguiu ter uma vida "normal". A relação dela com a mãe é muito distante, ambas têm um problema bem sério de comunicação e falta de intimidade, e isso agrava seus sentimentos de solidão. As duas nunca conseguiram conversar abertamente sobre a partida de Jim, pois nunca se recuperaram plenamente desse episódio. E o fato de terem compartilhado essa experiência dolorosa só as afasta ainda mais. A única pessoa com quem Ruby conseguia se abrir e que a fazia se sentir melhor, era sua melhor amiga Beth.
Beth e Ruby eram amigas desde crianças, e desde que Jim abandonou Ruby e sua mãe, Beth e Ruby ficaram ainda mais próximas. Beth tinha um instinto muito forte de querer proteger e poupar a amiga de quaisquer sofrimentos e, por isso, vivia dando conselhos a ela de como viver, como se sentir, do que fazer. Além de Beth, Ruby tinha outras duas amigas, Maria, uma menina interessada somente no assunto que dizia respeito aos meninos, namoro e ficadas, e Katherine, uma menina muito diferente das demais, impulsiva, agressiva, egoísta e individualista.
Desde seu aniversário, Ruby se depara com um turbilhão de sentimentos e dúvidas. Ela nunca conseguiu entender porque seu pai saiu de casa, porque as abandonou, e isso a corrói por dentro. Quando ela descobre que seu pai ainda está na cidade, e quer vê-la, isso cai como uma bomba em seu colo porque ela não sabe o que fazer. Ela quer vê-lo? Ela quer esquecê-lo? A única coisa que ela sabe é que ainda sente muito ódio dele e pena da mãe. E tudo piora quando ela descobre que uma de suas amigas não é tão sincera como ela imaginava. De que servem conselhos se quem os dá não tem moral para opinar?
No meio dessa confusão, Ruby conhece Charlie, um menino doce, meio fora do comum que mexe com seus sentimentos. Seu primeiro amor, seu primeiro namorado. E ele é essencial em sua vida, para acalmá-la, escutá-la, ampará-la e ajudá-la a decidir o que fazer. Mas no final do livro descobrimos que nem tudo é como parecia ser. Ruby enfrenta um choque de realidade que quebra todas as crenças que ela tinha até então. Máscaras caem e ela tem que aprender a enfrentar seus medos e inseguranças para tomar as rédeas da sua vida e vivê-la livremente pela primeira vez, sem a interferência de ninguém.
Quando li a sinopse do livro, achei que fosse um Chick lit adolescente, leve e divertido de se ler. Infelizmente não é. Achei o livro cansativo e arrastado. O tempo todo eu ficava esperando "algo" acontecer para dar um rumo e engrenar a história, mas esse "algo" nunca chegava. Em nenhum momento me diverti, ou ri, pelo contrário, o livro é bem dramático e intenso, como os sentimentos a flor da pele de um adolescente. Ruby está vivendo um momento bem negro de sua vida, então somos levados a dividir com ela esses momentos de dor, solidão, desespero e dúvida. Quando chegava cada vez mais perto do final, torcia para que a história me surpreendesse e desse uma guinada, mas infelizmente o final foi bem previsível e pouco emocionante.
Talvez tenha esperado demais desse livro, ou talvez não tenha gostado da narrativa da autora, por isso tenha me decepcionado. Nada contra literaturas infanto-juvenis, pelo contrário, adoro, já li várias, e também adoro ver filmes e seriados nesse estilo, porque lembro de mim adolescente e me identifico bastante com todas essas histórias de teenager drama, mas esse livro infelizmente não me impressinou e nem me prendeu.
Acho que o único ponto favorável que o livro teve, foi o fato de nos fazer pensar sobre os "conselhos de amiga". Têm muitas pessoas que por medo e insegurança de viverem suas vidas, acabam vivendo conforme o que os outros dizem ou acham, por ser algo mais fácil e confortável de se lidar. Acontece que os outros não estão vivendo na nossa pele, e não têm condições de saber o que realmente é melhor pra nós. Aquela velha história, se conselho fosse bom, seria vendido e não dado. Temos que aprender a viver de acordo com os nossos sentimentos e crenças e deixarmos um pouco de lado a opinião dos outros, só assim seremos livres para errar e acertar, e para vivermos a nossa vida. Só assim não nos arrependeremos das escolhas que fizemos por causa de conselhos dados por outros. E acho que essa é uma das lições que Ruby aprende no final do livro.
P.S. Depois que termino de fazer minha resenha tenho o costume de ir no google pesquisar sobre a opinião de outras pessoas sobre o mesmo livro/filme/seriado, ver o ponto de vista delas, ver se não me esqueci de comentar algo relevante/importante. Duas coisas me chamaram atenção sobre as resenhas desse livro: Primeiro, cada resenha que li abordou um foco específico sobre o livro. Por ex., eu falei mais sobre os "conselhos de amiga", a necessidade de vivermos a vida sem depender de ninguém, outras pessoas abordaram o tema divórcio, outras a relação de pais e filhos, outras sobre o crescimento pessoal, etc. Vendo isso, percebi como cada resenha, vistas de forma individual, são pobres por não conseguirem analisar a obra como um todo e de maneira profunda. E somente lidas em conjunto é que se pode realmente ter uma boa análise do livro.
Em segundo lugar, 95% das resenhas brasileiras que li compactuam com a minha opinião, dizendo que a obra realmente foi fraca, sem graça, que poderia ter desenvolvido melhor a história e os personagens. Então resolvi procurar por resenhas estrangeiras e fiquei totalmente surpresa quando vi que 100% delas amamaram o livro, dizendo que ele era hipnotizante, divertido, emocionante. Fiquei muito confusa tentando entender o porque da diferença de opinições. Me fez pensar muito e acho que a ficha finalmente caiu. Talvez o alvo das nossas críticas, decepção e desgosto não tenha sido o livro em si, a narrativa da autora e sim, a tradução. É a única explicação que tenho para essa divergência de opiniões entre nós brasileiras e as meninas lá de fora. Talvez a tradutora tenha sido infeliz ao pegar um texto bem escrito, divertido e ter transformado-o num texto formal e chato. Acredito que deva ser muito difícil traduzir um livro escrito em uma outra língua, de uma outra cultura, para a nossa. Mas creio eu que em muitos casos, infelizmente, ao invés de livros serem traduzidos, eles são adaptados e uma nova história é escrita. Agora fiquei muito curiosa. Adoraria saber a opinião de vcs, principalmente de quem teve a oportunidade de ler o livro original escrito em inglês.
Resenha publicada no Blog Cantinho Ju Oliveira
http://juoliveira.com/cantinho/conselho-de-amiga-2/