Maria4043 21/03/2024
Desabafo
Usarei essa resenha como um desabafo. E esse livro, como uma terapia.
Me enxerguei muito na Ana. Não em sua sagacidade de vingança, mas sim, em seus medos, ansiedades, vazios. Nós colocamos o abuso em uma caixinha, onde junto a ele, estão coisas como agressão, estupro; violência a olho nu. Porém, podemos sim estar em um relacionamento abusivo, que contém flores com palavras amargas. Onde há ameaças veladas, e manipulações lançadas como algum tipo de preocupação deturpada.
"As pessoas pensam assim. Que a dor da mulher só vale quando ela é violentada, espancada ou morta. É o tanto de hematomas que uma mulher ostenta, as lágrimas que ela derrama e o sangue que ela verte no chão que determinam se é uma vítima ou não. Isso, claro, se ela não tiver dado motivo."
Eu me sinto Ana.
O meu rancor velado, se mostra, quando possuo o medo de me relacionar.
Se mostra, quando tenho receio de sexo.
Se mostra, quando lembro, que já me senti a pior pessoa do mundo por falas de alguém hipócrita.
Esse rancor está aqui. E tudo bem. A Ana me mostrou que tudo bem. Ela me mostrou que não precisamos guardar esse rancor que corrói por dentro, e só faz mal a quem ficou com os traumas. Podemos extravasar tal rancor. Seremos mulheres rancorosas!
Nós somos mulheres e não mães.
Somos mulheres e não propriedades.
Somos mulheres e não apenas sexo.
Somos mulheres sem o dedo podre, porque é a safra que já está toda estragada.
"A psicanálise foi construída nessa ideia. A de que somos incompletas, que desde cedo nós percebemos que fomos castradas e assumimos esse papel de metade. Mas é o contrário. Os homens é que desde muito cedo perceberam que a humanidade não existe sem nós, então fizeram de tudo para arrancar nosso poder e nos convencer de que não podemos viver sem eles."