Beus 27/04/2024
Vingança é loucura?
"Se parece que estou obcecada com esse homem e com o mal que ele me causou é porque estou mesmo. E não posso perdoar. "
Raríssimas vezes me senti horrorizada lendo. Esse livro fez com que eu me sentisse espantada em, quase, todas as páginas. Enquanto lia, me questionava como foi fácil para ela romper o limite da vingança e porque, com o passar dos parágrafos, aquilo foi se tornando compreensível pra mim.
Eu, rancorosa assumida de carteirinha, não sei se teria a coragem para realizar os meus desejos vingatícios. Então, no fim, Ana também foi para mim uma heroína.
Fazendo um paralelo, se você conseguiu assistir a saga de filmes 'doce vingança ' e misturar sentimentos de repúdio com 'bem feito, merecia mais', esse livro é pra você.
No início, a escrita ácida que me lembrava a da Tati Bernardi, me trouxe o interesse de ler a autora... mas eu nem desconfiava que a Tati apenas vagueia no abismo onde a Bruna Maia faz morada e entende bem.
É dor, rancor, repúdio, traumas e ... esperança. Sim, esperança. Que cresce absurdamente tímida nos 45 do segundo tempo.
Não vou negar que finalizo a leitura do mesmo modo que iniciei: PRA QUÊ tudo isso? Não seria "mais fácil " procurar um psicólogo/psiquiatra e aderir fielmente ao tratamento?
Mas termino, também, com meus julgamentos zerados sobre a Ana. Ana é boa gente, traumatizada como nós, tentando sobreviver em uma vida que não pediu. Ela teve seus motivos. Todos nós temos. No final das contas, me senti vingada. Assisti alguém concretizar absurdos que todos nós já pensamos em nossos enlaces de ódio.
No final, fiquei feliz por ela e por seu rancor, polido e brilhante, na prateleira do meio, na sala, exposto como troféu, mas também como aviso: aqui a vingança não é um prato que se come frio, é um prato que se come em brasa.