Liriel 09/02/2023
Rancor exposto e polido
Faz um dia que terminei esse livro e ainda não sei bem o que escrever numa resenha...
Se tivesse que definir ele em uma palavra, seria expurgo. Esse livro é um expurgo, como a própria Ana diz.
Ana veio para mim como uma metáfora de um inconsciente coletivo feminino e seus desejos mais sombrios por uma vingança que não vem de um lugar qualquer. Vem de viver em um mundo na qual sofremos todos os tipos de abuso possível, e ainda precisamos nos manter caladas, passivas e ver nossos agressores decidirem nossa realidade por nós.
E a vingança de Ana, por mais absurda e desconfortável que seja, não chega nem perto de tudo que um mundo de mulheres já passou por aí a fora. Na verdade, se fossemos utilizar cálculos para comparar, não alcançaria nem 1%.
Mas a Bruna não parece trazer essa situação como forma de incentivar uma vingança do tipo. Esse livro, para mim, é uma tentativa de dar forma ao rancor de uma mulher ferida e invadida, que teve sua autoestima cortada em pedacinhos, e não só por Matheus. Ele só teve o desprazer de ser o último e o mais marcante dos agressores e idiotas que passaram pela vida dela.
Ana não tenta ser um exemplo. Ela não foi escrita para ser um exemplo. Ela só quer se vingar e seguir em frente. E a vingança dela é forte, revira o estômago e é desconfortável em vários níveis. Mas também foi assim que Ana se sentiu convivendo com Matheus por um tempo. E o livro não defende a si mesmo; você é livre se quiser fechar e parar de ler.
Mas Ana vai ter a vingança dela independente disso.
E aqui está a prova de que mulheres não são loucas por quererem devolver na mesma moeda o que sofreram. A busca da Ana por libertação tem mais sanidade e método do que muitos podem pensar, e eu adoro a Bruna por isso.