Aione 13/03/2018Sob Águas Escuras é o terceiro livro da série Detetive Erika Foster, de Robert Bryndza, que será publicado no Brasil pela editora Gutenberg no início de Abril. Nos EUA, a série já chegou ao sexto volume, que também será lançado no próximo mês.
Após mudar de departamento, Erika Foster está trabalhando em um caso da narcóticos, o que a levou a vasculhar o lago de uma pedreira em busca de uma pista. Além de encontrar 4 milhões de libras em heroína, os mergulhadores se deparam com outro pacote: o esqueleto de uma criança, que, após trabalho forense, revela-se pertencer a Jessica Collins, desaparecida há 26 anos. É quando Erika decide assumir a investigação; para isso, precisará se aprofundar na vida dos Collins e nas descobertas de Amanda Baker, detetive original do caso, cuja vida foi completamente impactada pela ausência de resolução.
A característica que primeiro chama a atenção nos livros de Robert Bryndza é a agilidade da leitura. A narrativa em terceira pessoa flui facilmente, permitindo ao leitor se envolver e compreender as circunstâncias sem grandes dificuldades — a escrita do autor é bastante clara. Ainda, Bryndza proporciona uma boa mescla entre delineação de personagens, abordagem do caso e descrições de contextos e cenários, o que faz com que nada no livro seja nem muito aprofundado nem carente de informações. Importante dizer que Sob Águas Escuras traz um enfoque menor em Erika Foster do que nos outros livros, já que a personagem e seus traumas já nos foram apresentados. Aqui, eles são citados mais superficialmente, fazendo com que a atenção maior da obra esteja realmente no caso investigado.
Em Sob Águas Escuras, o autor conquista o leitor sobretudo pelo caso em si ser interessante; afinal, estamos falando de uma investigação não solucionada e de circunstâncias bastante vagas. Além de ter ficado presa ao mistério até o fim, sentindo minha curiosidade aguçada a cada página, me surpreendi com a resolução por não ter sido capaz de solucioná-la. Outro ponto que muito me agradou foi a maneira de como Robert Bryndza tocou em questões importantes — como as desigualdades entre etnias e gêneros (tema presente desde o primeiro livro, se considerarmos que a protagonista é mulher e policial, função predominantemente exercida por homens), além de homofobia e outros — de maneira muito natural. Nenhum dos assuntos surge de forma a parecer fora de contexto ou destacados dos demais; ao contrário, estão simplesmente presentes, assim como na vida fora das páginas, e a função do autor é só a de chamar a atenção para eles. Também, nenhum deles rouba a posição de destaque no livro e passa a ser central — o que não os impede de estarem presentes.
Minha única crítica a Sob Águas Escuras é a mesma feita em A Garota no Gelo e em Uma Sombra na Escuridão: ainda sinto algumas passagens, em especial os diálogos, menos amadurecidos, especialmente em momentos que demonstram uma maior complexidade das personagens. É como se essa complexidade não fosse de fato alcançada e transmitida para o leitor, embora seja descrita. Ou seja, somos capazes de entender algo como complexo, mas não realmente o sentimos. Vale lembrar que essa é mais uma observação de algo que tem potencial para ser aperfeiçoado do que a constatação de um problema. Novamente, adorei a leitura e sinto que as obras do autor podem atingir patamares ainda mais altos dentro do gênero com seu amadurecimento como escritor.
Assim como os demais livros, Sob Águas Escuras pode ser lido independentemente dos demais. Como cada volume foca em um caso e os contextos gerais das personagens nos são dados, é possível compreender a leitura mesmo se feita isoladamente. De qualquer maneira, aos que pretendem acompanhar a série, o mais indicado é lê-la em ordem.
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