kk3thess 08/06/2021
A maioria de nós quer sentir que pertence a algum lugar, a algum grupo de amigos, quer ser, de certa forma, normal. Só que esse normal é uma ilusão, pois todos somos tão diferentes, enxergamos o mundo por lentes tão particulares que é impossível estabelecer um "normal" que funcione perfeitamente pra todos. Ainda assim, a gente continua tentando alcançar esse status de normalidade num profundo e intenso desejo de se sentir parte de algo.
Connell e Marianne, os protagonistas de Pessoas Normais, nunca realmente sentiram isso até se permitirem conhecer um ao outro. Juntos, eles conseguem sentirem essa tal desejada normalidade, mas não por completo, pois sempre há algo impedindo a plenitude do sentimento de se sentir normal. Esse algo que falta é que, apesar de eles se permitirem conhecer um ao outro, eles não permitem que o outro conheça eles mesmos, íntima e profundamente.
Sally Rooney retrata tão bem esse desejo dos personagens de se sentirem normais, a dificuldade que eles possuem de se comunicar de verdade um com o outro, o quão perdidos eles estão dentro de si (nesse aspecto, a falta de aspas, negrito, itálicos, travessões se revela mais que uma firula estética, pois realça o quão perdidos eles se sentem a ponto de memórias, pensamentos e falas se embaralharem em suas mentes), que é difícil não se envolver e se comover com o desenvolvimento e o relacionamento desses personagens.
No fim, essa busca por pertencer só revela para Connell e Marianne o clichê de que não existe um único normal e que, no fim das contas, o que eles tem um com o outro é tão extraordinário que não vale a pena se esforçar para algo tão banal quando o especial está bem na sua frente.
PS: Só não teve cinco estrelas porque senti que o desenvolvimento de Marianne foi um tanto apressado. Mas isso não significa que o livro não seja excelente.