Thaisa 11/10/2023
Se em "Coração de Tinta" conhecemos uma história focada na realidade com alguns toques de elementos mágicos, aqui a magia é constante: no primeiro livro da trilogia "Mundo de Tinta" acompanhamos Mo Folchart, um encadernador, e sua filha, Meggie, sendo sequestrados por um terrível homem de nome Capricórnio. É assim que saberemos que Mo tem um poder especial que consiste em, ao ler um livro em voz alta, ser capaz de trazer, aleatoriamente, personagens da história para o mundo real e, em troca, pessoas acabam parando dentro do livro. Foi assim que, quando Meggie era pequena, ele acabou perdendo sua esposa e trazendo vilões da obra "Coração de Tinta" para nosso mundo.
Já em "Sangue de Tinta", Meggie, que herdou o dom do pai, resolve se ler para dentro do livro afim de conhecer esse universo tão mágico... e extremamente perigoso.
Trilharemos as ruas de Ombra, veremos as apresentações dos saltimbancos, conheceremos elfos de vidro - tudo ao lado de personagens incríveis e amados, enquanto fugimos de grandes vilões que buscarão conquistar o poder de todas as formas.
Esse sempre foi o meu livro favorito da trilogia e continua sendo; no entanto, a primeira surpresa que eu tive foi não favoritar essa obra, pois o final apressado tirou um pouco do impacto de todas as reviravoltas que acontecem. Ainda assim, que leitura maravilhosa e, principalmente, necessária: se nas vezes anteriores que li "Sangue de Tinta" me encantei com esse mundo, dessa vez eu entendi os seus horrores... Há temas extremamente pertinentes como a forma com que os mais poderosos tratam o povo, as minorias, os pobres, as mulheres, tornando esta uma fantasia que vai bem além, trazendo dezenas de reflexões.
Outras temáticas fortemente representadas foram a saudade e a morte - ambas bem trabalhadas e multifacetadas, me emocionando bastante (e com frequência) durante a leitura.
A escrita de Funke continua fascinante e brilha ainda mais aqui, em um universo tão rico onde ela explora aspectos positivos e negativos da sociedade, de cada indivíduo e até do dom das palavras. A narrativa é fluida, bela e carrega uma melancolia enorme ao lidar com a figura do duplo de diversas formas ao longo do enredo.
Li e reli esse livro muitas vezes ao longo da vida, me apaixonando, cada vez mais, por "Sangue de Tinta"; agora, adulta, com mais bagagem de vida, essa paixão continua fortíssima, não por causa da magia fantasiosa, mas pela realidade que, hoje, conversa diretamente comigo.
Não é a toa que tenho uma tatuagem vinda de uma ilustração encontrada nessas páginas, representando meu amor pelo duplo, pela literatura e por essa história tão importante na minha vida: o "Mundo de Tinta" sempre esteve lá por mim quando eu mais precisei - e posso dizer, com o coração aberto e cheio de felicidade, que ainda está.
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