"Ana Paula"
16/11/2021Tenho esse livro a muito tempo na minha estante, foi indicação de uma amiga blogueira. Comprei achando que o leria logo, o que obviamente, não aconteceu. Acabou que a curiosidade me assolou depois de assistir aos filmes "A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou meus Pais", lançamentos desse ano pela Amazon Prime. Nessa resenha, falo somente do caso Richthofen, pois ainda não li o caso Nardoni. Quando o fizer, venho aqui contar para vcs em outra resenha, ok?
Quando os assassinatos ocorreram, eu tinha 17 anos. Acompanhei parcialmente o que acontecia pela TV, o que não foi muito. Após assistir aos filmes e ler o livro, o que eu sabia não era nada comparado as informações que encontrei neles.
Acredito que todos tenham visto a entrevista que Suzane deu para o Fantástico onde foi pego pelo microfone o advogado orientando-a a mentir. E a entrevista para o Gugu? Quem lembra? A menininha frágil, com roupinha de criança, chorando e jogando a culpa no namorado.... Pois é. Neste livro, vemos claramente a pessoa fria que Suzane é. Eu fiquei realmente assustada.
Não estou tirando a culpa das costas de Daniel e Cristian, ambos sabem o que fizeram e o porque de terem feito.
"Enquanto os bastões desciam ininterruptamente, sangue e pedaços de massa encefálica se espalhavam pela cabeceira da cama a cada osso esfacelado, a cada corte aberto. Respingos vermelhos manchavam o teto sempre que a arma era novamente erguida. O som das pancadas preenchia o enorme silêncio que envolvia a casa naquele momento."
Ilana amarra todos os acontecimentos, desde o princípio. O livro trás fotos da reconstituição, cópia dos laudos do IML, cópia Integra da Denúncia, cópia dos depoimentos, transcrição dos debates no tribunal do júri e cópias dos cadernos onde Ilana fazia suas anotações.
A escrita da autora é maravilhosa, pareceu-me que eu estava lendo um thriller policial, me senti prendida do começo ao fim. Fiquei um pouco desatenta quando começaram os debates, pois as transcrições não foram editadas, o que deixa essa parte bem enfadonha para se ler.
"Para o psiquiatra, se esse fosse o caso, a assassina teria personalidade deturpada, do tipo "condutopata", e a motivação seria financeira. Demoraria bastante para contar o que de fato ocorrera, pois esse tipo de criminoso não abre a boca fácil, mas, uma vez que começasse, contaria tudo em detalhes. Esse tipo de personalidade tem como características distanciar-se da realidade, saber manipular as pessoas ao redor e ser desprovida de emoção."
O trabalho da polícia em geral foi incrível. Claro que só de olhar, já desconfiariam da filha do casal por sua frieza, mas o trabalho todo implantado, a denúncia, os depoimentos, a confissão dos réus, tudo o que a polícia fez foi impecável. Quem dera fosse sempre assim, não é mesmo?
Ilana este por dentro de tudo o que ocorria, descreveu com profundidade e conhecimento cada passo dado pela polícia. Esteve na reconstituição do crime, participou dos depoimentos, esteve presente nos dias do julgamento e no tribunal. Ela nos trás tudo o que conseguiu reunir, faz um apanhado de documentos se transformar em um livro cheio de respostas que a maioria do povo não sabia.
"Era a primeira vez que eu estava cara a cara com uma pessoa que havia matado alguém. Meus sentimentos eram, no mínimo, estranhos. Ver os assassinos na telinha é uma coisa rápida, distante. Assim fica fácil ter raiva, achar que ele é diferente, não é humano. Ali, naquela sala, Cristian era um rapaz normal, desses que a gente encontra milhares de vezes por dia, por aí. Nada na sua aparência indicava que ele era um assassino."
Eu gostei muito da leitura. Indico demais para quem quer saber mais sobre o caso e para quem ainda não conhece o trabalho da autora. Vale muito a pena investir nesse livro também. A edição está linda, trás muita informação e documentos que, como pessoas comuns, não temos acesso livremente.