Gabriela Cravo e Canela

Gabriela Cravo e Canela Jorge Amado




Resenhas - Gabriela Cravo e Canela


494 encontrados | exibindo 61 a 76
5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 |


Lipe 24/01/2020

Jorge Amado, poeta do povo brasileiro
Jorge Amado é cirúrgico, certeiro, poético e inigualável ao nos representar em suas obras literárias, que têm simplicidade narrativa, sensualidade e exotismo misturados a temas de cunho político e moral com temas agudamente atuais, como machismo, autoritarismo político e hipocrisia moral. Como bem apontou o crítico Álvaro Cardoso Gomes sobre Jorge Amado, "(...) preocupação de dar amostra do real sensível, entrevisto sob a perspectiva da luta de classes, mas sempre atenuando o clima de opressão com uma pitada de lirismo. É esse lirismo que equilibra o clima de opressão, principalmente nos autores onde se verifica, de maneira declarada, uma tomada de posição em prol dos desfavorecidos." Suas obras, como em Gabriela Cravo e Canela, nos permite refletir sobre as condições de exploração de autoridades políticas e das mazelas do machismo estruturante.
comentários(0)comente



cass.luce 26/07/2023

Uma flor que morre em jarro
Peguei pra ler o livro tendo uma noção bem deturpada. Lembro de minha mãe, influenciada por minha avó, falando o quão descarada era Gabriela. Que era mau exemplo e tudo mais, de modo que eu nunca tive a oportunidade de conhecer a história, mesmo que superficialmente.
Ano passado tive meu primeiro contato com o autor e eu simplesmente me apaixonei, então tomei coragem e fui atrás de Gabriela. A escrita é maravilhosa, a trama política conseguiu me prender e o rumo da história me satisfez. Como descrito no livro por João Fulgêncio, Gabriela é como o amor, algo que não pode ser limitado. Não acredito que o jeito dela venha por malícia, mas por algo natural, moça simples com pensamento prático, ela não é inocente, muito menos santa, mas definitivamente não é a maldade. Tenho dó por Nacib, por ele não conseguir compreendê-la e querer transformá-la em algo que a fazia definhar.
comentários(0)comente



Eduardo 27/01/2019

Gabriela: adjetivo, verbo, substantivo, advérbio (de modo, principalmente)
É gabriela ou Gabriela? Já não dá para saber se Gabriela é substantivo ou adjetivo. E muito provavelmente também é verbo. Sendo uma pessoa, talvez não seja uma, seja muitas. Há incontáveis Marias e Joões por toda a parte que, no fundo, são gabrielas.
Ilhéus dos anos 20 é um retrato fiel de uma sociedade que teimava em não avançar; não por falta de influência, mas por excesso de barragem. Em uma sociedade ainda controlada por uma forte influência coronelista, vivendo uma realidade política tensa, sob sombras recentes do poder conquistado através da força, da corrupção e da morte, qualquer sinal de avanço se torna ameaça. O sinal de avanço, nesse caso, é Mundinho Falcão, grande idealista econômico e, durante a época em que a história se passa, iniciador de avanços políticos e sociais, candidato a enfrentar a arcaica política da cidade nas próximas eleições, esta representada pelo conservador coronel Ramiro Bastos. Por mais que o setor econômico de Ilhéus estivesse em constante avanço (principalmente devido ao cultivo do cacau), o mesmo não ocorria na área social, educacional e política. O desafio de enfrentar uma política suja, alicerçada sobre o voto de cabresto e alianças perigosas, exigiria certo esforço de Mundinho, mas o sujeito não estava sozinho.
Quando nos damos conta de que o debate político ocupa a maior parte da narrativa, pensamos "por que Gabriela no título?". É tão complicado dar uma resposta à essa simples questão porque, ao mesmo tempo em que Gabriela é causa, também ela é consequência. O cenário político não é pano de fundo, é parte da nova pintura de Ilhéus, desenhada por Gabriela, mas retocada por todos os outros personagens secundários. Não há como retocar algo que ainda não tem corpo. Explico mais adiante, se conseguir, porque não é uma tarefa fácil.
Não há sombra de Gabriela por um grande pedaço inicial da obra. É que até esse ponto Jorge Amado prepara o terreno.
O árabe Nacib, dono de um famoso bar da cidade, vê-se abandonado por sua cozinheira e em meio à necessidade de contratar uma nova. Retirantes se reúnem no mercado de "escravos" para que possam ser avaliados e, então, contratados. É de lá que Nacib traz Gabriela, ainda suja e maltratada pela longa caminhada, pelo calor e pela miséria. A nova cozinheira será então responsável pela preparação das comidas para o bar e pelas tarefas domésticas na casa de seu patrão. É a partir desse momento que Nacib descobre-se apaixonado pela linda moça, tão jeitosa e ingênua. Mas sua beleza e ingenuidade não despertam a atenção apenas do árabe; grande parte dos homens da cidade começa a desejá-la, a cortejá-la, sejam eles solteiros ou casados, afinal de contas, a honra deve ser respeitada apenas pelas mulheres, fato esse corroborado pela acomodável aceitação pública diante do assassinato de Sinhazinha e Osmundo pelo coronel Jesuíno Mendonça, que flagra sua esposa e o dentista na cama e justifica suas mortes como lavagem de honra, justificativa essa aceita inclusive pelas autoridades judiciais da cidade. Aliás, sendo essa uma das primeiras cenas do livro, serve de marco para a transformação que Gabriela trará à cidade.
Começam a partir de então os desenvolvimentos de diversas histórias paralelas, que ora se cruzam, ora não, algumas têm relação direta com Gabriela, outras nem tanto, mas sempre acabam pegando carona na onda de mudança que se abate timidamente sobre Ilhéus. Então conhecemos um pouco mais sobre os embates e todas as falcatruas envolvidas na política da cidade e de suas vizinhas. Acompanhamos também as alianças e impasses de Mundinho Falcão para conseguir construir a barra no porto de Ilhéus, que traria ainda mais progresso para a economia local, mas que, acima de tudo, alavancaria sua carreira política. Conhecemos também Malvina, filha do coronel Melk Tavares, que começa a se relacionar com um dos engenheiros de Mundinho e desperta a fúria do pai, mais um dos típicos defensores da honra familiar, desde que ela seja apenas respeitada por sua esposa e sua filha. Há ainda mais uma dezena de personagens, cada qual com suas histórias, suas tradições, suas desconfianças, seus segredos, e todos eles moldam o cotidiano da cidade, que é narrado de forma primorosa por Jorge Amado. Não há como não se deitar na rede com Nacib, não há como não estar nas pedras com Malvina, não há como não dançar descalço na rua com Gabriela...
Tanta gente, tanta história, tanto sangue e tanta glória, tantos mundos que não cruzam o mundo de Gabriela... Então por que Gabriela? Porque Gabriela é sinônimo para progresso, acima de tudo progresso social. Mas, quando há progresso social, todo o resto é consequência. Gabriela é influência, é a personificação de uma nova Ilhéus. Sua ingenuidade, sua leveza e sua sensibilidade exalam como perfume, e perfume de cravo. Não à toa, na linguagem das flores, o cravo pode ser desprezo, amor eterno, encantamento, não esquecer, amar sem que o outro perceba, coração partido e amor eterno. E tudo isso é Gabriela. Por que ela precisa ser o que os outros querem que ela seja? Por que ela não pode ser um cravo hoje, outro amanhã? Por que ser sujeitada a um homem, e não dona de suas próprias escolhas? Por que casada, se é feliz solteira? Por que sapatos, se gosta de andar descalça? Ela mostra, em sua humilde simplicidade e maneira de ver o mundo, que ninguém nasceu fadado a rótulos, que não precisa seguir preceitos e cerimônias, e acha isso tão simples que é incapaz de compreender como pode existir um mundo em que as pessoas se escondem atrás dos não-podes, disputando quem é mais feliz não podendo a maior quantidade de coisas possíveis.
Jorge Amado criou um livro atemporal, uma obra que atravessa gerações, cuja visão se perpetuará, e cuja protagonista merece todas as classes gramaticais possíveis para si. Malvina, ao enfrentar a fúria do pai em nome de sua felicidade e de seu direito de escolha, é Gabriela. Glória gabrielamente peita a cidade, fonte de tantas fofocas que a atingem. Nacib, em dado momento, se gabriela com seus próprios pensamentos e forma de ver as relações sociais. Mundinho Falcão começa a gabrielar uma nova política, uma nova forma de conduzir problemas econômicos e sociais em Ilhés.
Acho que posso me permitir adaptar um pouquinho de Chimamanda Ngozi Adichie para finalizar essa resenha, porque achei completamente adequado, afinal de contas, sejamos todos gabrielas, por que não?
Jean Milhomem 27/01/2019minha estante
Ótima resenha, com certeza tenho que ler este livro.


Eduardo 27/01/2019minha estante
Valeu, Jean! Muito obrigado :) Leia sim! É uma obra maravilhosa!


Aline 28/01/2019minha estante
Eu adorei Gabriela. Junto com Tocaia Grande, é o meu favorito de Jorge Amado. Nasci na zona do cacau que Jorge retratou tão bem nas obras dele.


Eduardo 28/01/2019minha estante
Que legal, Aline :D Quanto aos livros dele, li somente Gabriela e A morte e a morte de Quincas Berro d'água. Não vejo muita gente falando de Tocaia Grande, mas já adicionei à minha wishlist haha. Obrigado ;)


Aline 30/01/2019minha estante
Li Tocaia Grande no colégio para o vestibular. Por aqui os livros dele sempre caem no vestibular. Graças a isso, li vários livros na adolescência. Tocaia Grande é como se fosse o nosso Cem anos de solidão.


Eduardo 30/01/2019minha estante
Aqui ele costuma cair também, mas geralmente os mais conhecidos acabam sendo Gabriela, Dona Flor, Capitães da Areia, Tieta, Quincas e Tereza Batista. Vou dar certa prioridade então a Tocaia Grande nas minhas próximas leituras haha :D


Aline 31/01/2019minha estante
Brigada pela confiança. Tocaia Grande se passa num ponto de tropeiros (onde fizeram uma tocaia) entre as cidades de itabuna e ilhéus. E adivinha onde ficava minha faculdade? Entre as cidades de itabuna e ilhéus. Rss


Eduardo 01/02/2019minha estante
Num universo paralelo, você era uma tropeira universitária kkk


Cílio Lindemberg 03/02/2019minha estante
Gostei da resenha! É de convidar a gente pra ler. Parabéns!!! :)


Eduardo 03/02/2019minha estante
Valeu, Cílio! Muito obrigadinho :) Se for ler, depois me diga o que achou haha


Cílio Lindemberg 03/02/2019minha estante
Magina. :) Pode deixar. ^^


Angelica75 16/12/2019minha estante
Ótima resenha! Preciso ler Gabriela :)


Eduardo 16/12/2019minha estante
Obrigado, Angélica :) Leia sim! Acho esse livro uma joia!




Leticia 29/07/2021

Jorge Amado nunca decepciona!
Terceiro romance do autor que leio, como sempre, um deleite.
Me encanta a forma como ele consegue retratar o Brasil, do sublime ao bestial de nossa história. Amado explora temáticas como o coronelismo,as coerções da mulher dentro do matrimônio, o falso moralismo de uma sociedade hipócrita e a liberdade sexual da mulher.
Meu único porém com a história é a forma como Gabriela é representada. Gabriela é sexualizada ao extremo, e ao mesmo tempo é infantilizada.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Arthur 15/05/2021

O livro não é sobre a Gabriela
Não é sobre Gabriela e isso não é algo ruim, o principal plot do livro são as mudanças que aconteceram em Ilhéus devido ao desenvolvimento da cidade. Eu gosto da vibe de cidade pequena em que todos se conhecem. Comecei o livro gostando muito do Nacib mas depois que ele se casou com a Gabriela e começou a tentar transformar ela passei a gostar cada vez menos dele, até chegar mais perto do fim em que ele fez algo que me fez odiar, já a Gabriela eu achei ela extremamente ingênua mas eu gostei de como ela resistiu as imposições do Nacib, algo que achei que ela não faria. Minha personagem favorita do livro foi a Malvina, ela enfrentando o pai porque queria estudar ao invés de se casar. Na rivalidade entre Mundinho e o Coronel Ramiro, eu torcia pro Mundinho mas eu gostava bem mais das cenas que o Coronel aparecia, um velhinho que não conseguia fazer muita coisa, que ficava revoltado com a mudança de comportamento das pessoas, e que apesar dele ter ideias retrógradas e inaceitáveis, o livro não tratou ele como um vilão. Já o Mundinho achei ele meio chato.
Ricardo 16/01/2022minha estante
O que achei mais legal sobre o Mundinho foi o motivo dele ter ido pra Ilhéus, que na verdade era por amor ao irmão dele que decidiu desistir do amor, mas nunca deixou isso claro pros irmãos.




Flávio 07/12/2020

Eu nasci assim, eu cresci assim...
Instigante; quanto mais leio, mais eu quero ler.

Uma história que são muitas e cada recorte mais importante que o outro criando uma teia, uma rede que se encontra e desencontra de modo mais que organizado e programado.
Jorge, detalhista e ao mesmo tempo focando no que importa pra não perder-se entre tamanha imaginação. Ele cria uma Ilhéus real, tão real quanto a própria invenção.
Cheio de personagens que já nascem clássicos e que pode passar anos e anos, você sempre irá conseguir ver pedaços de suas personalidades em pessoas ao redor.

Nos debruçamos sobre as histórias e vamos tomando partido, criando laços, fazendo amigos/inimigos, criando aventuras inexistentes a partir daquele universo real como o agora.
Mexendo profundamente com a emoção: vamos de 8 a 80 rapidamente. Temos uma sensação crescente de curiosidade e angústia que se retroalimentam e continuam nesse ciclo sem fim, mesmo após finalizar o livro.

Não falarei de Gabriela, pois sua existência já basta.
comentários(0)comente



Juci 03/11/2009

O que mais marca na história de Gabriela é: Porque as pessoas não se dão conta da necessidade da pureza da alma? A vida é tão simples e frágil e rápida, mas as pessoas se impõe regras que as dificultam viver.
Gabriela é a prova de que ainda há esperança da inocência.
comentários(0)comente



Zileide.Brito 11/07/2022

Clássico
Foi uma leitura rápida e envolvente. Um orgulho para a literatura brasileira de fato. Tratando de alguns temas que que deveriam se tornar mais fáceis a medida que o tempo passa, mas não; a liberdade que Gabriela exala, a alegria, a beleza, a simplicidade, o desprendimento. Tudo o que gera a cobiça e obsessão humana e a necessidade de arrancar a flor para levá-la consigo. Mesmo sabendo que aquilo vai matá-la.
comentários(0)comente



Déborah 18/08/2023

Gabriela, feita de Cravo e de Canela.
Dos livros de Jorge Amado, Gabriela, Cravo e Canela era um dos livros que eu mais tinha curiosidade de conhecer. O contato que tive com o autor foi tão somente com Capitães da Areia, que eu gostei muito, e desde então me surgiu a vontade de ler As Mulheres de Jorge Amado.

E não estou nada surpresa por descobrir que ele é tudo o que dizem: genial.
Com uma narrativa simples, sem floreios, uma escrita gostosa de acompanhar, somos apresentados a um universo ímpar: Ilhéus e seus moradores. Fofocas, conflitos, uma novelinha gostosa de acompanhar.

Certamente sentirei falta de Nacib, Mundinho Falcão, Gabriela, Josué, Glória e os coronéis. E de todos os personagens citados através da BRILHANTE escrita de Jorge Amado.
comentários(0)comente



Vinicius 27/12/2022

Fazem mais de sessenta anos que essa obra foi publicada e ela continua infernalmente atual. A Ilhéus de Jorge Amado é um retrato do Centro-Oeste brasileiro, mas também existe muito de São Paulo, "terra desenvolvida", na historia através de Gloria, uma personagem que, em uma leitura moderna, é uma sugar baby poli amorosa.

Falando nas personagens femininas, eu acho que me divertiria muito mais se fosse uma feminista de twitter. As cabeças delas devem explodir indo de Dona Sinhazinha para Malvina, de Gloria a Gabriela sendo espancada.

Fora que a ambiguidade do texto é ótima. Na maior parte do tempo o autor defende que a felicidade de Ilhéus depende do progresso, que o tempo dos coronéis se foi e acabou ao mesmo tempo que (e isso foi algo que me custou a perceber) trabalha com uma protagonista que é uma metáfora para Ilhéus e defende que a felicidade dela depende da manutenção do status quo, tanto Gabriela quanto a região cacaueira são flores que não crescem em jarros, ela não pode ser feliz enquanto Senhora Saad.
comentários(0)comente



Danilo Parente 28/03/2021

Essa é mais uma obra de Jorge Amado que me apaixonei desde a primeira página.

Em Gabriela, vamos acompanhando as histórias de pessoas que vivem numa Ilhéus do progresso - progresso graças à plantação de cacau - que vem atraindo muitas pessoas para a cidade em busca de uma vida melhor.
Entre essas pessoas temos Gabriela, a mulata cor de canela e que cheira a cravo, a qual veio do sertão em busca de oportunidade na cidade do progresso.

Embora o título do livro leve a entender que Gabriela é a protagonista, isso é um engano, pois no livro não temos um protagonista. Jorge Amado aborda diversos personagens de forma bem profunda e dando espaço para cada um deles na narrativa.

Além desses diversos personagens, são tratados diversos temas como a lei para mulher que trai o marido, a decadência do coronelismo, o contraste entre os costumes antigos da sociedade e os novos costumes e o feminismo, que embora não seja esse feminismo sofisticado que existe hoje, foi uma grande revolução para a época em que foi escrito o romance.

História excelente, personagens marcantes, leitura fluída e mais uma obra sensacional do maravilhoso Jorge Amado.
comentários(0)comente



Yuri410 30/06/2020

O cheiro de cravo, a cor de canela
Publicado em 1958, "Gabriela, Cravo e Canela" é um dos romances mais célebres de Jorge Amado. A obra representa um ponto de virada na produção literária do autor, que até então abordava questões de cunho social, sendo o romance "Capitães da Areia" o mais renomado desse período. No que vem a ser a sua segunda fase literária, Amado produz variadas crônicas de costumes, definida por um universo povoado por jagunços, coronéis, prostitutas, trambiqueiros, beatas mexeriqueiras e mulheres comuns porém exuberantes, todos eles localizados em territórios da Bahia, cuja cultura, costumes e culinária também são descritos para o deleite dos leitores.

Aqui, o cenário é uma Ilhéus dos anos 20 em polvorosa com o progressismo caracterizado por uma vida litorâneo-urbana embrionária (mas não menos agitada) e sustentada pelas mundialmente famosas roças de cacau que movem, cheias de vapor, a economia local. Porém, esse ar progressista cai por terra através de uma lei que, com vigor, ainda impera no local. A trama começa com a descoberta de um caso extraconjugal. O noivo traído, o coronel Jesuíno Mendonça, toma imediatamente a única atitude socialmente esperada de um homem de sua posição: fuzila a esposa e o amante. A partir desse trágico acontecimento, o leitor passa a conhecer (e até a se familiarizar) com tipos carismáticos e singulares, como o turco Nacib, dono do frequentado bar Vesúvio, o tradicional coronel Ramiro Bastos e seu filho, o mulherengo Tonico Bastos, e o progressista Mundinho Falcão.

A sertaneja Gabriela, personagem-título, só aparece no final da segunda parte. Chegando a Ilhéus, a moça chama a atenção de Nacib, que a contrata como cozinheira em seu bar. Assim, sua incomparável beleza e seus dotes culinários chamam a atenção dos frequentadores do bar, cujo número de fregueses aumenta, e do próprio Nacib, com quem Gabriela vive um tórrido romance. Com seu ingênuo carisma, a moça também não passa despercebida pelos habitantes ilheenses. Desse modo, a presença agradável de Gabriela perfuma, encanta e vivifica não apenas a vida dos cidadãos de Ilhéus, como também as páginas dessa aprazível história, fazendo com que o leitor queira dançar e cantar a existência com a donzela do aroma do cravo e da cor da canela.

Mesmo tendo deixado de dar protagonismo às temáticas sociais em suas obras, aqui Jorge Amado não deixa de as expor, inserindo-as ao cotidiano dos personagens. É o caso das tensões políticas entre o conservadorismo e o progresso, do declínio do coronelismo, do machismo que oprime as filhas dos coronéis (perfeitamente delineado através da inconformada Malvina Tavares, que enfrenta o pai Melk Tavares em prol do sonho de estudar numa universidade, trabalhar e viver no sul do país - por sul na obra entenda-se a região Sudeste do país englobada - e, assim, ser dona do próprio destino e da própria vida) e do matrimônio como instituição social inalienável. Esse último tema é retratado através da vida de Nacib e Gabriela como casados, o que desgasta o relacionamento dos dois, uma vez que Nacib quer que Gabriela se comporte como uma dama da alta sociedade local, algo que Gabriela evidentemente não faz a mínima questão, com sua cativante e costumeira simplicidade.

"Gabriela, Cravo e Canela" foi uma dentre as várias obras de Jorge Amado (autor brasileiro mais adaptado para a TV e para o cinema) a serem adaptadas para o cinema e para a televisão através de duas versões, ambas no formato de telenovela. Tanto o filme de 1983 quanto a primeira versão feita pela Rede Globo em 1975 foram protagonizados por Sônia Braga, que teve a carreira catapultada pela personagem. A produção global tornou-se um fenômeno de audiência, sendo considerada como um dos maiores clássicos da emissora. Um remake, com autoria de Walcyr Carrasco e protagonizado por Juliana Paes, foi feito pela mesma emissora no ano de 2012, com expressivo sucesso junto ao público. Uma das músicas mais memoráveis na voz de Gal Costa chama-se "Modinha para Gabriela". Com essas informações, já dá para mensurar a relevância e o legado que a manceba com a fragrância do cravo e a tez de canela conquistou na literatura, na cultura e no imaginário nacional.
comentários(0)comente



Levi_Motta 03/10/2022

Ele não faz livro ruim!
Eu quando peguei o livro, acreditava fortemente que só focafia na Gabriela. Me enganei completamente. A maneira como ele desenvolve os conflitos e os personagens nele presentes é extremamente diferenciada, só o Jorge Amado é capaz de contar histórias desse jeito na minha opinião. Gabriela é uma personagem interessante, é totalmente diferente da Tereza Batista(minha favorita dele), que ele escreveria depois, mas mesmo assim ainda captou minha atenção. Bem, é mais um livro excelente de um dos meus escritores favoritos.
comentários(0)comente



Luciane.Gunji 25/10/2022

Segunda leitura de Jorge Amado, um pouco mais lenta do que Capitães da Areia, mas tão intensa quanto eu podia imaginar de Gabriela.

Eu, que nunca coloquei os pés na Bahia, sinto que mergulhar na literatura de Amado é descobrir-se um pouco baiano.

O regionalismo que se vê a cada página é apaixonante. Quero assistir à novela só para sentir que ainda não acabou.
comentários(0)comente



494 encontrados | exibindo 61 a 76
5 | 6 | 7 | 8 | 9 | 10 | 11 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR