Coisas de Mineira 24/09/2021
“Meu corpo virou poesia” é o primeiro livro de poemas de Bruna Vieira, lançado esse ano pela editora Seguinte. Formado por quatro partes (cabeça, garganta, pulmão e ventre), segundo Bruna, o livro é algo mais íntimo para ela.
Saí de um livro de poesia e fui para outro, mas ao contrário do último, que eu não estava no momento para aquelas palavras, as palavras de Bruna me pegaram em cheio. A autora fala no início de “Meu corpo virou poesia” que o livro não é um pedido de desculpas, e sim um mapa. O caminho dela para casa, com aprendizados, cicatrizes e lembranças.
É engraçado. Quando ficamos tão eufóricos com algum escritor, queremos sempre mais e mais deles. Sem pensar, muitas vezes que aquela pessoa pode não estar em um bom momento para escrever. Escrever é uma arte, mesmo com as simples resenhas que fazemos no blog, todos os dias, existem dias que temos travas e não conseguimos expressar aquilo que queremos dizer.
Bruna deu uma pausa de cinco anos na escrita, e trabalhou durante três anos com seus sentimentos e esse livro. Segundo a autora, ela entregou sua alma nessas palavras, e a escrita ajudou a cicatrizar algumas coisas e entender outras.
Em certo momento do livro, Bruna fala que escrever é um ato de rebeldia. Concordo plenamente com ela, escrever é um ato de rebeldia, coragem e liberdade. Conseguir colocar seus sentimentos em uma folha de papel, muitas vezes liberta e, lendo “Meu corpo virou poesia” entendi porque a Ana adolescente gostava tanto de escrever.
Toda a obra, pode ter sido uma forma de Bruna se conhecer melhor, de entender o que estava sentindo e muitas vezes, cicatrizar alguma ferida. E para mim, também foi assim, as situações podem não ser as mesmas, mas as palavras que ela escreveu com certeza me tocaram e me emocionaram.
Em um dos poemas, Bruna fala que “perdoar é estar pronta para se libertar”. Acho que essa foi a parte que mais mexeu comigo. Para mim, perdão é algo difícil, raro e nunca tinha pensado em ver ele como uma forma de liberdade, mas eu não consigo discordar disso. Perdoar é se libertar das amarras do passado e seguir para o futuro.
Por falar em liberdade, em cada palavra esse foi um sentimento que ficou batendo em mim. Para mim, pareceu que Bruna se libertava um pouco mais a cada palavra escrita e trazia esse sentimento para o meu coração. Essa vontade de ser livre das amarras sociais, de tantas palavras duras que sempre ouvimos dos outros.
Para mim, “Meu corpo virou poesia” também é um ato de amor, em algumas palavras conseguia sentir como o amor de Bruna, por ela mesma, ia aumentando. Muitas vezes falamos um “eu me amo” que acaba sendo mais da boca para fora, mas ao passar as páginas, é possível ver como a autodescoberta deixa palpável o amor próprio.
“Meu corpo virou poesia” é um livro profundo, que transborda sentimentos. Ele merece ser conhecido por muitas pessoas, mas como disse antes, para mim, a poesia tem o tempo certo de ser lida. Esse pode não ser o seu tempo, mas com certeza foi o meu. Tenho só que agradecer as palavras que Bruna trouxe nessas páginas e na qual trabalhou durante três anos.
Não posso deixar de falar na resenha sobre como essa edição está belíssima, entre algumas páginas podemos ver alguns desenhos muito bonitos, sem falar da capa. “Meu corpo virou poesia” com certeza é um livro muito bonito, tanto em conteúdo, quanto esteticamente. No final, temos uma breve entrevista com Bruna, onde ela fala um pouco sobre todo o processo de escrita e algumas outras coisas importantes, que me fizeram dar ainda mais atenção a vários dos poemas escritos.
Agora, para que vocês se preparem para o que vão encontrar ao passar as páginas, separei alguns quotes da história:
“Minha cabeça virou verso.
Minha garganta virou estrofe.
Meu pulmão virou métrica.
Meu ventre virou rima.”
“Essa luta não é mais sobre o fim trágico de uma história de amor,
é sobre o amor que restou dentro de você
e sobre como você respeita cada uma de suas batalhas,
principalmente as que você estava lutando sozinha.”
“Nunca cale suas necessidades
para suprir expectativas e frustrações alheias.”
“Suas cicatrizes formam um lindo mapa
que te leva para um tesouro que é só seu.”
“Seu corpo te conhece desde o dia um,
os outros te encontram no meio do caminho.”
“Será que eu realmente gostava de você ou da ideia de estar gostando de você?”
“Quando você tentou me calar
e tirou de minhas palavras,
meu corpo virou poesia.
Minhas curvas mudaram.
Hoje sou versos e estrofes,
cicatrizes e histórias,
de uma arte que você nunca
realmente conseguiu entender.”
“Ouvi dizer que amor-próprio ainda é o jeito mais corajoso de amar.”
“Perdoar, antes de qualquer coisa,
é sobre se sentir pronta para se libertar.”
“Aos poucos,
o frizz e os fios fora do lugar se tornaram minha assinatura.
O volume, a moldura perfeita
para a pintura,
uma pintura
que eu ainda não terminei de fazer,
mas que todos agora
olham atentamente.”
Bruna Vieira nasceu em Leopoldina, no interior de Minas Gerais, mas vive em São Paulo. Criou seu blog quando tinha 15 anos, por causa de uma desilusão amorosa. Em 2012, lançou um livro de crônicas e ganhou uma coluna na Revista Capricho. Conhecida pelo blog e livro “Depois dos quinze”, “Meu corpo virou poesia” é seu primeiro livro de poesias.
Por: Ana Elisa Monteiro
Site: www.coisasdemineira.com/meu-corpo-virou-poesia-bruna-vieira-resenha/