Nati 23/05/2021
Maria Altamira, meu primeiro contato com a escrita maravilhosa de Maria José Silveira, vai narrar de uma forma lírica as agruras da vida de Alelí, uma mulher que perde tudo, inclusive a si mesma, em uma catástrofe natural e depois vai como uma folha levada ao vento em uma jornada por diversos países da América Latina até pousar em Altamira.
Altamira é onde nasce Maria Altamira, filha de Alelí, que vai crescer com os conflitos em torno da construção da usina de Belo Monte sendo que esses conflitos vão influenciar diretamente sua vida e até seu destino.
OPINIÃO
Esse livro vai ter como cenário um Brasil que, admito, era completamente desconhecido para mim, trazendo as histórias de luta e dores dos povos indígenas, que continuam sendo objeto de etnocídio — palavra que aprendi nessa leitura, bem como continuam tendo sua cultura e modo de vida aviltados e desconsiderados. Mas também vai mostrar os impactos para a vida dos povos ribeirinhos e de como eles foram tão atrozmente descartados. E assim, mostra para os brasileiros como tudo que acontece na Amazônia impacta sim, na vida de todos e como os povos tradicionais são guardiões de um bem que é universal.
Entretanto, tudo isso é mostrado de forma tão contextualizada na história de Alelí e Maria Altamira, nunca escrita tão bela e tão cristalina, tão sensível às dores distintas dessas duas mulheres ligadas, mas que habitam dimensões individuais, que emprestando seus olhos para os leitores fazem senti suas dores e a dores do mundo a sua volta e mesmo assim ainda consegue fazer-se ver o belo.
É um livro maravilhoso de ler e com uma narrativa que prende e não deixa mais soltar o livro até a última página, uma história com um trabalho de pesquisa primoroso (as lendas da tribo que aparece na história são lendas realmente dos Jurunas, apenas um exemplo), enriquecendo os leitores de conhecimento a cada páginas, sem deixar de ser um romance envolvente sobre a saga dessas duas personagens. E não desmerecendo Maria Altamira, mas Alelí é uma preciosidade de personagem.
Por fim, só digo uma coisa: leiam! Vale a pena cada página.
Gatilhos: estupro, automutilação.
P.S: Obrigada Isa, do Ler antes de Morrer, por trazer mais uma preciosidade literária ao meu conhecimento.
#LeituraColetivaLerAntesdeMorrer