Nina 15/08/2018Sei que defini 2018 como o ano para sair da minha zona de conforto na leitura e me aventurar por novos estilos literários, e quem acompanha sempre o blog já percebeu que venho mesmo fazendo isso. Mas às vezes a gente sente uma saudade do confortável, né? E por isso me lancei na leitura de Aos Dezessete Anos, um romance juvenil bem no estilo que amo!
Aos dezessete anos, Angie quer entender melhor quem é e sua origem. Ela reconhece todo o esforço que sua mãe, Marilyn, fez e ainda faz para criá-la sozinha. Mas a mãe não entende. Ela não entende o que é ser uma garota negra filha de uma mãe branca e que não conhece o pai. Não entende o quanto ela sofre com o olhar das pessoas que estranham o fato de serem mãe e filha e tão diferentes e o que é enfrentar o racismo que todos fingem não ter.
A mãe lhe contou que seu pai e o irmão mais novo dele morreram em um acidente de carro antes dela nascer e Angie nunca pediu muitos detalhes porque sabe o quanto esse assunto a machuca. Ma um dia, ela encontra fotos de seu pai escondidas em uma gaveta e logo depois decobre que o tio está vivo e é um famoso diretor em Los Angeles, e Angie começa a imaginar que o pai também pode estar vivo. Assim, num rompante, ela pede uma carona para Sam, seu ex-namorado e que parece ainda sentir algo por ela, e parte em busca do pai e da história do seu passado.
Embora Marilyn não aparecesse em nenhuma foto, Angie sentiu que estava olhando para ela, através das lentes. As fotos eram a maneira como sua mãe via o mundo, e Angie se apaixonou por aquela versão dela escondida atrás da câmera.
Há pouco mais de dezessete anos atrás, Marilyn também tinha dezessete e era um jovem modelo. Ela nunca sonhou com isso, mas a mãe apostava todas as suas fichas no sucesso da filha e sonhava com o dia em que elas ficariam ricas e comprariam um belo apartamento. Mas o sonho de Marilyn era ir para a faculdade e trabalhar com fotografia. Mas como ela iria deixar a mãe para trás? Depois de tudo que viveram juntas e sabendo da fragilidade da mãe e da confiança que ela tinha nos seus sonhos de sucesso, como dizer que não queria nada disso? No entanto, no lugar do tão sonhado sucesso, as duas estão em péssima situação financeira e são obrigada a morar com um tio, mal humorado e rabugento que vive bebendo e jogando.
Tudo o que Marilyn quer é terminar logo o ensino médio e fugir para a universidade que esteja o mais longe possível desse pesadelo, mas ela encontra sua paz no apartamento de baixo. James também tem dezessete, vive com os avós e o irmãozinho Justin e é tão belo, gentil e envolvente, que ela não consegue evitar se apaixonar, mesmo que no início James tente evitar. O que Marilyn não poderia imaginar é que seu primeiro e grande amor terminaria de uma maneira trágica, deixando-a sozinha e grávida.
Marilyn olha para o rosto da filha e pela primeira vez a vê nele - a garota que deixou para trás. Pela primeira vez enxerga que, para compreender Angie, precisa compreender a si mesma. Marilyn vai ter que deixar aquela garota entrar, seu próprio eu ao dezessete anos, ainda que destroçada pela dor, afogada pela culpa; vai ter que reaprender a amar aquela garota da mesma maneira que ama sua filha, ou perderá Angie com ela.
Aos Dezessete Anos é um livro incrível! O enredo traz temas muito polêmicos como racismo, alcoolismo, gravidez na adolescência, luto, relações familiares, autoestima, mas ao mesmo é leve e até divertido. Não que a autora trate tudo isso de forma leviana, mas ela o faz inserido na história e alternando com cenas mais amenas e divertidas, fazendo com que a leitura seja uma montanha russa de emoções.
A narrativa em terceira pessoa se alterna entre mãe e filha, enquanto Angie conta sua busca pelo pai e por si mesma, Marilyn narra do passado, contando a história de seu primeiro amor. Assim vamos evoluindo na leitura esperando o momento para entender o que realmente aconteceu com James e como eles foram separados. E quando esse momento chega, é impossível não ficar em choque! Eu chorei muito!
Mas para quem conseguisse sobreviver, os ventos frios do leste logo se tornariam uma lembrança distante. Estaria em outro lugar, seria outra pessoa.
Ainda assim. O que a mente permite abandonar com o tempo, o corpo não esquece.
A escrita de Ava Dellaira é arrebatadora. Ela consegue ser poética e ir direto ao ponto ao mesmo tempo, por mais que isso parece contrastante. Seu texto traz muitas reflexões e metáforas sem ser arrastado, ou seja, eu devorei o livro! E quando terminou eu fiquei com aquela vontade de que tivesse mais páginas, para que não precisasse me despedir.
Enfim, eu amei! Um livro leve, intenso, poético e com cenas divertidas e de forte emoção, com certeza foi uma das melhores leituras do ano e que eu vou recomendar para todo mundo!
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http://www.quemlesabeporque.com/2018/07/aos-dezessete-anos-ava-dellaira.html