Queria Estar Lendo 24/05/2021
Resenha: As Duas Torres
Voltando ao universo do Tolkien com uma resenha que deveria ter saído faz tempo, mas ficou aqui porque eu acabei me embolando toda com a maratona - hoje vamos falar sobre As Duas Torres, o segundo volume de O Senhor dos Anéis - que, até o momento, continua meu favorito da trilogia.
Na história, seguimos viagem junto à comitiva do Anel - agora, porém, dividida. O livro se reparte na saga de Aragorn, Legolas e Gimli nas terras de Rohan enquanto a guerra pela Terra-média se assoma sobre eles, e Frodo e Sam se aventurando para leste a fim de destruir o Um Anel de uma vez por todas.
Dez anos atrás, eu me apaixonei pela construção de universo dessa série. A riqueza de detalhes e de descrições e de informações que dá vida à Terra-média é absurda; o modo com que a narrativa fala sobre as terras e sobre a magia antiga e sobre a coragem daqueles que lutam contra a escuridão crescente é encantador.
As jornadas individuais de cada personagem são muito bem trabalhadas e orquestradas; a sina de Frodo e o peso do Anel que o assombram, a coragem e lealdade de Sam ao seu mestre - não à jornada em si - a honra e o poder de Aragorn como herdeiro e guerreiro, a amizade cultivada entre Gimli e Legolas e como isso afeta sua maneira de ver o mundo, uma vez que eram raças rivais e adversárias até então.
"E também digo: tu és nosso capitão e nosso estandarte. O Senhor Sombrio tem Nove. Mas nós temos um, mais poderoso que eles. O Cavaleiro Branco. Ele passou através do fogo e do abismo, e eles hão de temê-lo."
As Duas Torres também traz meu cenário favorito da Terra-média que são as terras de Rohan, dos Senhores dos Cavalos. Conhecemos mais sobre elas e seu rei, Théoden - um dos poucos reis da ficção pelo qual eu tenho muito respeito e carinho, talvez por sua construção gentil e humana, por ser cheio de falhas e por cometer tantos erros e por nunca desistir mesmo assim. Um rei que foi até o fim por seu povo, mesmo o fim sendo tão incerto.
Théoden é também tio de dois dos meus personagens favoritos, Éomer e Eowyn; a dama de Rohan pode não ter tanto destaque nesse livro, mas já mostra sua força e valor nas cenas em que aparece. Éomer, por outro lado, representa a fidelidade à coroa e ao rei, um cavaleiro que iria até o inferno para proteger aqueles a quem jurou ser leal.
Eowyn, aliás, já se apresenta como a grandiosa figura que virá a se tornar. Uma representação de poder feminino que ainda escorrega em estereótipos do universo (pela época que foi escrita e etc), mas que revolucionou por sua presença e força e amor. Por se mostrar capaz de ir à guerra pelos que ama como qualquer outro homem faria.
Esse livro foca muito nessa coisa de lealdade. Não apenas de súditos a reis, mas de amigos a outros amigos, como é o caso do Sam. Ele e Frodo estão na companhia de Gollum, que jurou guiá-los até Mordor - e o caminho para lá é intrincado de perigos e sombras e de uma ameaça mortífera, o que obriga os dois hobbits a fazerem escolhas perigosas. Frodo, baqueado pelo Anel e pela jornada, não seria nada sem o Sam; sem sua bravura desafiadora e seu coração grandioso. O verdadeiro herói de toda essa saga.
"Pois não vou vos contar o meu nome, pelo menos não ainda. Por um lado, levaria muito tempo: meu nome está crescendo continuamente, e vivi por longo, longo tempo; portanto meu nome é como uma história. Os nomes de verdade contam a história dos seres aos quais pertencem em minha língua, no entês antigo."
Além deles, temos também um pouco mais de expansão de magia e grandiosidades da Terra-média como um mundo fantástico; os Ents, principalmente, sempre serão minha criação favorita do autor. Pastores de árvores, eles vivem na grande floresta de Fangord e decidem ir à guerra quando entendem o mal que está crescendo e ameaçando tudo que lhes é mais sagrado. Pippin e Merry fazem companhia a Barbárvore, um Ent cheio de carisma que em muito acrescenta nas discussões sobre guerra e alianças.
Os conflitos envolvendo Gandalf e as sombras, sua queda como Cinza e ascensão como o Branco, seus embates com Saruman e a corrupção que tomou conta da torre e do seu antigo líder, tudo isso é muito bem desenvolvido e orquestrado para trazer discussões sobre o poder e o quanto ele corrompe.
"Foi a primeira visão que Sam teve de uma batalha de Homens contra Homens, e não gostou muito dela. Ficou contente por não poder ver o rosto morto. Perguntou-se qual era o nome do homem e de onde vinha; e se de fato tinha o coração mau, ou quais mentiras e ameaças o haviam trazido na longa marcha desde sua casa."
As Duas Torres abre caminho para um desfecho emocionante e grandioso do épico que é a trilogia O Senhor dos Anéis; com um fim de arrepiar e a promessa de uma guerra por vir, é o segundo livro perfeito por expandir horizontes e por dar mais vida a tudo que foi apresentado até então.
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