Valéria Alessandra 28/10/2020
“mulher gosta de apanhar” e daí ladeira abaixo...
Terminei há semanas, mas não tive sequer ânimo para escrever sobre... concluí revezando com áudio livro e bem decepcionada... Eu tentei respirar fundo e lembrar que esse livro foi escrito em 1996, mas foi difícil... Principalmente o início, onde tem não só os estereótipos que seguem até o fim do livro, mas um bombardeio de preconceitos! São comentários machistas, extremamente machistas, xenofóbicos, gordofóbicos, homofóbicos, de marginalização e criminalização da população pobre, incluindo crianças. Traz um desserviço imenso sobre saúde mental, incluindo a defesa do não tratamento e a “demonização” da terapia e dos terapeutas, tenta abordar o tema alcoolismo, mas fracassa. Tenta abordar o autoconhecimento (autosabotagem), mas faz de forma superficial, vazia e “instantânea”. Tenta abordar a temática sexo e falha de forma ridícula. Até discute assédio no local de trabalho, mas conclui de forma duvidosa. Além disso, perde ótimas oportunidades de tocar em temas como: amigos abusivos, relação familiares difíceis (a mãe), casais pouco prováveis e a ideia do “pecado” no prazer feminino. Sobre o final: dá pra saber qual será no início do capítulo 5! A história em si seria uma ótima oportunidade para um romance bem clichê, muito engraçado, receita de sucesso! Mas, ao menos para mim, fica muito difícil mergulhar na história e me divertir esbarrando toda hora em comentários e piadas ofensivas...
Alguns trechos, do início do livro, que reviraram meu estômago:
Caderno de anotações para
Casório?!
Marian Keyes
Citation (APA): Keyes, M. (2020). Casório?! [Kindle Android version]. Retrieved from Amazon.com
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Capítulo 1
Posição 195
Será que eu ia sempre desprezar todos os homens que me tratassem bem? Será que era o meu destino querer apenas os homens que não me quisessem? Acordei no meio da noite, me perguntando a respeito do meu amor-próprio. Por que eu só me sentia confortável quando me tratavam mal? Foi quando entendi que a frase “mulher gosta de apanhar” já rolava há centenas de anos, e então relaxei — afinal, não fui eu que fiz as regras. E daí se o meu homem ideal era um sujeito egoísta, confiável, infiel, leal, traidor, traiçoeiro,
Posição 200
um paquerador adorável que me achava o máximo, nunca ligava na hora em que combinava, fazia me sentir a mulher mais especial de todo o universo e tentava ganhar todas as minhas amigas? Era minha culpa que eu quisesse um namorado tipo “metamorfose ambulante”, um homem que fosse várias coisas conflitantes ao mesmo tempo?
Capítulo 2
Posição 231
Sob a luz difusa dava para ver um grupo formado por umas quinze crianças reunidas naquele espaço. Estavam todas amontoadas em volta do que parecia, de forma preocupante, um carro incendiado. Embora estivéssemos em um dia frio de março, à noitinha, nenhuma das crianças estava de casaco (nem mesmo casaquinhos leves). Assim que nos viram, interromperam a atividade criminal que deviam estar planejando e correram em nossa direção, aos berros.
Capítulo 3
Posição 336
Porque, apesar de a Sra. Nolan ter a aparência de quem se sentiria mais à vontade ajoelhada, limpando o chão da cozinha de Hetty, ela conseguira a sua maravilhosa reputação como
Capítulo 5
Posição 676
Reportagens sobre pessoas que passavam meses a fio na cama, sem comer, sem falar, só olhando para o teto, com as lágrimas descendo lentamente pelas faces e desejando energia suficiente para se matar me deixavam extremamente empolgada.
Posição 681
Sempre que eu entrava em uma livraria, fingia que estava só dando uma olhada nas novidades e, antes de perceber, já passara direto pelos lançamentos, pelas seções de ficção, crime, ficção científica, culinária, decoração e histórias de horror, continuava em frente pela seção de biografias (dando só
Posição 683
uma paradinha para ver se alguma vítima de depressão publicara recentemente a história de sua vida) e, de algum modo, como em um passe de mágica, sempre acabava na seção de autoajuda, onde passava horas a fio lendo livros que pudessem me consertar ou apresentassem a solução mágica que levaria embora, ou pelo menos aliviaria, as garras corrosivas que estavam quase sempre comigo.
Posição 713
O problema é que, um ano antes, eu já fora me consultar com uma espécie de terapeuta. Resolvi vê-la por algum tempo, pelo menos por umas oito semanas, e aquilo acabou sendo um desperdício de tempo.
Capítulo 6
Posição 747
Desculpe, Alison, eu adoraria contar a você que o meu pai passou toda a minha infância embriagado, que nunca tínhamos dinheiro suficiente, que ele batia em todos, gritava conosco, tentava fazer sexo comigo e dizia para a minha mãe que estava arrependido por ter se casado com ela. Alison não me acompanhou na risada e me senti ligeiramente tola.
Posição 797
Eu me sentira manipulada por ela, obrigada a ser cruel a respeito de papai, e a sensação de culpa era horrível.
Posição 799
Do mesmo modo que seguir dietas faz você engordar, senti que fazer análise lhe traz problemas.