Kenia 09/05/2020"Ensinaram a vocês que vocês não são puras, não são sagradas, que seu corpo é impuro e jamais poderia abrigar o divino. Ensinaram vocês a desprezar tudo o que são e a ter um único desejo, o de ser homem. Mas o que ensinaram a vocês são mentiras."
Em O Poder, a poluição causou uma mutação, principalmente nas mulheres, que lhes permite direcionar cargas elétricas potentes através dos dedos. Então, meninas adolescentes descobrem que têm uma força eletrostática devastadora em suas mãos que podem usar para dar choques, torturar e matar. Esse poder vem de um músculo estriado perto de suas clavículas que alarmou os cientistas e que eles podem observar através de ressonâncias magnéticas de meninas recém-nascidas. As adolescentes podem ajudar mulheres mais velhas a ativar o seu poder, também.
No início do livro somos apresentados a Allie, que usa seu poder para matar seu padrasto abusivo e fugir da cidade. Roxy, filha de um poderoso chefe da máfia londrina, que eletrocuta o agressor de sua mãe. Margot é uma política ambiciosa que vê sua filha adolescente lutar para controlar seu poder, e consegue tirar vantagem do que está acontecendo. E há Tunde, um jovem nigeriano que tem interesse em se tornar um jornalista fotográfico, presta atenção no que está acontecendo e percebe que isso vai mudar o mundo.
Começando na Arábia Saudita, e se mudando para outros países, as mulheres tomam o controle político, e se vingam violentamente dos homens que as escravizam e abusam delas. Elas usam o Poder para se defender e se libertar, e isso muda a visão de si mesmas.
"O poder tem um comportamento próprio. Ele age sobre as pessoas, e as pessoas agem sobre ele."
Mas o Poder rapidamente corrompe, e algumas mulheres se tornam predatórias e cruéis. E os homens revidam com ainda mais brutalidade; eles tentam destruir e/ou roubar o Poder cirurgicamente, para cegar e confinar as mulheres, para usar armamento pesado contra elas. No entanto, apesar das consequências, a escritora acredita que ser capaz de machucar e matar seria transformador para essas mulheres.
O livro contém algumas cenas gráficas de violência sexual, mutilação e humilhação que são perturbadoras por si só, mas talvez ainda mais quando o leitor percebe que são descrições do que as mulheres de todo o mundo historicamente experimentaram. A cena em que um bando de mulheres estupra um homem está entre suas partes mais difíceis de ler.
O Poder é relevante hoje à medida que mais mulheres estão encontrando suas vozes, se unindo e apoiando a experiência uma da outra de atravessar esse mundo como mulher. É também um conto preventivo sobre o que fazer com nossas vozes à medida que elas se elevam, pois não somos imunes à atração do poder e à corrupção que ele pode convidar.
Eu não tive uma boa experiência de leitura pelos seguintes fatos: não consegui me conectar com os personagens e achei as mulheres de um comportamento muito extremista. Eu quase abandonei a leitura por não concordar com diversas das atitudes tomadas por elas para resolver seus conflitos. Mas acredito que é isso, o livro precisa te incomodar e te fazer refletir sobre tudo que é abordado. E até acho super importante o que é abordado no livro, mas penso que a escritora se perdeu em determinados momentos na trama que me deixou confusa e sem motivação para me engajar na leitura.
Eu recomendo a leitura, pois acredito que cada um tem uma experiência diferente de leitura. Tirei alguns pontos relevantes da história, mas não foi uma leitura interessante para mim, infelizmente.