Minha Velha Estante 10/03/2021Já vai um bom tempo que eu não lia uma distopia tão original e impactante como O Poder. com um forte manifesto feminista, a história vai muito além disso e nos mostra um mundo onde o poder dita as regras e comanda a alma humana. Me diz se isso não é uma verdadeira distopia do mundo em que vivemos.
“Ensinaram a vocês que vocês não são puras, não são sagradas, que seu corpo é impuro e jamais poderia abrigar o divino. Ensinaram vocês a desprezar tudo o que são e a ter um único desejo, o de ser homem. Mas o que ensinaram a vocês são mentiras“.
Em O Poder, meninas adolescentes desenvolver um poder: a trama, o que lhes dá a capacidade de eletrocutar pessoas, causando dor e morte. Com o tempo, elas descobrem que são capazes de despertar esse mesmo poder em mulheres mais velhas. Assim, a balança do poder começa a se inverter e as mulheres assumem a liderança. Em um contexto machista e de patriarcado, idêntico ao que vivemos, as mulheres passam a comandar os governos, os exércitos e, inclusive, a religião, quando Deus passa a ser enxergado como uma figura feminina. E o que acontece com os homens? Então, querida leitora, a eles é relegado o papel de sexo frágil, aquele que é usado quando necessário e depois descartado, inclusive com relatos de estupros coletivos.
E é aí que está a grande sacada da história! A autora não faz uma simples apologia às mulheres no poder, ela mostra todos os riscos e possibilidades de ter um poder absoluto na mão de um único grupo, mesmo que sejam mulheres. Ressaltando que, por traz do gênero, existe a natureza humana com suas falhas de caráter e confirmando a antiga frase de Lord Acton:
"O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus."
A mensagem do livro é um verdadeiro dedo na ferida. Naomi escancara que o poder corrompe qualquer um que o detenha e que, homens ou mulheres, são capazes de cometer atrocidades quando a ambição fala mais alto.
Lamentavelmente, a autora se perde em alguns momentos, tornando a história longa além do necessário e repetitiva, como se estivesse querendo convencer o leitor de situações que ele já acredita. O que, ainda assim, não tira a qualidade do texto quando comparado à riqueza das críticas apresentadas.
Preferi não falar sobre os personagens porque, na minha opinião, o personagem principal da história é o poder. É ele quem comanda e dita as situações e atitudes dos personagens secundários da história.
Se você é apaixonado por distopia, como eu, e quer ler algo que te tire da zona de conforto e desperte em você muitos questionamentos interessantes, O Poder é a leitura certa.
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