Amanda 16/02/2013
Talvez contenha spoilers, mas fiz as pazes com o Conde Olaf.
Não, ele não deixou de ser mau, fedido e horroroso. Eu só consegui parar de odiá-lo (e acho que os Baudelaire podem dizer o mesmo - ou não... Sei lá!). Depois de tantas desventuras, não só aquelas que viveram, como aquelas que também aconteceram antes dos irmãos nascerem, os Baudelaire se veem perdidos na planície costeira de um ilha "simples e segura", na qual todas as coisas perdidas em tempestades vão dar em suas águas. Se não agora, mais tarde. Com toda a certeza.
É nessa ilha que os órfãos descobrem segredos dos seus pais e conseguem superar a última das desventuras dessa série de desventuras que aconteceu bem no início de suas tristes vidas. É claro que, antes do momentâneo final feliz não prometido por Lemony Snicket, há mais aparições e disfarces do Conde Olaf, tentativas de assassinato, maçãs azedas e livros encharcados. Nada muito diferente dos problemas já antes enfrentados. O bom é que o fim de O FIM não é aquilo que se espera quando se começa a ler o mau começo da série; o fim de O FIM não acontece exatamente no fim de O FIM, mas depois dele! Não que o fim que encontramos seja exatamente um fim, na verdade, é mais como um fim para O FIM e um novo começo para os órfãos Baudelaire - o qual não se pode dizer que seja bom ou mau, depende das informações que você encontrar por si só, já que as pesquisas do penúltimo Snicket acabam naquela ilha "simples e segura".
Enfim, amei o livro - apesar dele não explicar todos os mistérios e os segredos que rondavam os órfãos desde muito antes dos seus nascimentos. Ainda estou curiosa sobre C.S.C., querendo saber o que tem de tão especial no açucareiro, o que esconde o último refúgio que não pegou fogo. Além disso, quero saber o que significa aquele "ponto de interrogação" subaquático que engoliu os trigêmeos e outros tantos personagens queridos. Mas tenho que me contentar com essas coisas. Como os Baudelaire aprenderam, nem todos os segredos podem ser desvendados e nem todos os enigmas resolvidos.
Ah, também aprendi outras coisas com os Baudelaire: não existe lugar totalmente seguro em um mundo contaminado por cisões, crimes e atitudes vilanescas, porque, se você não as combatê-las, elas algum dia irão acabar parando nas areias do seu refúgio na sua praia preferida. O bom é que mesmo o bem parecendo derrotado é mais forte do que qualquer coisa pérfida capaz de acontecer.
Antes que eu esqueça: sobre a escrita do nosso autor-pesquisador-personagem, Lemony Snicket, só posso dizer que é contagiante! As definições de palavras "difíceis" são engraçadas por si só, e, apesar da história ser triste, do nada você começa a rir com um mensagem secreta escrita no meio de um parágrafo, ou uma carta, ou assuntos maçantes colocados no início dos capítulos para te fazer dormir e não ler mais a história. Lemony Snicket é fantástico, com uma escrita "simples e segura" que não deixa de ser complicada.
Além disso, por mais sejam consideradas histórias para crianças, Desventuras em Série apresenta um lado mais adulto, cheio de críticas, ensinamentos e ironias à nossa própria sociedades (ou talvez não exista nada disso e eu é que tenha imaginado tudo). Depende do ponto de vista. Mas, juro, não consegui para de ver essas coisas escondidas nas entrelinhas desses fantásticos treze livros e um décimo quarto capítulo. Apareciam ideias de que as aparências enganam (vide a Víbora Incrivelmente Mortífera, por exemplo), de que as pessoas mudam e de que somos influenciados por coisas que estão além do nosso controle e vontade; ideias de mecanismos de influência e manipulação das massas; sem falar em críticas aos direitos trabalhistas (ou a falta deles), a ditadura da moda, sistemas educacionais, políticos, sociais, burocráticos... Ufa, cansei! Ou talvez não houvesse nada disso e eu é que resolvi olhar para uma mosca morta e ver uma águia treinada.
Finalmente, só posso acabar essa tentativa de resenha, com a mesma palavra que iniciava todas as histórias dessa etapa da vida dos órfãos Baudelaire e que também a finalizou: descanse em paz e boa sorte. Porque aqui o mundo silencia, Beatrice.