naniedias 19/09/2012A Cidade Sinistra dos Corvos, de Lemony SnicketOs infortúnios parecem gostar dos Baudelaire, mesmo que não sejam correspondidos. Estão frequentemente seguindo os órfãos por onde quer que eles passem - sempre nas figuras de Conde Olaf e seus comparsas, que desejam colocar suas vis garras na fortuna herdada pelas crianças.
Dessa vez, a fama dos órfãos já é de conhecimento de seus parentes e com medo de que o Conde Olaf apareça mais uma vez (medo que, infelizmete, não é infundado) ninguém quer tomar conta das crianças.
Elas então são enviadas para a cidade de C.S.C. - pois "é preciso uma cidade inteira para educar uma criança" de aforismo se tornou um projeto, onde toda uma cidade fica responsável por criar e educar uma ou mais crianças.
Mas é claro que as coisas não são simples para os desafortunados irmãos... Eles não serão tão bem recebidos quanto poderia se esperar: terão que fazer as tarefas domésticas de toda a cidade e ainda serão obrigados a obedecer a inúmeras regras despropositadas.
E, claro, o Conde Olaf certamente não terá desistido de seus planos e irá atrás dos órfãos enquanto eles tentam descobrir o paradeiro de seus queridos amigos, os trigêmios Quagmire, que também sofrem com a ganância do conde e se esforçam para desvendar o mistério de C.S.C. (não a cidade, mas aquele do qual os trigêmeos tentaram alertá-los).
O que eu achei do livro:
Não é mais segredo o quanto eu sou fã de Desventuras em Série! A cada livro que leio, tenho apenas mais certeza do quanto é fácil gostar da narrativa de Lemony e dos personagens por ele criados.
Já comentei em resenhas anteriores que Lemony Snicket é na verdade um heterônimo de Daniel Handler, que escreve a série. E, como um bom heterônimo, Lemony Snicket não é apenas um nome com o qual Handler assina os livros dessa aclamada série. Na verdade, Lemony Snicket tem sua própria história e ela está intrinsecamente relacionada aos eventos de Desventuras em Série, como podemos ir percebendo ao longo da leitura dos livros.
Aos pouquinhos, o autor insere fatos que vão nos revelando quem ele é e quem são aqueles próximos dele - como a sua amada Beatriz e mais um personagem que aparece nesse livro (sobre o qual, logicamente, não irei entrar em detalhes, já que vocês terão que conhecê-lo através da leitura).
Acho incrível poder ir entrelaçando os fatos e montando esse incrível quebra-cabeças.
O autor faz muitas referências em seus livros, a maioria das quais não pode ser entendida por crianças, o principal público alvo do livro, mas que podem ser aproveitadas pelos adultos - que certamente não conseguem resistir a uma história tão boa!
É o caso do detetive Dupin (quem é ele nessa história? Leia e descubra!), que é claramente uma homenagem ao famoso detetive homônimo criado por Edgar Allan Poe (outro que também é homenageado no livro, na figura do desajeitado banqueiro, Sr. Poe).
"Com certeza você pegou este livro por engano, portanto por favor ponha-o de lado. Ninguém em juízo perfeito leria intencionalmente um livro sobre a vida de Violet, Klaus e Sunny Baudelaire, pois cada momento tenebroso de sua permanência em C.S.C. foi registrado nestas páginas de modo fiel e assustador."
O sarcamos de Lemony continua presente no texto e é uma das coisas mais gostosas nessa história! É uma maneira bastante diferente de narrar e que muito me agrada, deixando a leitura do livro ainda mais gostosa do que certamente já seria se a narrativa fosse comum.
As crianças, como sempre, são muito mais espertas e determinadas do que os adultos, que parecem sempre agir de maneiras estranhas e cômicas. Acho muito interessante a forma como o autor faz com que seus adultos ajam - sem pensar muito nos pequenos e os considerando incapazes de qualquer pensamento lógico, o que obviamente não deveria ser feito.
Acho que qualquer criança, ao ler esse livro, se sentiria satisfeita ao ver que, no final das contas, não eram os adultos que tinham razão.
E, sejamos sinceros, nem sempre são mesmo.
Mais uma vez acompanhar as aventuras, ou desventuras - já que as desgraças parecem perseguir os órfãos -, é uma delícia!
Um livro curtinho, simples, mas super delicioso, cuja leitura das entrelinhas é essencial para acompanhar completamente a trama arquitetada por Daniel Handler.
PS: Essa é uma das dedicatórias mais sem graça de todos os livros. Certamente ela fica melhor em inglês, mas ainda assim acho que as outras foram mais felizes. De qualquer forma, ainda acho que as dedicatórias dessa série são o máximo - e eu nunca deixo de lê-las!
"Para Beatrice -
Quando estávamos juntos, eu ficava sem fôlego.
Agora, foi você quem ficou."
Nota: 9
Dificuldade de Leitura: 3
Leia mais resenhas em www.naniesworld.com