Thalia.Mutuana 27/02/2022
O romance “Número Zero”, de 2015, foi a última obra a ser publicada pelo renomado e, mundialmente conhecido, escritor e linguista italiano Umberto Eco, falecido no ano de 2016.
O livro, narrado em primeira pessoa pelo protagonista Colonna - um escritor fracassado - traz à cena a redação de um jornal que nunca será impresso e a relação de escolha de matérias e reportagens meticulosamente formuladas com viés crítico, sendo recheadas de intencionalidade e não de impessoalidade, como deveria ser.
Colonna recebe uma proposta tentadora e milionária para relatar, por meio de um livro, as memórias e experiências de como seria atuar durante um ano como jornalista em um jornal que nunca sairia em circulação. O jornal seria intitulado “Amanhã”, já que segundo o personagem Simei, o título seria uma perfeita e clara crítica aos governantes da Itália, país onde a narrativa é situada.
Umberto Eco modula seu romance fazendo uso de linguagem e enredo simplistas, se observados à priori. Entretanto, ele tece uma fábula sarcástica, explicitando conspirações e uma série de intencionalidades, com caráter duvidoso e difamador, que seriam transmitidas por meio de matérias do jornal “Amanhã”.
O ambiente da redação do jornal e as discussões sobre o que deve ser exposto nele se tornam uma espécie de aula do que seria um possível jornalismo antiético e conspirador. Sendo o editor chefe Simei quem joga as cartas e medeia toda a montagem do jornal com altos toques de humor ácido.
Eco consegue transmitir em “Número Zero”, sendo o título do livro uma referência aos exemplares do jornal “Amanhã” que nunca seriam publicados, a forma com que a mídia é capaz de manipular e estabelecer novos sentidos à informações, a fim de de conseguir reações desejadas por ela.