Queria Estar Lendo 14/02/2017
Resenha: Olho Por Olho
Olho por Olho, primeiro livro dessa trilogia, lançado pela editora Nova Conceito, é tão viciante que mal pude parar a leitura até o final.
Essa história é sobre três garotas e suas histórias: passados sombrios, acontecimentos amargos e pessoas que os causaram. Kat, Mary e Lilia são jovens no último ano do colegial e narram suas vidas em uma aparentemente pacata ilha: a Ilha Jar, onde a coisa mais terrível que poderia acontecer é a quantidade de turistas invadindo o lugar durante a temporada de verão todos os anos.
Mas, ao sabermos de suas histórias, coisas muito mais terríveis são capazes de acontecer na ilha, tudo por causa do ego e do egoísmo humano que, segundo as três, já causou danos demais. Desse modo, cansadas de esperar pelo carma fazer seu serviço, elas decidem fazer por ele, dando à aquelas pessoas que lhes causaram mal, o que merecem.
As características da Ilha Jar e de como tudo funciona me fizeram sentir na própria ilha. As autoras trabalharam muito bem a narrativa, uma para cada personagem – sim, cada uma narra um capítulo! - e a parte técnica, como a balsa que leva e traz as pessoas para o lugar, o funcionamento da ilha durante o veraneio e o resto do ano, as casas, as pessoas. A escrita é fluída e detalhista na medida certa, te levando a querer ler sem parar, sendo tudo tão bem articulado que é impossível você não se imaginar dentro da história e desejar saber o que vai acontecer depois. Muitas vezes me vi com o coração disparado, na dúvida se o plano daria certo ou não.
"- Ninguém desconfia de nós. Além disso, ninguém sabe quem você é.
Acho que faço uma expressão de pesar, e Lillia diz:
- Sim. É por isso que você é nossa arma secreta! - Sim, sou silenciosa mas mortal - digo, em tom de chacota. - Como um pum! - emenda Kat. Eu rio também, e depois mostro o dedo do meio para ela. Acho que é a primeira vez na vida que faço isso.
- Rá-rá, veja a pequena e doce Mary está virando uma encrenqueira - diz Kat, rindo.
Sinto que estou mais próxima de Mary e Kat do que de qualquer um dos meus outros amigos. Nós três somos um círculo. Estamos ligadas uma às outras agora. Posso sentir. Sinto poder também. Toda a conversa, o trabalho duro, as brincadeiras que fizemos, isso tudo nos trouxe até aqui e agora."
Os personagens são excelentes e, até mesmo os clichês, como a patricinha ser a capitã das animadoras de torcida e querer o capitão do time de futebol americano, acabam funcionando bem por se tratar de um enredo incomum. As protagonistas me surpreenderam bastante, são fortes e com personalidades próprias, uma mais diferente da outra.
Kat é extremamente durona, não se preocupa com futilidades e se exclui de propósito na escola, por não querer que pessoas que não valem a pena entrem em seu caminho. Lilia é de todas as formas uma patricinha: rica, animadora de torcida e anda com a galera popular, parecendo se importar somente com a roupa que usa, mas com o passar da história, vemos que ela não se importa tanto assim com essas coisas e que tudo que quer é proteger sua irmã e impedir que mais pessoas sofram o que ela e suas amigas sofreram. E Mary, bem, ela é a mais doce e calma de todas, o elo mais frágil do grupo também, por conta do que aconteceu há muitos anos, mas também é animada e só quer que ninguém passe pelo que passou.
"- O que fizermos juntas viverá e morrerá conosco. - Limpo a garganta, porque essa é a parte mais importante. - E, se vamos mesmo fazer isso, ninguém pode desistir na metade do caminho. Se for para entrar, é para ir até o fim. Até nós três conseguirmos o que queremos."
Apesar de não muito longo, é um livro envolvente, que te põe na pele das garotas e no chão da Ilha. Há muitas partes profundas, sobre o jeito que as pessoas agem e em como as tratamos, o que vale a pena e o que não vale. Além disso, temos três pontos de vistas realmente diferentes sobre a mesma história, o que deixa impossível enjoar e só faz ficar mais interessante.