Antes de Nascer o Mundo

Antes de Nascer o Mundo Mia Couto




Resenhas - Antes de nascer o mundo


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Dani-chan 23/05/2016

Esse é o primeiro de um autor africano que leio, e já posso adiantar que me apaixonei pela escrita do autor e de todo o clima que ele criou em volta de seus personagens, que por sinal são incríveis e cheios de personalidade.

“ Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.”

O livro é narrado por Mwanito, um garotinho que aos três anos é tirado de sua casa por seu pai e levada até uma antiga fazenda nos confins rurais de Moçambique, e lá viveram, Mwanito, seu pai Silvestre, o irmão mais velho Ntunzi e Zacaria, um criado da família, e por fim Tio Aproximado que os visita constantemente, não podemos esquecer da jumenta Jezibela, tratada quase como humana por eles. Mwanito não se lembra de como era o mundo antes de Jesusalém, como Silvestre batizou o lugar onde eles vivem, e muitas vezes não sabe se acredita na história do pai que diz que não existe um mundo lá fora, o irmão vivi tramando fugas enquanto.

Temos também um personagem fantasma, ela não aparece em momento algum, mas sua lembrança pesa entre eles o tempo inteiro, que é a Dona Dordalma, a mãe dos garotos, durante história ela é um fio que conduz muitos dos atos de nossos personagens, Mwanito se recente de nunca ter tido uma mãe, Ntunzi se recente do pai a quem acusa de ter sido responsável pelo que aconteceu a mãe, Silvestre se recente de tudo e todos especialmente do tio aproximado, e assim melancolicamente a história segue.

“Não chegamos realmente a viver durante a maior parte de nossa vida. Desperdiçamo-nos numa espraiada letargia a que, para nosso próprio engano e consolo, chamamos existência. No resto, vamos vagalumeando, acesos apenas por breves intermitências.”

A escrita de Mia Couto é tão poética e bonita, que parece que ele esta recitando para nós, sua escrita me fazia ver seus cenários e acompanhar esses dois irmão aprontando por aí como se fosse um filme, ele também consegui despertar em mim uma especie de magia que ultimamente só Neil Gaiman conseguia, a parte onde Mwanito abre os olhos dentro da água na curva do rio e vê a luz refletida, foi mágico demais me lembrando minha própria infância.

Outra coisa que dá um charme todo especial à esse livro são os pequenos poemas que abre cada capitulo e que merecem ser lidos com atenção.

“Vendo-o esgrimir assim contra o vazio, me causou pena. Meu pai queria fechar o mundo fara dele. Mas não havia porta para se trancar por dentro.”

Alem disso um livro que te faz querer marcar citações a cada página que se lê alguma coisa de muito boa ele tem, indico para todo mundo que goste de ler, porque é um livro maravilhoso, e até o final triste consegue encantar.
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@pacotedetextos 17/01/2017

Mais um livro sensacional do Mia Couto
Antes de nascer o mundo, título no Brasil dado a Jesusalém, é um livro do autor moçambicano Mia Couto. Como todas as outras obras do autor que li até hoje, esse também possui uma linguagem bastante poética, com construções que vão de neologismos a comparações impensadas – o que permite, sem sombra de dúvidas, que ele seja botado em um patamar de ninguém menos que Guimarães Rosa. (!)
Trata-se aqui da história de cinco moçambicanos: Silvestre Vitalício (viúvo de Dordalma) e os filhos Ntunzi e o pequeno Mwanito (este, o narrador da história), além do tio Aproximado e de Zacaria Kalash, estão refugiados em Jesusalém, “a terra onde Jesus haveria de se descrucificar“, a fim de anular o passado e o futuro e vivenciar um presente de, podemos dizer assim, realismo fantástico. Uma vida em que são cortadas relações com todo o exterior e que, certo dia, é abalada pela chegada de uma mulher (a primeira que Mwanito vê, aos onze anos de idade).
A história é dividida em três partes: “A humanidade“, “A visita” e “Revelações e regressos“, e cada uma dessas partes é subdividida em capítulos que oferecem epígrafes de autoras como Hilda Hilst, Sophia de Mello Breyner Andresen e Adélia Prado.
A história em si já é muito envolvente… Mas, como gosto de ressaltar em toda oportunidade, a linguagem do Mia Couto é algo que merece ser ressaltado sempre: não é todo mundo que consegue trabalhar tão bem com a língua portuguesa, seja em prosa, seja em poesia. Inclusive, é bom destacar: a prosa e a poesia, em Mia Couto, confundem-se, sendo que muitas vezes não dá pra separar os gêneros nos seus textos.
Quer exemplos? Tenho vários! MAS ATENÇÃO: quando eu digo vários, são vários mesmo! Pra quem não sabe, eu seria capaz de escrever um livro só com citações do Mia Couto. É sério, confere aí:

. Ninguém é de uma raça. As raças […] são fardas que vestimos. (p. 13)
. Não há um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez. (p. 13)
. O sonho é uma conversa com os mortos, uma viagem ao país das almas. (p. 17)
. Quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares. (p. 24)
. Nunca vi estrada que não fosse triste. (p. 35)
. Esperas. É isso que a estrada traz. E são as esperas que fazem envelhecer. (p. 35)
. Todo nascimento é uma exclusão, uma mutilação. […] Diz-se “parto”. Pois seria mais acertado dizer “partida”. (p. 40)
. A escrita era uma ponte entre tempos passados e futuros. (p. 42)
. Rezar é chamar visitas. (p. 44)
. Chorar ou rezar é a mesma coisa. (p. 45)
. Onde se dorme junto é no cemitério. (p. 46)
. Não é segurando nas asas que se ajuda um pássaro a voar. O pássaro voa simplesmente porque o deixam ser pássaro. (p. 52)
. Que história pode ser criada sem lágrima, sem canto, sem livro e sem reza? (p. 54)
. Os olhos de quem se ama nunca se vêem. (p. 55)
. A cegueira é o destino de quem se deixa tomar de assalto pela paixão: deixamos de ver quem amamos. Em vez disso, o apaixonado fita o abismo de si mesmo. (p. 56)
. Os mortos não morrem quando deixam de viver, mas quando os votamos ao esquecimento. (p. 59)
. O medo faz dilatar as distâncias. (p. 64)
. Não viver é o que mais cansa. (p. 65)
. Quem sai do seu lugar, nunca a si mesmo regressa. (p. 74)
. A raiva é apenas um modo diverso de chorar. (p. 76)
. Os soldados estão sempre feridos. A guerra fere mesmo os que nunca saíram em batalha. (p. 93)
. Perante o tiro, certo ou falhado, toda a gente sempre morre. (p. 103)
. Não chegamos realmente a viver durante a maior parte da nossa vida. Desperdiçamo-nos numa espraiada letargia a que, para nosso próprio engano e consolo, chamamos existência. No resto, vamos vagalumeando, acesos apenas por breves intermitências. (p. 115)
. Nunca há terra suficiente para enterrar uma mãe. (p. 121)
. O poeta se engrandece perante a ausência, como se a ausência fosse o seu altar, e ele ficasse maior que a palavra. (p. 132)
. Os segredos são fascinantes, porque foram feitos para serem revelados. (p. 136)
. Do amor me interessa apenas o não-saber, deixar o corpo fora da mente, em descomando absoluto. (p. 140)
. A poesia é uma doença mortal. (p. 142)
. Quem quer a eternidade olha o céu, quem quer o momento olha a nuvem. (p. 147)
. É isso que faz um lugar: o chegar e o partir. (p. 156)
. O silêncio é uma travessia. (p. 180)
. O Tempo é um veneno […] Mais eu lembro, menos fico vivo. (p. 212)
. Os vivos não são simples enterradores de ossos: eles são, antes de mais, pastores de defuntos. (p. 212)
. Este mundo, para ser amado, precisa de ódio. (p. 224)
. Uma despedida […] é um pequeno modo de morrer. (p. 241)
. Deixo de ser cego apenas quando escrevo. (p. 275)

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Guta 03/04/2017

Impressões sobre o antes de nascer do mundo
Um dos meus livros preferidos deste autor, a poética é incrível, como o autor consegue nos mostrar o olhar ingênuo da criança, os personagens, o absurdo, a força, a complexidade das relações familiares, o irmão que quer fugir mas não consegue, o pai que é bruto mas demonstra seu amor, as cartas de amor/diário da portuguesa, tudo contribui para uma leitura fluida e prazerosa. Um romance belíssimo.
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Manuel Gimo 30/09/2017

Mia Couto, Um Contador de Histórias!
AUTOR: Mia Couto
TÍTULO: Jesusalém
EDIÇÃO: 1ªed
LOCAL: Lisboa
EDITORA: Editorial Caminho
ANO: 2009
PÁGINAS: 169
FORMATO: eBook (Epub)

SINOPSE:
"Jesusalém é seguramente a mais madura e mais conseguida obra de um escritor no auge das suas capacidades criativas. Aliando uma narrativa a um tempo complexa e aliciante ao seu estilo poético tão pessoal, Mia Couto confirma o lugar cimeiro de que goza nas literaturas de língua portuguesa. A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado, diz um dos protagonistas deste romance. A prosa mágica do escritor moçambicano ajuda, certamente, a reencantar este mundo."

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Eu sou um fã declarado de Mia Couto. Me tornei fã desde que o li pela primeira vez em "Terra Sonâmbula" (1992). Na verdade, Couto faz parte da minha vida literária. Eu desenvolvi o amor a Literatura na escrita do norte-americano Dan Brown (nas aventuras do Professor de simbologia e iconografia religiosa de Harvard, Robert Langdon). Depois deste, fui me envolver com a escrita de Couto, sendo o segundo escritor que li no meu debut ao mundo das letras. E que por sinal, era a minha estreia na Literatura Moçambicana, e na Africana em geral. Desde então, fui "livrendo" suas obras feito um louco. Deleitei-me em obras como "E Se Obama Fosse Africano? E Outras Interinvenções" (2009), "Vozes Anoitecidas" (1986), "A Confissão da Leoa" (2012), "O Fio das Missangas" (2004), "Cada Homem é uma Raça" (1990), "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra" (2002), "A Chuva Pasmada" (2004), "O Outro Pé da Sereia" (2006), "Mar Me Quer" (2000) , "Vinte e Zinco" (1999), "O Último Voo do Flamingo" (2000) e "A Varanda do Frangipani" (1996). Então, isso prova que conheço muito bem a escrita brincalhona miacoutiana. E agora dou de cara com este "Jesusalém" (2009) (ou "Antes de Nascer o Mundo", título brasileiro). E falando em brincar, o título já é a habitual brincadeira com as palavras: JESUS + ALÉM.

«A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado.» (p. 13)

Neste romance, conhecemos Mwanito (diminutivo aportuguesado de "mwana" [rapaz, miúdo, criança], palavra de Chisena e Chindau, línguas de centro de Moçambique), a personagem-narrador, o seu pai Silvestre Vitalício, o seu irmão mais velho Ntunzi e o ajudante da família Zacaria Kalash. Há que mencionar também o Tio Aproximado, parente distante mas que os visita com frequência e a jumenta Jezibela, tratada como parte da família. Os quatro homens primeiramente mencionados são habitantes de Jesusalém, assim chamado pelo patriarca, um lugarejo isolado nas savanas de Moçambique. Tão longe que, como dito por uma das personagens, «Deus se perde no caminho.» (p. 29)

Na verdade, esses não são os nomes de baptismo destes homens, todos (excepto Mwanito) foram "desbaptizados", receberam estes novos nomes, quando chegaram a Jesusalém, «a terra onde Jesus haveria de se descrucificar.» (p. 6)
Razão de tal exílio, aos seus filhos Silvestre Vitalício explica:

�« — O mundo acabou, meus filhos. Apenas resta Jesusalém.�

Eu era crente das palavras paternas. Ntunzi, porém, considerava tudo aquilo um delírio. Inconformado, voltava a indagar:�

— E não há mais ninguém no mundo?�

Silvestre Vitalício inspirava como se a resposta pedisse muito peito e, fazendo soltar um demorado suspiro, murmurava:�

— Somos os últimos.» (p. 12)

Então, os cincos homens são os últimos sobreviventes do mundo. Ao além de Jesusalém, só figuram apenas territórios sem vida que o Silvestre Vitalício vagamente designara por "Lado-de-Lá".

«Durante muitos anos alimentei feras pensando que eram animais de estimação.» (p. 8)

Mas ainda assim, Vitalício age como se de um tenebroso passado fugisse. Os miúdos estão proibidos de falar sobre mulheres, rezar, chorar ou mesmo cantar. Pois

« — Rezar é chamar visitas.�

— Mas que visitas, se ninguém mais há no mundo?

— Há visitas que nem se dá conta. São anjos e demónios que chegam sem pedir licença...�

— Anjos ou demónios?�

— Anjos ou demónios, a diferença não está neles. Apenas está em nós.» (pp. 27 - 28)

E quanto à mulheres:
« — Não quero essa conversa. Aqui não entram mulheres, nem quero ouvir falar a palavra... Não há falas dessas em Jesusalém. As mulheres são todas... todas umas putas.» (p. 20)

Mas a verdade é que a figura de mulher sempre está presente nesta família através da falecida Dordalma (sim, é isso mesmo, deriva de: DOR DE ALMA, nomes que só Couto sabe inventar), falecida mãe de Mwanito e Ntunzi. Há (supostas) lembranças, "deslembranças" e negações.

«Mulheres são como as ilhas: sempre longe, mas ofuscando todo o mar em redor.» (p. 34)

Então, um certo dia, aparece uma mulher em Jesusalém. Marta, mulher branca portuguesa. Mas a humanidade não tinha morrido? Como justifica a visita da aparecida? Convicções serão abaladas e segredos desenterrados. Afinal, há viventes no Lado-de-Lá? Marta vai agitar a inércia dos dias solitários destes homens: eles se retiraram do mundo por causa de uma mulher e é justamente uma mulher que os confrontará. O protagonismo feminino é um outro tema central da escrita miacoutiana, talvez o mais predominante entre todos. E nesta obra, não se foge a regra. Aliás, "Jesusalém" é sobre uma mulher, o enaltecimento das mulheres, tanto que os capítulos do livro têm epígrafes que são pedaços de poemas escritos por mulheres (Sophia de Mello Breyner Andresen, Hilda Hilst, Adélia Prado, Alejandra Pizarnik). Marta saiu de Lisboa à procura de seu marido, Marcelo, desaparecido em Moçambique. Mas a mulher vai é trazer desequilíbrio no seio destes homens.

«As mulheres são como as guerras: fazem os homens ficarem animais.» (p. 93)

«Uma terra é nossa como uma pessoa nos pode pertencer: sem nunca dela tomarmos posse.» (p. 84)

Bom, como aconteceu em todas obras de Couto que li nunca pude evitar de rir. E sim, rir muito mas muito mesmo. Até porque o alívio cómico é uma marca registrada de Couto. Falando em marca registrada de Couto, também temos aqui a busca de identidade na figura de Ntunzi, que se quer ver longe de Jesusalém, simplesmente porque é um lugar que não lhe pertence. É um lugar que não lhe deixa existir, viver. Ser o que quer, ter o que quer. É como dito pela própria personagem «pior que não saber contar histórias, pai, é não ter ninguém a quem as contar.» (p. 40) e «De que vale chorar se não tenho quem me escute?» (p. 94)

«Um militar sem lembrança de guerra é como prostituta que se diz virgem.» (p. 52)

Zacaria Kalash, o ex-militar, simboliza o povo moçambicano e sua recusa em lembrar das guerras. O esquecimento das guerras é um dos temas centrais dos livros de Couto. Porque nós, Moçambicanos, esquecemos-nos das guerras, ou mesmo da escravatura? É porque estivemos tudo misturado, vítimas e culpados. Kalash é a própria prova disso, ele mesmo, Moçambicano negro, lutara do lado dos Portugueses na Guerra Colonial.

«Segredo da sobrevivência é almoçar com o diabo e comer os restos com os anjos.» (p. 154)

O Tio Aproximado personifica a figura dos novos-ricos. Os novos-ricos, os ricos de agora, os nossos irmãos que outrora tivemos a mesma causa. E que agora olha-nos com indiferença.

«Nunca há terra suficiente para enterrar uma mãe.» (p. 73)

Quanto ao inocente Mwanito, aquele a que foi negado a infância e amor de mãe. Trazido a Jesusalém ainda pequeno, desprovido de memória, não se recorda mais do Lado-de-Lá, e acredita no que o seu pai lhe conta. É através do seu olhar ingénuo que conhecemos o mundo que lhe rodeia. A falecida mãe, que não conheceu, é sua força motriz. Aliás, a misteriosa morte da Dordalma é que guia a trama. Afinal, ela é causa de tudo.

«O mundo termina quando já não somos capazes de o amar.» (p. 147)

Silvestre Vitalício é pura negação. Do passado, do futuro, do viver. Um homem que se isola de tudo e de todos mas que arrasta os filhos consigo para um mundo de esquecimento, de negação, de loucura. A morte da sua esposa é o que lhe leva a se isolar, a mudar de nome e de convicções. Vitalício acredita que «Um dia, Deus nos virá pedir desculpa.» (p. 12) pelo o sofrimento que Ele lhes causara.

Mia Couto é, em primeiro lugar, um poeta. Mestiça a poesia com a prosa duma forma incrível. É de tocar a alma. O livro prendeu-me de tal maneira que o li em um dia. Couto é um contador de histórias de mão cheia. Isso vem confirmar o merecido lugar de Couto na Literatura Moçambicana contemporânea. Já sei o que vou fazer agora: procurar uma outra obra de Mia Couto para ler.

«Em Jesusalém a Terra terá sempre mais terra.» (p. 151)

OUTRAS CITAÇÕES DO LIVRO:

«Quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares.» (p. 14)

«Se não há passado, não há antepassados.» (p. 24)

«Já fazemos batota no jogo. Agora, faremos batota na vida.» (p. 26)

«Saudade é esperar que a farinha se refaça em grão.» (p. 45)

«Quem sai do seu lugar, nunca a si mesmo regressa.» (p. 45)

«Ninguém se deve aproximar de um homem que faz de conta que não chora.» (p. 46)

«Quem quer vestir-se de lobo fica sem a pele?»(p. 47)

«Queres conhecer um homem, espreita-lhe as cicatrizes.» (p. 50)

«A guerra fere mesmo os que nunca saíram em batalha.»(p. 56)

«Os fantasmas nacionais não se dão bem com os estrangeiros.»(p. 79)

«Os africanos são todos bantos, todos parecidos, usam as mesmas manhas, os mesmos feitiços.» (p. 99)

«África é o mais sensual dos continentes.» (p. 107)

«A bem dizer, neste nosso mundo, haverá outro modo de viver que não seja por via de enganos?» (p. 163)

AVALIAÇÃO: 9/10

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Review by: Manuel Gimo

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cco.isabella 25/10/2017

Pura poesia
Acredito que só quem já leu um livro em prosa, mas parecidíssimo com a linguagem lírica, entenderá minhas reflexões sobre o Mia Couto...
Se você está procurando uma leitura reflexiva e repleta de metáforas, de uma sensibilidade gigante, acaba de encontrar a melhor opção!

"Estou exausta, Marcelo. Exausta, mas não vazia. Para se estar vazia é preciso ter dentro. E eu perdi a minha interioridade."

As personagens são construídas de uma forma que me fez acreditar realmente que estava com a presença delas no meu sofá, batendo um papo. Além dos acontecimentos surpreendentes durante toda a obra, típica do autor, né?

"Fique só mais um pouco. É que são raivas, tantas raivas acumuladas. Eu preciso afogar essas raivas e não tenho peito para tanto."

Sabe o que mais me fez amar este livro? O modo como me identifiquei com as personagens. Cada pessoinha intrínseca no desenvolver da história me fez refletir sobre o meu próprio interior.
Livro sensacional que levará o leitor a parar para pensar na solidão, denominação de loucura, características que são passadas às gerações. Realmente vale a leitura!
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Lonogueira 24/04/2018

Habilidade ímpar de emocionar
Escrita poética, envolvente . A dor de homem, que decide morrer socialmente, e o impacto que isso gera no núcleo familiar. O livro mostra o amor pelos olhos da dor, do homem, da mulher, do menino. Livrão!!!
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cami 24/04/2018

O Lugar para além dos lugares
Do Lugar para além de todos os lugares: Jerusalém, é sobre esse sítio que a narrativa se circunscreve. Pela via narrativa de Mwanito, o afinador de silêncios, é que temos acesso ao povoado construído para apagar as Memórias, o Tempo e a Vida.
Ao longo das 280 páginas acompanhamos o percurso das Vidas de 4 homens: de Mwanito; de seu irmão, Ntunzi; do militar, Zacaria Kalash; e do pai, Silvestre Vitalício.
De partida, só sabemos que os discursos do pai sustentam todos aferrados ali, se inscrevem de modo tão forte que somente ao Tio Aproximado é permitido o trânsito entre Jerusalém e Lado de Lá. O que está fora é miticamente apagado.
Ntunzi, no entanto, resiste às ordens do pai, guarda as letras, a escrita, as Memórias e a vontade de voltar ao que está Fora, tudo isso é proibido pela lei paterna. Mas ao pai só escapa em partes. Assim como todos ali, arranjam os pequenos escapes.
Sabemos também que a clausura é iniciada após a Morte da esposa, que carregava no Nome o destino: Dordalma.
Mais uma vez e como sempre, para Mia, nenhuma palavra é em vão.
O Livro nos apresenta essa relação bonita entre as palavras e os personagens de uma forma muito rica e linda, eu mais uma vez fiquei maravilhada, inclusive pela relação dos Mortos com os que ficam, e a beleza que marca a relação com a Natureza.
Fantástico!
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Palazo 23/11/2011

Cinco homens fogem para um local desabitado na savana africana. Tio Aproximado, o serviçal Zacaria Kalash, o pai Silvestre Vitalício e seus dois filhos Ntunzi e Mwanito. Eles instalam-se no local que ganha o nome de Jerusalém e fazem “reparos mínimos” para habitá-lo. Enquanto isso, Silvestre constrói uma cruz na entrada do acampamento, “por cima da cabeça de Cristo ele fixou uma tabuleta” desejando boas vindas ao “Senhor Deus” e repetia aos filhos sua crença:
“Um dia, Deus nos virá pedir desculpas”
Os motivos da fuga das cinco almas é a negação do próprio passado, que é recortado da memória e esquecido junto com o resto do mundo, também conhecido como o lado de lá. O ponto que gera a extradição para Jerusalém é a morte misteriosa de Dordalma, a mãe e Ntunzi e Mwanito.
Nesse contexto é construído o livro “Antes de nascer o mundo” do escritor Mia Couto, publicado pela Companhia das Letras. A obra é dividida em três partes. A primeira é chamada de “A humanidade”, onde são apresentados os moradores de Jerusalém. Na segunda parte, intitulada “A visita”, os moradores recebem uma inesperada presença que muda a rotina dos cinco e desencadeia a parte três do livro – Revelações e Regressos.
Apesar da continuidade das partes em que a obra se separa, a construção da narrativa não é linear. Os fatos aparecem entrecortados no meio da ação, alguns lapsos de memória são aos poucos resgatados e os fatos vão e vem sem qualquer nexo aparente. A história precisa ser montada pelo leitor juntando partes de capítulos, unindo pontos desconexos e evitando cair no jogo alucinógeno de Silvestre Vitalício.
A loucura da história tem como criador o pai dos dois garotos, porém ela é narrada quase em sua totalidade por Mwanito, o filho mais jovem. Os olhos do garoto não mostram nenhum ar infantil ou ingênuo, são carregados e envelhecidos pela perda da infância.
Na segunda parte, a narração do garoto é intercalada pela narrativa da visitante ilustre, Marta. Os motivos que levam a portuguesa a Jerusalém são opostos aos dos habitantes de tal região, porém mudam o rumo da narrativa e trazem novas revelações que vão moldando pouco a pouco cada personagem e detalhe da história.
Além da narrativa desconexa e intrigante, o texto de Mia Couto é carregado de uma prosa poética que encanta, quase que obrigando o leitor a andar sempre com um lápis para grifar ou anotar passagens curiosas. Introduzindo cada capítulo, há uma poesia que anuncia em seus versos o que está por vir. Os poemas são em sua maioria de Sophia de Mello Breyner Andresen, Hilda Hist e Adélia Prado.
Através de uma narrativa poética, Mia Couto cria um cenário em que os personagens convivem e encontram-se – ou escondem-se – no mesmo lugar. Em Jerusalém a perda é anunciada através da morte da mãe, do sumiço do mundo, do esquecimento do passado e da falta de um futuro. Porém, fica-se na dúvida se faltou confiança ou esperança aos habitantes, pois como diz o narrador: “Quem perde a esperança foge. Quem perde a confiança esconde-se”. E sinceramente, ainda me paira a dúvida se os habitantes de Jerusalém são fugitivos ou refugiados do mundo.
Antes de nascer o mundo
Autor: Mia Couto
280 páginas
Preço sugerido: R$ 46,50
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marcelo.batista.1428 26/05/2018

A leitura teve vários momentos, desde a completamente perdido a super empolgado. Quando cheguei ao final deu vontade de voltar ao início e tentar ligar pontos que ficaram soltos. Foi bom conhecer Mia Couto.
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Luciano 24/06/2018

A vida não foi feita para ser pouca e breve
Mia Couto é livro pra se ter não apenas na cabeceira da cama, mas da vida. O moçambicano trata, com leveza, sem deixar de lado a firmeza das palavras, temas como amor, infância, tempo, esquecimento, família e coragem.

- Em criança, não nos despedimos dos lugares. Pensamos que voltamos sempre. Acreditamos que nunca é a última vez.
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Mayara.Bernardino 12/03/2019

"As mulheres são como as guerras: fazem os homens ficarem animais."
"As mulheres são como as guerras: fazem os homens ficarem animais."

Terminei a leitura no dia 8 de março, dia em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, e que sincronia. Antes de nascer o mundo encaixa perfeitamente como um livro para ser lido nesta data, um livro onde a presença feminina é destaque durante toda a leitura, onde a mulher e seu poder, sua essência, sua unicidade são fatores marcantes na escrita de Mia Couto.
Fiquei simplesmente encantada com a forma como ele escreve e como ele soube colocar reflexões em uma narrativa, que ao meu ver, começou bem confusa, mas que ao longo do tempo foi se encaixando e tomando forma, uma narrativa cheia de detalhes estranhos, marcantes e pesados. Um histórias sobre o poder da mente sobre nossas atitudes, a solidão, os desejos, e a descoberta do novo. Como a nossa mente e o nossos medos nos impede de vivermos e como viver é um ato corajoso, difícil e desafiador, principalmente se a solidão faz parte desse viver. Nenhum ser humano consegue estar sozinho e chegar ao fim da vida em sã consciência, sem que sua mente tenha sido tomada pela loucura e necessidade do outro. Este livro fala muito disso, sobre a solidão, quando ficamos só com nossas ideias, nossas escolhas, nossos pensamentos e decisões. Quando a presença do outro não vale de nada se temos uma dor que toma conta da mente e nos faz sentirmos totalmente sós. Mostra como o ser humano pode se tornar cruel quando se prende a suas próprias dores, seus próprios monstros e sua própria solidão. Como as mulheres sozinhas são consideradas problemáticas, loucas, putas por serem só, como é dito na narrativa "neste mundo só somos alguém se formos esposa", ou seja, uma mulher só é mulher quando não vive sozinha, quando cuida de alguém, quando se casa. Ser mulher é um desafio neste livro, porém é a natureza feminina que transforma, que abala a loucura e a sensatez de um homem.
Fer 12/03/2019minha estante
Por um mundo igual.. Mas ainda estamos vivendo com selvagens


Marcos.Azeredo 14/01/2020minha estante
Um escritor que gosto muito.




Maju Deolindo 20/09/2019

Completa surpresa
Meu primeiro contato com o autor Mia Couto e me surpreendi infinitamente. Eu comecei sem expectativa nenhuma pq esse livro é leitura obrigatória da uerj 2020 e foi uma puta leitura foda. Ja quero ler outros livros desse escritor.
É muito incrível sair da mesmice das histórias Américanas, e encontrar muita coisa fantástica fora do padrão.
Antes de nascer o mundo vai contar a história de 5 homens que fogem da civilização com a suposta afirmação que eles são os únicos sobreviventes da raça humana.
Leiam! Vale muito a pena.
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Thiago.Milani 14/04/2020

Surpreendente.
Primeiro livro que li do Mia e me surpreendeu pela descrição e narrativa. Emocionante como o autor conta a história pelos olhos de uma criança.
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Aninha 07/01/2014

Afago para os olhos e para a alma
"... sou a letra que aguarda pelo afago dos teus olhos." (página 134)

Silvestre Vitalício se exilou em um fim de mundo de Moçambique, longe da civilização, com seus dois filhos (Ntunzi e Mwanito), seu cunhado (Aproximado) e seu serviçal (Zacaria Kalash), depois que sua esposa (Dordalma) faleceu.

Esses não são seus nomes de batismo: todos receberam um novo nome nessa terra de ninguém, que também recebeu um nome, Jerusalém, e passaram a viver sob as ordens e os delírios de Vitalício.

"Neste mundo existem os vivos e os mortos. E existimos nós, os que não temos viagem." (pág. 54)

Quem narra a história é Mwanito, 11 anos, que não se recorda da cidade de onde viera, nem de sua mãe. Ele aprende a ler e a escrever com o irmão mais velho, escondido do pai, rabiscando um velho baralho de cartas.

"...a escrita era uma ponte entre tempos passados e futuros (...) No jogo com a escrita, perdi-me sempre." (pág. 42)

Um dia, ele se depara com uma mulher (Marta) em Jerusalém, uma portuguesa branca e se assusta com os sentimentos que são despertados nele. Ela, por sua vez, está à procura de Marcelo, o marido que a traíra.

De uma forma que é peculiar de Mia Couto, vamos conhecendo os segredos de cada personagem, seus medos e seus desejos. A vida se avoluma e se perde, conforme o ritmo das tragédias e alegrias de cada um.

"A vida é demasiado preciosa para ser esbanjada num mundo desencantado." (pág. 23)

Ainda bem que existe um Mia para nos encantar com suas palavras...

Boa leitura!

site: http://cantinhodaleitura-paulinha.blogspot.com.br/2014/01/antes-de-nascer-o-mundo.html
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Renata 01/11/2013

Mia Couto - afinando silêncios
Mia é mago.
Faz de instantes longas poéticos.
Me traz à tona melancolias diversas, paisagens sonoras, e reverberações físicas em suas palavras.
Com esse não podia ser diferente. A história de Mwanito e sua infância roubada/criada, repleta de passagens bucólicas e mistérios a desvendar.
Traz ao leitor ecos do mais fértil e sensual continente.
Me marcou a mudança de ritmo a medida que o livro sucede.
Na infância a lentidão, o mundo cabendo em cada minuto.
Já na cidade e com a puberdade fatos importantes passam como que de relance.
Dessa vez não fiquei tão triste ao findar um livro. Não porque não gostara, mas sim por que fora leve.
Mia é mago e dentro de si há uma mulher, ou seria o tipo de homem que queremos ver nascer?
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