Clara Vellozo 13/04/2024
Amo a escrita de Mia Couto mas achei a história confusa
No mês de março, mês do meu aniversário, escolho uma leitura de Mia Couto, para me presentear com um dos meus escritores preferidos. Essa foi a vez de ?Antes de nascer o mundo? e confesso que tive sentimentos confusos em relação ao livro porque eu amo a maneira como ele escreve, a poesia de sua prosa, as palavras novas e divertidas que inventa, mas a história é confusa, não muito envolvente. Fez falta um certo ritmo narrativo, o início é muito lento, o desenvolvimento mais agitado e o final é um turbilhão de acontecimentos, reviravoltas e confissões que para mim não fizeram muito sentido.
Aqui temos a história de cinco pessoas, três homens e dois garotos que fogem e se isolam em um posto de guerra abandonado, rebatizado por eles com o nome Jesusalém (com S mesmo). Aliás, todos os cinco aqui recebem novos nomes porque chegam até o local numa tentativa de recomeçarem suas vidas, com exceção de Mwanito, o narrador da história que tampouco sabe o motivo da fuga e que vai desvendá-la aos poucos junto ao leitor.
É um Mia Couto, então é garantia de passagens ricas de detalhes, de reflexões sobre a vida, religião sociedade e natureza, e de uma poesia tão espontânea. Os diálogos são verdadeiras pérolas, um dos pontos altos do livro - nunca apreciei-os tanto como neste livro. Aqui também tem um amor bem refinado, uma espécie de pessimismo engraçado que me arrancou boas risadas. Só senti falta de um enredo mais interessante.