Antes de Nascer o Mundo

Antes de Nascer o Mundo Mia Couto




Resenhas - Antes de nascer o mundo


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Lari 15/08/2011

Esse livro é uma das coisas mais lindas que já li.

Numa linguagem única, prosa poética de Mia Couto vai fluindo, líquida e deliciosa, por entre as palavras... simplesmente apaixonante! Dá vontade de reler e reler e reler cada parágrafo, sugar toda a poesia que explode página após página do livro.


"não chegamos realmente a viver durante a maior parte da nossa vida. Desperdiçamo-nos numa espraiada letargia a que, para nosso próprio engano e consolo, chamamos de existência. No resto, vamos vagalumeando, acesos apenas por breves intermitências. Uma vida inteira pode ser virada no avesso num só dia por uma dessas intermitências."


Recomendo a todos essa viagem infinita aos mais nobres e profundos sentimentos que podemos experimentar.
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Jugirassol 21/01/2021

"A vida não foi feita para ser pouca e breve. E o mundo não foi feito para ter medida."

E eu que não conhecia esse autor, me encantei com sua prosa poética própria e original, uma literatura leve e ao mesmo tempo surpreendente.
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Paula1882 19/05/2020

O primeiro livro do Mia Couto que li, e me deixou com vontade de ler todos os outros. A forma como ele escreve é encantadora e arrebatadora.

"quem viveu pregado a um só chão não sabe sonhar com outros lugares."
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Rhuana.Macedo 02/06/2020

Poético e emocionante
Através da jornada dos moradores de Jesusalem somos levados a redescobrir a vida e morte e como esses dois acontecimentos estão interligados.
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duda 15/11/2019

opinando
A história traz grandes reflexões sobre solidão, culpa, desejos, infância perdida, luto não vivido e a importância que a mulher tem na vida de alguém mesmo não estando mais presente.
A transparência em que é mostrada a forma em como os homens conseguem nos ver apenas como objetos, ter a mentalidade de que fomos feitas para seguir um padrão é tanta que chega a ser desconfortante; nunca envergonhá- los, sempre estar ali prontas para servir em todas as áreas. Nos limitam em curvas e olhares, nos limitam a sermos amparo emocional deles como se não fossem capaz de cuidar de si.
No livro também relata que o machismo pode afetar muito o homem, o próprio Silvestre sofre as consequências de um ato consequente de sua mentalidade sexista. A falta que sente da mulher, a culpa que sente pela morte da mesma e o luto que insiste em sufocar. Silvestre se isola em Jesusalém tentando se livrar de todos esses sentimentos, para ele a vida acabou no momento em que Dordalma se foi. E de fato acabou, pois a cada dia ele matava um pouco de si.
São muitas as reflexões profundas que esse livro traz; como o fato de Mwanito ter envelhecido anos com as experiências traumáticas que teve com apenas 11 anos de idade; as confusões internas que Zacarias trazia da vida de militar; a vontade de viver de Ntunzi, que já tinha experimentado o que era o mundo, mas teve que se isolar por ordem do pai; as sentimentalidades de Marta em relação ao marido, entre outras.
É uma leitura que com certeza impacta e que nos coloca para refletir várias questões da vida. O livro mostra quão poderosa é a nossa mente, e o como a nossa maneira de lidar com as fatalidades pode transformar a nossa vida e a de quem nos cerca.
lyssa 28/09/2020minha estante
caramba que resenha incrível!!




André Vedder 07/01/2011

o afinador de prosa
Já sou suspeito em tecer elogios ao Mia Couto, acho a prosa dele uma das mais bonitas que já li...poucos autores me fazem ao ler um parágrafo, retornar e reler uma, duas ou três vezes o mesmo novamente, Mia Couto é um deles.
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karolevintedois 27/03/2023

Esse livro me fez chorar igual um bezerro desmamado por uma noite inteira. Adorei. Profundo, poético, lindo e muito triste.
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Luciana 22/02/2020

Poético
?O mundo termina quando já não somos capazes de o amar? - Mia Couto

Antes de nascer o mundo foi meu primeiro contato com a obra de Mia Couto e deixou uma marca profunda em mim. O livro é denso, envolvente e intenso! O autor consegue tratar de temas difíceis como solidão, luto, suicídio, depressão de um modo tão poético que nos faz questionar nossos próprios pensamentos e convicções.
Ademais, as mulheres exercem papéis de destaque. Por meio de Dordalma, Marta e Noci, Mia Couto problematiza as relações hierárquicas e machistas daquela sociedade e as marcas que causam em todas as personagens.
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Ale Giannini 09/06/2020

Linguagem rica
Há muito tempo queria conhecer Mia Couto e comecei bem, recomendado por amigos, talvez o melhor livro dele, senão o mais poético. Espero ler outros e conhecer mais sobre a cultura africana.
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Rodrigo Brasil 02/06/2020

O afinador de silêncios
Aqui, Mia Couto traz a história de uma família reclusa da civilização.
O livro é narrado por Mwanito, o filho mais novo, que acompanha àquela invenção criada por seu pai.
Jerusalém, um sítio afastado na região de Moçambique? Não sabemos, só sabemos que é um local distante, três dias da cidade mais próxima.
Ali, Mwanito e Ntunzi, seu irmão mais velho, aprendem o que é a vida, a solidão, a culpa e as marcas do sofrimento que arrebataram seu pai.
Com uma escrita clara, delicada e poética, conhecemos esse mundo de silêncios. Um mundo onde tudo é possível.
Nunca havia lido Mia Couto, depois desse vou ter que procurar mais obras do autor. Um Livraço!
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sonia 19/10/2013

O bem e o mal estão na mente do homem, e cada um faz suas próprias escolhas e é responsável por seu próprio destino, afirma a filosofia.
As verdadeiras histórias não são sobre fatos, sim como as pessoas sentem e reagem a eles.
Tanto homem traído, tanta mulher atacada, tanto filho órfão, e tantas histórias tão diferentes a serem contadas. Um escolhe superar, outro escolhe proteger seus entes queridos, outros escolhem enfiar-se em si mesmos, esconder-se do mundo, egoísticamente sacrificando seus mais próximos parentes e amigos. O sofrimento pode levar à loucura, como pode levar à redenção. Concordo com o poeta Drummond que, no poema Os ombros suportam o mundo, diz:
‘Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.’
A história lindamente contada por Mia Couto relata a destruição decorrente do comportamento de seu personagem principal, que arrasta em sua loucura até os filhos, privando-os de uma infância com alegria, afeto, esperança, projetos de future.
O personagem, enredado em seu perpétuo sofrimento, não sabe, que, nesta vida, como diz Saint-Éxupéry: ‘para trás não há caminho’. É preciso ter sabedoria, amor, enfrentar os desafios da vida e prosseguir, ou então, como o personagem do romance, seremos destruídos por nossos demônios interiores.
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Antonio Celso 07/01/2013

A escrita de Mia Couto é simplesmente fascinante. Definir assim é mais fácil e simples que refletir sobre seu conteúdo e estrutura mais seriamente. Mesmo acreditando que suas intenções como escritor estão muito além de simplesmente entreter o leitor, a leitura flui singelamente. Conforme algumas entrevistas suas que acompanhei nestes últimos anos percebo que sua preocupação esta colada à militância ecológica e na busca de ações sérias e comprometidas com a estabilidade da biodiversidade do planeta. Claro que estas preocupações já bastariam para seu reconhecimento no universo literário. Mas seus escritos muito nos trazem reflexões sobre a estabilidade entre o particular e universal que acomete os homens nestes momentos de difícil lida mundial, globalização econômica e acirramento da pobreza em bolsões cada vez mais numerosos e próximo da barbárie.
Recordo-me esparsamente de sua fala no filme “Línguas-Vida em português” do diretor lusitano Victor Lopes, documentário belíssimo por sinal. Mia Couto, andando descalço pela praia vai aos pouco descrevendo aquele mundo a parte da oralidade daquela região passada e repassada por várias gerações. Um mundo próprio em que podemos relacionar as vidas e culturas dos habitantes da região costeira de Moçambique como uma forma e dimensão de inteiração entre o particular e o universal. Em sua fala aponta que, pois, os habitantes desta região vivem dois mundos de proporções e dimensões espirituais e sensitivas incalculáveis numa delimitação geográfica muito reduzida, que para nossa cultura poderia ser classificada como ínfima, simplesmente por não ter registros gráficos. Porém, isto para nos, ocidentais, e as experiências de oralidade dos homens daquele lugar não o é de fácil compreensão. Sua fala neste documentário delimita que a relação entre o particular e o universal pode ocorrer ou ser pressentido mesmo a partir das ações mais introspectivas do ser humano e experiências matériais que muitas vezes são definidas como de pouco alcance, principalmente pela ausência da escrita ou das condições sociais reconhecidas como “civilizadas”pelas sociedades industriais. Este é o ponto de partida para observamos a relação entre o universal e o particular; é isto que consigo perceber em sua escrita. O romance “Antes de nascer o Mundo”, que alias como li na critica de divulgação teve o titulo de “Jesusalém” na África e Europa, nos coloca a tudo momento diante desta questão: o particular dos homens em seus mundos limitados e delimitados pelos seus termos imediatos e a reflexão profundamente humanizante que os movem para além do mundo imediato e material.
A profunda reflexão do ser humano que o conduz pelas veredas materiais de seu mundo imediato nem sempre tem sua origem objetivamente no exterior. Os sonhos e projeções não podem ser descartados como simples desdobramentos da produção material, mais também não estão isolados. O pleno do humano é a inteiração entre as duas dimensões. O particular e o universal é o próprio devaneio, este novo plano é a integridade ou o próprio homem como tal. Quanto mais os homens e seus devaneios afundam-se em suas entranhas, em suas particularidades, em suas permissividades, ai é que mais flutua em suas experiências sociais, conflitos e sonhos em passagens de autonomia e coalizões. A diferença é que isto ocorre no seu interior sem que seja diretamente instigado pelo exterior. É a forma como percebo as inteirações entre os personagens construídos no romance “Antes de nascer o mundo” de Mia Couto.
Sustentando estas idéias, sua escrita plaina entre a prosa e o verso. A fluidez da prosa com as ondulações e harmonias próprias das construções poéticas mais profundas.
Algumas passagens considero belíssimas fazem justamente a ponte entre a situação fantástica e a reflexão que aproxima das preocupações de nosso cotidiano. A situação fantástica beira a Gabriel Garcia Marques.
A história do livro gira em torno de uma família que vai morar em um sítio distante de todos e tudo. Formada pelo pai, Silvestre Vitalicio, o filho mais novo Mwanito e o mais velho Ntunzi, um soldado tipo ajudante de ordem Zacaria Kalash e o tio Aproximando, este é que faz o contato com o mundo exterior de Jesusalém, assim é denominado o lugar, e uma jumenta Jezibela. A história é narrada pelo filho mais novo Mwanito, que chega em Jesusalém com poucas lembranças de sua mãe falecida Dordalma e quase nenhuma do restante do mundo. Este é Mwanito:
“A família, a escola, os outros, todos elegem em nós uma centelha promissora, um território em que poderemos brilhar. Uns nasceram para cantar, outros para dançar, outros nasceram simplesmente para serem outros. Eu nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios no plural. Sim, porque não há um único silencio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.
Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios.
-Venha, meu filho, venha ajudar-me a ficar calado.” (pág.13/14)
No universo criado por Silvestre é proibido qualquer alusão ao mundo exterior e principalmente ao sexo feminino. O universo e o mundo se restringe a Jesusalém, o restante não mais existe como afirma e reafirma a autoridade de Silvestre para com todo o grupo.
“A verdade é que, no trono absoluto da sua solidão, meu pai se desencontrava com o juízo, fugindo do mundo e dos outro, mas incapaz de escapar de si mesmo. Talvez fosse esse desespero que o fazia entregar a uma religião pessoal, uma interpretação muito própria do sagrado. Em geral, o serviço de Deus é perdoar os nossos pecados. Para Silvestre, a existência de Deus servia para O ocuparmos pelos pecados humanos. Nessa fé às avessas não havia rezas, nem rituais: uma simples cruz na entrada do acampamento orientava a chagada de Deus ao nosso sítio. E a placa de boas-vindas, encimando o crucifixo: “Seja bem-vindo, ilustre visitante!”.
-É para Deus saber que já lhe perdoamos.
A esperança da aparição divina suscitava no meu irmão um sorriso de desdém:
- Deus? Aqui é tão longe que Deus se perde no caminho.” (pág. 47)
Mwanito vai crescendo com as experiências passada pelo irmão Ntunzi, o mais velhos que aos pouco vai revelando verdades que Silvestre quer enterrar e refazer. Os próprios nomes de toda a família é rebatizados por Silvestre e somente o tio Aproximando tem contato com o exterior.
“A cidade desmoronara, o Tempo implodira, o futuro ficara soterrado. O meio irmão de Dordalma ainda o chamou a razão: quem sai do seu lugar, nunca a si mesmo regressa.
-Você não tem filhos, cunhado. Não sabe o que é entregar um filho a este mundo podre.
-Mas não lhe resta nenhuma esperança, mano Silvestre?
-Esperança? O que perdi foi a confiança.
Quem perde a esperança foge. Quem perde a confiança esconde-se. E ele queria as duas coisas: fugir e esconder-se. Mas nunca suspeitássemos de haver em Silvestre um sentimento de desamor.
-Vosso pai é um homem bom. A sua bondade é a de um anjo que não sabe onde está Deus. É só isso.
Em toda sua vida, teve um único desempenho: ser pai. E todo o bom pai enfrenta a mesma tentação: guardar para si os filhos, fora do mundo, longe do tempo.” (pág. 74/75)
Este universo mágico é quebrado com a chegada de uma mulher portuguesa em busca de informações do marido perdido. Na verdade um soldado português que abandona a metrópole e retorna a África em busca de um sonho perdido, assim ela compreende sua partida. Marta passa a viver em torno do acampamento colocando em cheque a autoridade e as verdades que ordena o mundo de Silvestre. Desestabiliza a lógica do lugar e aprofunda a loucura de Silvestre que inválido não tem outra alternativa à não ser retornar para cidade onde a história tem seu desfecho.
Neste cenário fantástico e simples Mia Couto nos brinda com formulações brilhantes e profundas que de momento a momento nos levam a refletir sobre os caminhos que estão sendo construídos pela moderna sociedade ocidental industrial e o homem como principal personagem desta construção. A escrita que plaina entre a prosa e o verso é de uma profundidade imensa que merece ser degustada e divulgada.
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Madu 08/07/2020

Quase uma experiência de contemplação...
Se existe um livro que PRECISA ser lido, é Antes de Nascer o Mundo, do escritor e também poeta moçambicano, Mia Couto. Ele conta a história de um pai que se refugia com os filhos em um lugar remoto, após um grande acontecimento. Um dos motivos que tornam esse livro tão especial é a narração, a partir do ponto de vista de uma criança que, literalmente, cresce diante dos nossos olhos. Por conta disso, cada situação na obra é observada de uma maneira diferente, como se por uma lente de inocência e ingenuidade, embora sempre de maneira poética.
?Uma terra é nossa como uma pessoa nos pode pertencer: sem nunca dela tomarmos posse.? - pág, 84.
É impossível terminar essa leitura sem levar algo de um dos diversos personagens tão bem construídos. Antes de Nascer o Mundo é um daqueles livros que tem o poder de mudar você, de alguma forma.
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regifreitas 01/04/2010

Os segredos de se escrever como um ourives
Primeiro livro de Mia Couto que leio, e devo declarar que fiquei impressionado com a prosa-poesia desse autor moçambicano. Infelizmente conhecemos pouco, no Brasil, a produção literária de outros países de língua portuguesa. José Saramago talvez seja uma das raras exceções (talvez muito mais por causa do Nobel de Literatura ganho em 1998, o que inevitavelmente o lançou aos olhos de um público mais amplo), mas no geral esses escritores recebem pouco espaço na mídia, sendo mais conhecidos nos meios acadêmicos do que aos olhos do grande público.

Assim, a curiosidade despertada pela leitura me fez ir atrás de mais informações sobre o autor. Mia Couto (nascido António Emílio Leite Couto, em 1955) é somente o autor moçambicano de maior destaque em seu país, sendo que seu livro de estréia, Terra sonâmbula (1992), foi considerado um dos dozes melhores livros africanos do século XX. Publicado em mais de vinte países, o autor já foi traduzido em inglês, alemão, italiano, francês, espanhol e até catalão. Iniciando a vida universitária cursando medicina, Mia Couto abandonou o curso para se dedicar ao jornalismo, atividade que exerceu durante muito tempo. O jornalismo também foi deixado de lado para seguir o curso universitário na área da biologia. Atualmente o autor exerce a atividade de biólogo em um parque que faz fronteira entre a África do Sul, Moçambique e Zimbábue (Parque Transfronteiriço de Limpopo). Além de romances o autor também já publicou contos, poesias e crônicas.

Antes de nascer o mundo foi publicado em 2009. É a narrativa de cinco almas exiladas do mundo (em um local denominado pelo patriarca Silvestre Vitalício de Jerusalém, “a terra onde Jesus haveria de se descrucificar”), fugindo e negando um passado traumático e misterioso que vai se esclarecendo ao longo do texto. Além de Silvestre, já mencionado, o grupo se compõe dos irmãos: Mwanito (o afinador de silêncios) e Ntunzi, e do ex-militar e serviçal da família, Zacarias Kalash. Além desses personagens, existem dois semi-habitantes de Jerusalém: o Tio Aproximado, cunhado de Silvestre, que não mora no lugarejo, mas o visita de quando em quando, sendo o responsável pelo abastecimento de “mantimentos, roupas e bens de necessidade”, e a jumenta Jezibela, “tão humana que afogava os devaneios sexuais” do velho Silvestre. Contudo, a presença de maior força e o fio que une todas essas pessoas é Dordalma. Mãe, mulher, irmã e amante, ela está presente ao longo de todo o romance, na memória dos habitantes de Jerusalém. É Ntunzi quem diz: “Os mortos não morrem quando deixam de viver, mas quando os votamos ao esquecimento”. Embora todo o empenho de Silvestre em obliterar a existência dessa mulher, seu fantasma insiste em assombrar a vida dessas pessoas.

O texto de Mia Couto é carregado de poeticidade e de metáforas sobre a existência e a solidão, da fuga de uma realidade indesejada, mas que não deixa de se fazer presente nas memórias dos habitantes dessa nova Jerusalém. Somente Mwanito é isento de recordações, pois não carrega nenhuma lembrança do passado, seja da mãe morta ou da sua existência anterior em um mundo que o pai teima em dizer que já não existe mais. Contudo, é o próprio Mwanito quem tenta desvendar o passado, reconstituir o que o pai tenta por todas as maneiras apagar. A chegada de Marta vai trazer a realidade do mundo do “lado-de-lá” novamente para Jerusalém e abrir as velhas feridas que na realidade nunca cicatrizaram, e que vai novamente mudar a vida dessas cinco pessoas.

Mia Couto vai desvendando e desnudando esses personagens, revelando suas motivações e o que os levou ao auto-exílio naquele lugar, e a força que os restituirá inexoravelmente à existência. Conforme o autor diz pela boca de Zacarias Kalash, “[...] queres conhecer um homem, espreita-lhe as cicatrizes”.

Foi o primeiro, mas com certeza não será o único. A leitura despertou-me o desejo de conhecer outras obras desse artífice da palavra.
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