Thiene Morais 15/02/2021Muito intenso, gostei bastante.- Pai, a mãe morreu?
- 400 vezes
- Como?
- Já vos disse 400 vezes: vossa mãe morreu, morreu toda, faz de conta que nunca esteve viva.
- E está enterrada onde?
- Ora, está enterrada em toda parte.
Esse diálogo entre o garoto Mwanito e seu entristecido pai, num confim perdido na Savana de Moçambique, beira o fantástico para descrever o destino das almas desgarradas que protagonizam esta história.
É de uma simplicidade estarrecedora as condições de vida de cada um ali. Mas de uma complexidade absurda a forma em que é expressada o algar em que eles se vêem. Dá para sentir na alma as expressões, a posição em que cada um tem consciência de estar.
O livro, conta a história de 5 moçambicanos: Mwanito, Nitunzi, Silvestre Vitalício, Zacharias e Aproximado. Eles foram viver numa terra que Silvestre denomina Jerusalém. Silvestre diz a todos que o mundo acabou, anulando o passado e em busca de um futuro improvável. E neste caminho, resta apenas Jerusalém para habitar, e ela é uma terra inabitável.
Até que chega ali uma Portuguesa chamada Martha que transforma a vida de cada um de uma maneira diferente e sai também transformada.
O livro é em si, cheio de devaneios e delírios, profundos e enigmáticos.
No diário, Martha escreveu:
"Escrevo sem ter nada o que dizer. Porque não sei o que te dizer do que fomos. É nada tenho para te dizer do que seremos. Porque sou Como os habitantes de Jerusalém. Não tenho saudade, não tenho memória: meu ventre nunca gerou vida, meu sangue não se abriu em outro corpo. É assim que envelheço: evaporada em mim, véu esquecido em banco de igreja".
Esta história me tocou demais. Gostei muito do enredo e da escrita fluida do Mia. Escritor que tem uma serie de prêmios literários entre eles Camões.
Indico demais a Leitura, mas confesso que não leria novamente devido a sua profundidade e intensa reflexão em que fiquei pós leitura. Mas, com certeza, ele precisa ser lido pelo menos 1x na vida ?