O último voo do flamingo

O último voo do flamingo Mia Couto




Resenhas - O Último Voo do Flamingo


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Fabiana 23/08/2020

Frases fortes
Mia Couto e aquela vontade de: Ops! Preciso ler tudo outra vez! Muita coisa para absorver!
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Paulinho 13/02/2013

O Último Voo do Flamingo
O Último Voo do Flamingo publicado em 2000 é o quarto romance desse grande escrito moçambicano que é Mia Couto. Li o livro pela primeira vez em 2010 no último ano do meu ensino médio numa época conturba que é a do vestibular. Lembro de o livro ter-me encantado já nesse período, mas dois anos depois terminando o quarto semestre da faculdade de História, depois de ter estuda África, é que acredito ter penetrado profundamente o livro. Essa segunda leitura foi executada com muita atenção, pois uma proposta de uma das minhas disciplinas deste semestre, África II, é um ensaio de uma obra de literatura africana relacionada com textos acadêmicos.
A primeira a destacar é claro são a beleza e a força das palavras de Mia, seus neologismos, as paranomásias, aliterações, Assonância, e inúmeras outras formas de se brincar com as palavras. O narrador justifica seus neologismos:

“[...] Me condenaram. Que eu tenha mentido isso não aceito. Mas o que se passou só pode ser contado por palavras que ainda não nasceram.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Página 09.

Já no início o narrador justifica por que é preciso escrever esse livro, ou seja, contar essa história.

"Hoje são vozes que não escuto se não no sangue, como se a sua lembrança me surgisse não da memória, mas do fundo do corpo.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Página 09.

Ainda me referindo a prosa, a vontade que dar é ler o livro em voz alta para escutar os sons das palavras. Ver, falar e escutar para uma captação maior da beleza dessa escrita. Li e reli parágrafos e até capítulos inteiros só pela beleza e pelo sabor sinestésico de deslumbrar, vislumbrar toda força lírica do texto de Mia Couto.

“Se temos voz é para vazar sentimento. Contudo, sentimento demasiado nos rouba a voz.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 10: OS Primeiros Rebentamentos. Página 111-112.

A história de O último voo do Flamingo se passa um ano depois da Guerra de Independência, soldados das Nações Unidas começam a explodir e a única coisa que resta desses infelizes é o órgão genital. Mia faz, também, uma denuncia dos atuais governos, corruptos e ambiciosos.

"A primeira vez que escutei os rebentamentos acreditei que a guerra regressava em suas tropas e tropéis. Meu pensamento tinha uma só ideia: fugir. Passei pelas últimas casas de Tizangara, minha pequena vila natal. Ainda vi, se silhuetando longe, a minha casa natal, já mais perto, a residência de Dona Hortênsia, a torre da Igreja. A vila parecia em despedida do mundo, tristonha como tartaruga atravessando o deserto.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 10: OS Primeiros Rebentamentos. Página 109.

Mia critica a ação das Nações Unidas, sua ineficácia:

“Morreram milhares de moçambicanos, nunca vos vimos cá. Agora, desapareceram cinco estrangeiros e já é o fim do Mundo?”
ANA DEUSQUEIRA. O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 2: Missão de Inquérito. Página 32.

O último Voo do Flamingo serve também para percebermos os preconceitos que existem em quase todas as sociedades e também nas sociedades africanas.

“Percebeu-se algum desprezo no modo como disse "mulato". O padre Munhando já falara contra esse preconceito. O pensamento do sacerdote ia direito no assunto: mulatos, não são todos nós? Mas o povo, em Tizangara, não se queria reconhecer amulatado. Porque o ser negro - ter aquela raça - nos tinha sido passado como nossa única e última riqueza. E alguns de nós fabricavam sua identidade nesse ilusório espelho.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 5:A Explicação de Temporina. Página 59.

O Último Voo Do Flamingo é um livro que deve ser lido e relido muitas vezes seja pelo valor da historicidade abordada na obra (Moçambique pós Guerra de Independência), seja por nos revelar uma África, diversa, mística, despedaçada, esperançosa, seja pelos personagens e suas histórias encantadas e encantadoras ou seja pelo belíssimo trabalho de escrita poética.

Encante-se, comova-se... Sonhe; leia.

"E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de sermos humanos? Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podermos violar, morder, matar. Sem culpa, sem juízo, sem perdão. A desgraça é esta: só uns poucos aprenderam a lição da humanidade.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 17: O Passarinho na Boca do Crocodilo. Página 178.

Enquanto livros como esse forem escritos canções continuaram sendo cantado e os flamingos, " os anjos róseos", continuaram seu voo.
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ana liz 12/03/2024

Há coisas que fazem o homem, outras fazem o humano.
? O mundo não é o que existe, mas o que acontece.

Jonas ria-se: ele não abusava; os outros é que não detinham poderes nenhuns.

? O que não pode florir no momento certo acaba explodindo depois.

Morreram milhares de moçambicanos, nunca vos vimos cá. Agora, desaparecem cinco estrangeiros e já é o fim do mundo?

? Vantagem de um estranho é que confiamos essa mentira de termos uma só alma.

Deus me deu tarefa de morrer. Nunca cumpri. Agora, porém, já aprendi a obediência. Palavras de Dona Hortênsia.

Conselhos de minha mãe foram apenas silêncios. Suas falas tinham o sotaque de nuvem.

A vida, meu filho, é uma desilusionista.

Em fins de tarde, os flamingos cruzavam o céu. Minha mãe ficava calada, contemplando o voo.

Não vê os rios que nunca enchem o mar? A vida de cada um também é assim: está sempre toda por viver.

Como não tinha quem lhe tivesse amado ela deixara os objetos se apaixonarem por ela. Esses pertences se suicidariam sem a sua companhia.

Tínhamos orientações superiores: não podíamos mostrar a Nação a mendigar, o País com as costelas todas de fora. Na véspera de cada visita, nós todos, administradores, recebíamos a urgência: era preciso esconder os habitantes, varrer toda aquela pobreza.

Uma puta nunca é ?ex?. Há ex-enfermeira, há ex-ministro... só não existe ex-prostituta. A putice é condenação eterna, uma mancha que não se lava nunca mais.

E disse que, afinal, o padre Muhando tinha razão: o inferno já não aguenta tantos demónios. Estamos a receber os excedentes aqui na Terra.

Não será que deveríamos cuidar melhor da vida das massas? Porque a verdade é que o caracol nunca deita fora a sua concha. O povo é a concha que nos abriga. Mas pode, repentemente, tornar-se no fogo que nos vai queimar. Até me dá arrepio pensar nisso, eu que já senti as mãos queimarem-se. Esta luta, Excelência, é da vida e da morte e vice-versamente.

O cão lambe as feridas? Ou é já a morte, por via da chaga, que beija o cachorro na boca?

Ninguém era prisioneiro senão de seu próprio destino.

Culpa do vigente regime de existirmos. Aqueles que nos comandavam, em Tizangara, engordavam a espelhos vistos, roubavam terras aos camponeses, se embebedavam sem respeito. A inveja era seu maior mandamento. Mas a terra é um ser: carece de família, desse tear de entrexistências a que chamamos ternura. Os novos-ricos se passeavam em território de rapina, não tinham pátria. Sem amor pelos vivos, sem respeito pelos mortos. Eu sentia saudade dos outros que eles já tinham sido.

Porque, afinal, eram ricos sem riqueza nenhuma. Se iludiam tendo uns carros, uns brilhos de gasto fácil. Falavam mal dos estrangeiros, durante o dia. De noite, se ajoelhavam a seus pés, trocando favores por migalhas. Queriam mandar, sem governar. Queriam enriquecer, sem trabalhar.

? A guerra nunca partiu, filho. As guerras são como as estações do ano: ficam suspensas, a amadurecer no ódio da gente miúda.

O que faz a lágrima? A lágrima nos universa, nela regressamos ao primeiro início. Aquela gotinha é, em nós, o umbigo do mundo. A lágrima plagia o oceano. Pensava ela por outras, quase nenhumas, palavras. E suspirou:?Haja Deus!

? As ruínas de uma nação começam no lar do pequeno cidadão.

Por que o nosso país carecia de inspetores de fora? O que tanto nos desacreditara aos olhos do Mundo?

Se de alguma coisa temos que tratar bem é do esqueleto, nossa tímida e oculta eternidade.

Viver é fácil: até os mortos conseguem. Mas a vida é um peso que precisa ser carregado por todos os viventes. A vida, caro senhor, a vida é um beijo doce em boca amarga. Se acautele com eles, meu amigo. Uns não vivem por temer morrer; eu não morro por temer viver. Entende, o senhor? O tempo aqui é de sobrevivências. Não é lá como na sua terra.

Somos madeira que apanhou chuva. Agora não acendemos nem damos sombra. Temos que secar à luz de um sol que ainda não há. Esse sol só pode nascer dentro de nós. Está-me seguindo, completo?

? Há coisas que fazem o homem, outras fazem o humano.

o tempo é o eterno construtor de antigamentes.

Logo ele, amargo, culpando o mundo:?E a terra, a nossa terra, alguém já perguntou se ela se está sentindo bem?

Eu estava como o prisioneiro que encontra no carcereiro o único ser com quem trocar as humanidades. E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de sermos humanos? Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podermos violar, morder, matar. Sem culpa, sem juízo, sem perdão. A desgraça é esta: só uns poucos aprenderam a lição da humanidade.

Estes poderosos de Tizangara têm medo de suas próprias pequenidades. Estão cercados, em seu desejo de serem ricos. Porque o povo não lhes perdoa o facto de eles não repartirem riquezas. A moral aqui é assim: enriquece, sim, mas nunca sozinho. São perseguidos pelos pobres de dentro, desrespeitados pelos ricos de fora. Tenho pena deles, coitados, sempre moleques.

Os homens são assim, fingidos de força, porque têm medo. Ela me tocou, leve, e disse:?Você é forte, não precisa provar nada para ninguém.

Ia apoiar Ana Deusqueira, juntar-se às outras mulheres. Elas, em si, compunham uma outra raça.

os nossos antepassados nos olham como filhos estranhos. E quando nos olham já não nos reconhecem.

Do que me lembro jamais eu falo. Só me dá saudade o que nunca recordo. Do que vale ter memória se o que mais vivi é o que nunca se passou?

Faltava gente que amasse a terra. Faltavam homens que pusessem respeito nos outros homens.

os nossos antepassados nos olham como filhos estranhos. E quando nos olham já não nos reconhecem.

Face à neblina, nessa espera, me perguntei se a viagem em que tinha embarcado meu pai não teria sido o último voo do flamingo. Ainda assim, me deixei quieto, sentado. Na espera de um outro tempo. Até que escutei a canção de minha mãe, essa que ela entoava para que os flamingos empurrassem o sol do outro lado do mundo.

????

Na tradição daquele lugar, os flamingos são os eternos anunciadores de esperança.

último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência?a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores.
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Paulo Victor 09/07/2020

O Último Voo do Flamingo de Mia Couto é um livro bastante interessante. Além de narrar uma ótima história, o livro apresenta as variações linguísticas da língua portuguesa moçambicana. Foi muito legal poder ler este livro e fazer comparações das literaturas de língua portuguesa.
O livro ganhou um filme no ano de 2010, o que vale a pena conferir também.
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Maju Deolindo 13/01/2024

Flamingo
O último voo do flamingo foi meu terceiro contato com o autor e como sempre Mia couto entregou uma obra única, com um tom irônico, e cheio de críticas necessárias. Apesar disso também é uma obra diferente das outras com um enredo com soldados sendo explodidos e só sobrando o órgão deles, fica a ressalva que é no estilo realismo mágico e pode ser que não funcione com todos.
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Ladyce 02/01/2010

Que linguagem maravilhosa!

Recentemente li que o jornal Independent de Londres havia qualificado este livro como o melhor livro estrangeiro publicado em 2004, na Inglaterra. Merece! Esta é uma história contada como um sonho. Não chega à narrativa onírica dos surrealistas, nem tampouco ao realismo mágico de um Garcia Marquez. Mas a realidade às vezes é muito difícil de ser tratada diretamente e uma narrativa sedutora e fantástica pode retratar com maior precisão o mundo sem pé nem cabeça e real da política, da guerra e das heranças coloniais. Para nós, brasileiros, qualquer livro de Mia Couto é um passeio delicioso pela língua portuguesa, pela nossa língua, pela língua moçambicana. Seus livros só nos enriquecem. Quantas vezes parei a leitura para deliciar-me com a repetição de frases, de vocábulos que são tão verdadeiros na sua formação, tão inteligíveis e mesmo assim até então de uso único por Mia Couto [?] ou pelo português de Moçambique? Não sei. Não importa, vale pelo prazer se ler.
2005
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Cris 04/05/2019

Demorei 5 anos para entender o sentido desse livro, e o achei genial!
Li O Último Voo do Flamingo em 2009, era uma das leituras obrigatórias para a prova da Ufba. Comecei e terminei sem entender bulhufas! Conclusão na época: Livro sem pé nem cabeça, odiei!
Só que, anos depois, pesquisando sobre Mia Couto, resolvi ler resenhas deste livro e finalmente pude entender todo o simbolismo por trás das "explosões" dos militares, além do estilo de escrita do próprio Mia.
Rick 02/02/2020minha estante
Wow! Obrigado por sua resenha. Terminei o livro justamente pensando nisso: não entendi nada RS. Vou guardar esse livro para ler novamente tentando analisar essas referências


Cris 03/02/2020minha estante
Boa! ?




Layla.Ribeiro 12/07/2018

O cenário do livro é uma pequena província moçambicana , pós guerra civil, na qual soldados estrangeiros, enviados pela ONU vão ao país em busca de retomar a paz no local. O nosso narrador personagem, é um moçambicano, utilizado pela comunidade como um tradutor de um italiano que tenta resolver o mistério por trás do desaparecimento dos seus soldados. Ele vai narrar inicialmente sobre um acontecimento que mexeu com a curiosidade de todos da província, o caso de um penis que aparece misteriosamente sem o dono no meio da cidade, após o barulho de uma explosão. Essa é a minha primeira leitura de uma obra do famoso Mia Couto, custei um pouco de terminar o livro, por ele em todo enredo, misturar metáforas com a realidade, porém quando comecei a me acostumar com a leitura, nos capítulos finais, comecei a admirar a riqueza dessa obra, da forma poética como o autor fala de Moçambique e da sua cultura e a crítica sutil que ele faz sobre como os estrangeiros (europeus), se intrometem nos assuntos africanos, impedindo que o continente caminhe com seus próprios pés.
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Irving Bruno 29/08/2022

Realismo mágico e muita subjetividade
Como fã do REALISMO MÁGICO e tendo amado obras como "100 anos de solidão" e " Torto arado" ( Uma obra anterior e outra posterior ) , decidi dar uma chance ao último vôo do flamingo...

Aqui somos apresentados antes de tudo a um PORTUGUÊS MOÇAMBICANO, diferente dos que nos é habituado, e eu gostei da experiência, apesar que requer certo esforço ( e as vezes dicionário rsrs ) para entendermos o desenrolar da trama e suas falas ( Para quem tem costume com o português de Portugal, será mais fácil).

Tizangara, a vila ou cidade onde se passa a história, assim como seus personagens, são ao mesmo tempo reais, Fantásticos e fantasiosos, então né necessário fazer a suspensão de descrença para mergulhar e desfrutar a trama.

E por não ter feito logo a suspensão da descrença, de início fiquei perdido e entendiado com acontecimentos e falas que muito dizem e nada falam, mas que o entendimento se encontram nas entre lias e no modo de ver o mundo de quem só habita alí, compreende. E Mia Couto se mostra muito inteligente ao fazer o mesmo com o estrangeiro ( o italiano Massiamo Riso ) sinta o mesmo que o leitor.

Aliás, quando você entende isso e entra na trama, entendo toda a dinâmica por trás de cada personagem e suas complexidades, o livro acaba!!! Com um final poético, mas uma vez sem sentido para nós não-tizarenguenses.

Não me pegou tanto quanto outros realismos mágicos ( talvez minha régua esteja alta demais ), mas eu amei demais o SIMPLÍCIO. Amei tanto, que farei uma obra ( pintura ) sobre ele, suas falas e sabedoria. Ele é representação mórfica da sabedoria, pensamento e ancestralidade moçambicana e africana ??
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Lara Moreira 15/04/2010

Nunca pensei que um livro relacionado a uma história tão simples fosse capaz de possuir tantas lições de vida. Relata uma transformação sofrida por uma cidade chamada Tizangara, localizada em Moçambique, a qual a´pos uma série de mortes por explosões de bombas , torna-se sinônima de desconfiança.
O livro engloda uma série de opiniões dos personagens sobre o que setiam e o que presenciaram das bombas, além de focar a presença de um italiano pra ajudar a encontrar o suposto atuante dos crimes.Foca também um tenso relacionamento entre pai e filho devido a ação do tempo. Com um inesperando e excelente desfecho de história esse livro se tornou um dos meus preferidos. Recomendo -o como leiura para a vida
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jota 19/10/2012

Falar inventado = faliventar
Com este livro Mia Couto ganhou, em 2001, um prêmio da Fundação Gulbenkian e no final da edição temos seu discurso de agradecimento que também funciona como explicação da gênese de O Último Voo do Flamingo. Antes dos agradecimentos há um pequeno glossário, muito útil, que auxilia no entendimento de palavras e expressões usadas pelos personagens.

Isso no final. Pois no começo mesmo, logo nas primeiras páginas, meu pensamento foi conduzido para os livros de Gabriel García Marquez, em que o escritor colombiano explora o chamado “realismo fantástico”. Explico: soldados da ONU, integrantes das forças de paz presentes em Moçambique logo após a independência do país, inexplicavelmente começam a explodir, mais precisamente na fictícia localidade de Tizangara (daí a lembrança da Macondo de Cem Anos de Solidão).

Também me lembrei de Efrain Medina Reys, outro escritor colombiano (autor de Técnicas de Masturbação entre Batman e Robin, que não li), crítico de Márquez e adepto do chamado “realismo urbano” que diz numa entrevista de 2004: “Nós que vivemos na Colômbia sabemos que as pessoas aqui não voam pelos ares vítimas de um esconjuro, mas, sim, de uma bomba.” Bombas das FARCs e outras, certo?

Tudo isso para dizer que se você estiver mais para Reyes do que para Márquez, talvez não vá apreciar muito o livro de Mia Couto. Se bem que, na verdade, ele parece combinar as duas posições (fantasia/realidade) quando envereda pela situação política, social e econômica de Moçambique, tecendo críticas aos nacionais e estrangeiros que unicamente pareciam querer explorar o país e seus cidadãos - não sei exatamente como anda Moçambique atualmente, mas o panorama da maioria das nações africanas, com exceção da África do Sul, nunca parece ser muito animador.

Nessa história toda Couto salva a pele de um estrangeiro bem-intencionado, o personagem do soldado italiano Massimo Risi, que vem investigar os estranhos fatos que acontecem em Tizangara. O personagem principal, o narrador, no entanto, é um local, um rapaz negro sem nome, o tradutor que acompanha o italiano da ONU. Ele nos apresenta diversos personagens curiosos, como o padre Muhando, a prostituta Ana Deusqueira, o feiticeiro Zeca Andorinho, etc., e até a metade do livro todos eles e outras coisas mais me pareceram muito interessantes.

Por vezes me senti meio que assim na Sucupira de Odorico Paraguassu, imortal criação de Dias Gomes, pois os personagens moçambicanos de Couto nos brindam (como os baianos de O Bem Amado) com muitos ditos populares e expressões típicas do país – várias delas inventadas pelo próprio autor, no entanto. Ou seriam todas? Um trecho saboroso: "Não sou mau lembrador. Minha única dificuldade é ter de escrever por escrito". E prossegue: "Escrevo, Excelência, quase que por via oral (...)"

Desse modo, eu esperava que qualquer hora alguém fosse dizer “prafrentemente” em vez de “daqui a algum tempo”, etc. Não dizem, claro; dizem outras coisas saborosas, tantas que há até estudos pertinentes acerca e um deles apropriadamente se chama: “Mia Couto ou o falinventar da língua”, por Guilherme D’Oliveira Martins, atual presidente do Centro Nacional de Cultura de Portugal. “Falinventar”, captou?

Mais ou menos depois da metade do livro, a história começa a parecer longa demais – queremos saber o motivo da explosão dos soldados estrangeiros, não? –, as expressões e os ditos que antes pareciam curiosos e até poéticos começam a parecer repetitivos ou forçados e o interesse pela história decai um pouco até os redentores capítulos finais(19, 20 e 21).

Como disse alguém, eu li e achei isso.

Lido entre 14 e 19.10.2012.



Diógenes - Estr 03/04/2014

Porque Paulo Coelho é ruim...
Várias vezes ouvimos, pelos críticos e não críticos, que os livros de Paulo Coelho são ruins, Nicholas Sparks tem livros medíocres com histórias banais, ou que John Green escreve clichês, e muitas outras coisas de autores que estão abalando no cenário da literatura. Muitos não entendem o porquê dessas criticas, já que ao ler não vêem e não percebem nada de “estranho” nas obras desses e de outros que também são criticados juntamente com toda a literatura “Chick lit”. Para essa parcela que não consegue enxergar a distância de qualidade que uma obra tem de outra, o livro O último vôo do Flamingo, do escritor moçambicano Mia Couto, é uma excelente obra para esclarecer como um escritor pode ser incrivelmente fantástico e ter ao mesmo tempo qualidade necessária para ser considerado um grande escritor. No livro citado, o autor com a maestria de quem sabe lapidar palavras, narra a história de um pequeno vilarejo moçambicano que após o término da guerra civil do país sofre com uma série de estranhas explosões, soldados da ONU que explodem, de forma súbita, só restando o pênis e a boina azul que usam, diante desse problema o italiano Massimo Rissi é designado a resolver o caso. A escrita de Mia Couto é que chama atenção com uma prosa apurada e rica, o leitor é levado a contemplar personagens singulares e enredo com verdadeira facilidade sem recorrer a uma escrita banal e uma descrição cansada e pobre. Algo marcante e que acrescenta mais sabor a história é um misto de realidade e magia, muito se assemelhando ao famoso realismo fantástico.
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plucas2003 10/10/2022

Divertido e profundo
Os personagens são engraçados e bem complexos... Eu amei que o livro passa uma realidade que nós brasileiros já superamos há mais de um século mas ainda sofremos com os resquícios da colonização, nos fazendo refletir sobre quando nós vamos deixar pra trás essa bagagem de preconceito?
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OCautum 23/10/2021

Um livro bom e estranho. Talvez seja bom por ser estranho. Faz alguma tempo que acabei e sinto que ainda não consegui entender tudo sobre ele. A leitura foi bem tranquila e divertida, é uma boa porta de entrada para a literatura moçambicana ou, pelo menos, para o mundo de Mia Couto.
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