O último voo do flamingo

O último voo do flamingo Mia Couto




Resenhas - O Último Voo do Flamingo


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Ana Sá 28/06/2022

A guerra que nunca partiu
Do pouco que conheço de Mia Couto, considero este o texto em que ele mais joga com política e humor, com acidez e leveza. Há muito de sua digital literária aqui, como a questão da memória, os elementos sobrenaturais-espirituais-fantásticos-fantasmagóricos, um recuperar de tradições, certo lirismo… Mas o ponto é que o enredo já dita a peculiaridade deste romance: inexplicavelmente, soldados da ONU enviados a Moçambique numa missão de paz começam a explodir!

A narrativa se desenvolve no vilarejo de Tizangara e é conduzida por um narrador sem nome que é (aleatoriamente) oficializado como tradutor pelo governo local, a fim de acompanhar o italiano Massimo Rizi durante suas investigações sobre esses inusitados acontecimentos. A partir daí, Mia Couto faz rir, faz pensar, emociona, somando personagens com histórias secundárias ou paralelas muito interessantes. A prostituta Ana Deusqueira, o padre Muhando, a velha Temporina, entre outros, vão se entrelaçando aos acontecimentos com fluidez, garantindo uma paisagem humana dinâmica e que dá gosto de observar… O diálogo do investigador italiano com o recepcionista da pousada de Tizangara, por exemplo, satiriza genialmente o embate entre 'europeu' e 'africano'… Me fez gargalhar! Parte das memórias de infância do narrador-tradutor dão um respiro (ou um suspiro) ao leitor… Enquanto isso, o sobrenatural-espiritual-fantástico-fantasmagórico vai ganhando cada vez mais lugar, até termos a certeza de estarmos diante da caneta de Mia Couto. Menos do que tentar distinguir o 'natural' e 'sobrenatural', mais vale se jogar e aceitar que essas fronteiras talvez não tenham tanta importância na geografia literária do autor.

Mas lembra que eu falei de política? O livro, mesmo sendo leve, não foge a uma discussão 'pós-colonial'. Sim, um 'pós' no sentido do tempo e das experiências que se seguem 'após' a conquista da independência, mas acho que aqui vale um pouco mais a ideia dos 'pós' coloniais… No sentido de 'pó'/'poeira', sabe? No plano teórico, a colonização acabou, mas, na prática, Tizangara é uma cidade coberta de pó colonial… Nas relações sociais, nas estruturas, na política, nos espaços, em tudo resta o pó do período de dominação. A faxina parece nunca estar completa, de forma que, afinal, conclui-se que a guerra nunca partiu. Uma guerra literal, mas também simbólica, que coloca as personagens e os espaços numa corda bamba sustentada pelo passado que não foi vivido e pelo futuro que ninguém sabe se virá [vou evitar spoiler, mas um elemento central da narrativa é, na minha visão, justamente uma metáfora bem evidente desse colonial que foi sem nunca ter (s)ido…].

"A guerra o que havia feito de nós? O estranho era eu não ter sido morto em quinze anos de tiroteios e sucumbir agora em meio da paz. Não falecera da doença, morria do remédio?".

Fazendo uma avaliação honesta, acredito que este romance não vá ficar muito marcado em mim. Tive a sensação de que o peso do enredo e de algumas personagens não foi devidamente sustentado até o final da narrativa. O voo do flamingo perde altura em um ou outro momento… Mesmo assim, gostei bastante da leitura, dessa equação de política e humor que eu ainda não tinha visto pelas terras de Mia Couto. Não virou livro favorito, mas foi uma experiência prazerosa e enriquecedora.

Obs.: o título do livro é explicado mais de uma vez ao longo do romance, por isso não falei nada a respeito… Aliás, achei que o título é justificado até demais! rs
Paloma 28/06/2022minha estante
Ótima resenha. Me deixou interessada. Dele só li o Terra Sonâmbula e gostei bastante ?


Alê | @alexandrejjr 01/07/2022minha estante
Que resenha gostosa de ler, Ana! Esse tá na minha lista também.


Ana Sá 02/07/2022minha estante
Obrigada Paloma e Alê! Se lerem, vou tentar acompanhar as impressões de vocês! ??




Luana 15/12/2021

Não conhecia Mia Couto, não sabia sobre sua escrita e no início achei que ia ser um livro sobre lendas, todo de ficção. Quando passei a entender que ele fazia uma denúncia, eu me surpreendi com sua capacidade de falar de algo tão ruim de forma tão bonita.
Flávia 15/12/2021minha estante
Mia é vida! Indico o outro pé da sereia. O meu livro favorito do meu autor favorito.


Luana 18/12/2021minha estante
Vou adicionar a minha lista Flávia, obrigada pela indicação


Flávia 21/12/2021minha estante
disponha!!




Manuela do Prado 05/02/2021

'As guerras são como as estações do ano: ficam suspensas, a amadurecer no ódio da gente miúda''
Lançado no inicio dos anos 2000, esse livro nos transporta a uma narrativa que se passa em Tizangara: um vilarejo fictício africado que tem sido abrigo de acontecimentos, no mínimo, incomuns. Soldados das Nações Unidas, residentes no local, simplesmente começam a explodir (literalmente) e, assim, é dada a voz aos primeiros fragmentos do mistério que se desenrola.

A fim de se averiguar os motivos das mortes, um emissário italiano é enviado à comunidade e, entre os relatos dos moradores e o conflito crescente em suas mais intimas convicções, o detetive estrangeiro logo se vê entremeado na cultura, mitologias e vivências do povo moçambicano.

Mia Couto nos revela, sob um olhar amparado no realismo mágico, os impactos da corrupção humana, os vieses e eventos irreparáveis da colonização, da desumanização e, sobretudo, da ganância. Como conterrâneo, o escritor faz uma abordagem histórica do seu lugar de origem, dando ao vilarejo, apesar do seu caráter fictício, detalhes que nos transportam ao lugar.

Este livro nos leva a tristes reflexões sobre o mundo que vivemos, as realidades das injustiças, e o universo infinito de tantos com tão pouco a que temos que enfrentar diariamente, mas, o texto, que é escrito como uma espécie de dança, nos conversa de um jeito muito poético e leve. O mistério é resolvido? Quiçá!

site: @viveprale
Krishna.Nunes 05/02/2021minha estante
Não entendi, fez uma boa resenha mas deu nota 2.


Manuela do Prado 06/02/2021minha estante
Oi, Krishna. O livro de fato me conduziu a todas essas perspectivas e reflexões; as criticas que Mia faz a todo esse "cenário de guerra" é, de fato, única, mas minha nota se vale mais da minha experiência da leitura, que não foi tão "mágica/ envolvente", que do texto da obra em si. Obrigada pela leitura da resenha/ comentário. Abraço




Cris 04/05/2019

Demorei 5 anos para entender o sentido desse livro, e o achei genial!
Li O Último Voo do Flamingo em 2009, era uma das leituras obrigatórias para a prova da Ufba. Comecei e terminei sem entender bulhufas! Conclusão na época: Livro sem pé nem cabeça, odiei!
Só que, anos depois, pesquisando sobre Mia Couto, resolvi ler resenhas deste livro e finalmente pude entender todo o simbolismo por trás das "explosões" dos militares, além do estilo de escrita do próprio Mia.
Rick 02/02/2020minha estante
Wow! Obrigado por sua resenha. Terminei o livro justamente pensando nisso: não entendi nada RS. Vou guardar esse livro para ler novamente tentando analisar essas referências


Cris 03/02/2020minha estante
Boa! ?




Gabriel 07/11/2013


A história se passa em uma vila, Tizangara . Após a guerra soldados das Nações Unidas vão até lá para acompanhar o processo de paz e misteriosamente começam a explodir.
Em um livro como esse acho que ficam margens para várias interpretações, dependendo assim de cada pessoa um entendimento a partir da relação e do momento que ela terá ao lê-lo. No meu caso, acho que ele se trato sobre uma jornada e o encontro consigo mesmo.
O encontro do filho no pai e do filho com o pai.
“- Ainda bem que você não aceitou a minha ordem de matar. Fico contente.
- A sério?
- Agora, ainda sou mais seu pai.” Suplício, pág 199

“-Sabe, estes dias consigo me deram grande vontade de reviver.” Suplício, Pág. 205

O encontro das pessoas com a sua terra:
“-Chega de pedirmos aos outros para resolver os nossos problemas.” Suplício,
Pág 198

O encontro de duas realidades distintas que se tornam uma só:
“ Pela primeira vez, senti o italiano como um irmão nascido na mesma terra.”
Pág. 220

É interessante a visão que Mia nos dá sobre as mulheres no texto, como porto-seguro,elo de ligação,força-motriz:
“-Vocês, homens, vêm pra casa. Nós somos a casa.”Ana Deusqueira, Pág.79

“ A terra guarda a raiz da gente. Mas a mulher é a raiz da terra.” Pág.200

O contexto histórico-político-social da Somália é parte importantíssima do livro. Mia toca em vários assuntos do país e do mundo, como os reflexos da colonização, as guerras, as relações entre pessoas, entre outros. É muito discutido o fato de após a independência a figura que oprimia o povo só muda de face, deixando de ser estrangeira e sendo da terra, porém nada muda, o principal “inimigo” passa a ser o governante corrupto vindo de “dentro”, e esse contexto só pode ser mudado pelos próprios somalianos.

“Sofri racismos, engoli saliva de sapo.” Suplício. Pág. 136

“- Nisso se engana. Não é a paz que lhe interessa. Eles se preocupam é com a ordem, o regime desse mundo.” Suplício. Pág 188.
Este trecho me lembrou muito o livro 1984 de George Orwell, muitas vezes não é a paz que garante a ordem e sim a guerra.

Queria acabar esta resenha com uma frase, um jogo de palavras ou alguma metáfora bem ao estilo Mia que exprimisse a beleza e os bons momentos que eu encontrei ao ler o livro, porém após algum tempo e alguns fracassos depois achei melhor não me arriscar por estes terrenos tortuosos a que só a alguns é dado privilégio de trilhá-lo, como o próprio autor, e apenas aplaudir o livro e torcer para que eu tenha oportunidade de conhecer o resto da obra do autor.
Paulinho 08/11/2013minha estante
Briel, só uma correção é Moçambique e não Somália. Adorei sua resenha!


Gabriel 12/11/2013minha estante
Ops, devia estar com a cabeça na lua quando fiz a resenha e falei Somália... =)




Rick 02/02/2020

Livro para se ler e refletir
Sério, não consegui entender muita coisa do livro quando eu li. A forma da escrita, as entrelinhas que ocorrem no texto, precisam ser decantadas para fazer sentido. É o tipo de livro que pede calma e releitura. Mas que faz uma crítica social voraz e uma narrativa fora do padrão. Uma obra-prima, que precisa ser apreciada aos poucos
Fabiana 23/08/2020minha estante
Bem isso...Mia Couto... preciso ler novamente....sempre sinto isso!




Polliana Caetano 23/11/2023

Quando a crítica se veste de fantasia
O livro "O último voo do flamingo" se veste de absurdos para fazer as mais profundas críticas sobre a ganância, arrogância e soberba daqueles que se creem acimas de tudo e todos.

 Mia Couto usa o fantástico, o mágico e o absurdo para nos mostrar as cicatrizes deixadas pelo colonialismo que não roubou apenas as riquezas da terra, também roubou a identidade e dignidade de seu povo. Risi representa a arrogância do europeu, que exigir e procura explicações no outro sobre os problemas que eles mesmo criaram. Mia também nos mostra que até mesmo os heróis da liberdade podem se corromper pelo preço certo.  

As personagens femininas são representações da Mãe África. 
- A tia Hortência representa a sabedoria adquiridas com o tempo. 
- Temporina representa a África pura e virgem, que se encanta e floresce na presença do explorador.
- A Mãe representa exatamente isso, a mãe que gera e cuida do filho.
- Ermelinda representa a África que acolhe e consola, ainda que parece cruel e indiferente. 
- Ana Deusqueira é a representação da sensualidade imposta pelo explorando ao corpo das africanas. 

Temos nas figuras de Padre Muhando e Zeca Andorinha a dualidade entre a crença ancestral e a imposta pelos dominadores. Essa segunda, ainda que tenha se moldado para ser palatável, não é aceita por completo. No entanto, é ela que afasta o povo de Tizangara de seus ancestrais e deuses, terminando por torná-los estranhos e contribuindo para sua queda no abismo.

E por fim, mas não mesmo importante, o Pai. Esse que aqui representa mais figura do mentor do que a do progenitor. Cabe a ele guiar o protagonista pela jornada de conhecimento - interna e externa. Ele sabe que a corrupção trazida pelos colonos levar ao fim de Tizangara, ainda que não saiba quando, ele prepara seu filho para essa jornada. 
Rachel.Silva 10/03/2024minha estante
Crítica interessantíssima. Estou lendo o livro e não estou gostando. Sua análise com certeza vai me fazer ler com mais carinho e menos preconceito.




Joao.Hippert 06/05/2021

- Sabe o que dizia sua mãe? Que o melhor lugar para se chorar era a varanda.
E tinha sentido: a varanda. À frente estava o mundo e seus infinitos; atrás estava a casa, o primeiro abrigo.



O Último Voo do Flamingo é, em essência, um romance fantástico que assume seu lirismo desde o início. Essa abordagem de Mia Couto enriquece o texto não apenas no sentido formal, mas também conecta o leitor com o próprio universo concebido pelo autor. Uma Moçambique recém-independente que continua sofrendo com governantes corruptos e sem moralidade ao mesmo tempo em que convive com um povo sofrido, mas absolutamente apaixonado pela terra e por suas tradições.

É bem incrível o modo como Mia Couto estabelece o fantástico aqui: tudo parece valorizar ainda mais o misticismo desse povo africano. É um livro que tem uma trama central até simples (uma investigação a respeito de soldados da ONU que estão sendo explodidos), mas que se fortalece pela sutileza das passagens e pela construção dos personagens.

Para além da crítica à corrupção, gosto também como o livro se posiciona quanto à interferência de países estrangeiros em Moçambique. Na verdade, o livro desconstrói essa ideia vaga de que a ONU defenderia os ?direitos humanos?, quando, muitas vezes, pode apenas servir como um órgão que reitera as desigualdades históricas entre países.

Enfim, é um livro que agrada pela escrita, pelos personagens, pelo contexto, pelas críticas e pelo lirismo. Um prato cheio.
Salete.Saraiva 28/10/2021minha estante
João, adorei sua resenha.
Indicarei a leitura deste livro numa revista eletrônica do órgão em que trabalho.
Então, me pediram uma resenha. Eu faria a minha resenha, mas, acho que não atinfiria o nível da sua resenha.
Posso publicar a sua resenha, com as devidas citações, tudo direitinho?
Aguardarei sua resposta.
Obrigada!
Salete Saraiva
Face: mariada2008@hotmail.com




Jeison 14/07/2011

O Último Voo Do Flamingo
Várias coisas pra estudar, dois relatórios pra fazer e eu estou aqui escrevendo resenhas. Não sei, me deu um vontade louca de escrever sobre alguns livros e cá estou, em plena madruga, escrevendo!
O último voo do flamingo. A grande descoberta do ano em termos literários pra mim! Fiquei empolgadissimo com a leitura, uma prosa deliciosa e poética, um português brincalhão. Fiquei em dúvida se esse português era o português como é falado em moçambique ou se era uma questão de estilo do autor, acho que talvez seja um pouco dos dois. A verdade é que foi essa diferença de linguagem que mais me chamou a atenção. Depois desse livro, o português, o nosso português, o que é ensinado na escola, me pareceu tão arcaico, tão limitado, preso. A linguagem desse livro é um sopro de vida, é nova, é fresca, por vzes inventada, mas totalmente verdadeira.
A história é relativamente simples, despretensiosa e justamente nisso está a grande força do livro. Não faz crítica ferrenhas, mas também não as omite. Não repudia, mas também não morre de amores.
Os soldados da ONU estão explodindo em Tizangara, sul de Moçambique, cabe a você decidir se quer saber o porque ou não!
Ailma 23/07/2012minha estante
Concordo totalmente com você. O português do livro é fantástico e só dar mais graça ao universo das tradições africanas.
Me apaixonei pelo Mia. Esse livro foi o melhor do ano pra mim também




Fabio Shiva 08/03/2020

mais que excelente
“O último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência – a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que têm as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores.”
(Palavras de Mia Couto ao receber o Prêmio Mário Antonio, da Fundação Calouste Gulbenkian, em 12 de junho de 2001)

Cada encontro com Mia Couto é uma nova surpresa. Da primeira vez que ouvir falar em seu nome, julguei que se tratasse de uma mulher, mas logo descobri que era um gajo. Então, ao sabê-lo moçambicano, imaginei-o negro e (não sei bem porque) muito alto e magro. Ao ver uma foto sua, contudo, descobri que ele está mais para o Professor Sergio de “A Casa de Papel”. E por fim, depois de ter lido várias citações de seus textos, peguei um livro seu para ler, com a expectativa de encontrar excelente Literatura. E descobri muito mais!

“O Último Voo do Flamingo” superou todas as minhas expectativas. Uma prosa feita de provérbios entrelaçados como as contas de um rosário, uma narrativa que é capaz de nos enternecer e fazer sorrir mesmo ao denunciar horríveis desumanidades, um uso tão peculiar da língua portuguesa que nos faz crer que o autor habita em seu próprio país, onde se fala um idioma que ansiamos aprender.

Trailer do filme “O Último Voo do Flamingo”:
https://youtu.be/mRQFKSf36PA

E isso tudo é só o começo. Qualquer leitor dessa obra magnífica encontrará os encantos que resumi acima. Eu, contudo, tive a ventura de vivenciar uma experiência mística na leitura, tamanho foi o impacto que senti ao longo dessas páginas. Foi uma experiência que falou diretamente ao escritor em mim, mais que ao leitor, em uma jornada que se iniciou, talvez, com a extasiada leitura de “Cem Anos de Solidão” de García Márquez, que pela primeira vez descortinou as possibilidades do realismo mágico. E que prosseguiu com o feliz encontro com a Literatura Fantástica de Julio Cortázar, culminando finalmente com esse arrebatamento que foi ler Mia Couto. Existem livros para todos os gostos, é certo. Mas hoje estou convencido de que os livros que querem sair de mim desejam falar de um mundo que só se faz possível através da Literatura e ter, sempre, a missão de ajudar a mim mesmo (e a toda a humanidade, por extensão) a me tornar maior e melhor. Gratidão!

https://comunidaderesenhasliterarias.blogspot.com/2020/03/o-ultimo-voo-do-flamingo-mia-couto.html


site: https://www.facebook.com/sincronicidio
Fabiana 23/08/2020minha estante
Oi! Lendo seu comentário...lembrei de um vídeo bem legal que Mia fala sobre essa impressão: ser negro e ser mulher! Vale procurar, bem interessante... YouTube eu acho. Fronteiras do Pensamento talvez. Abraços e boas leituras!




DIRCE 01/03/2016

Valioso, mágico e simbólico
Brincando com as palavras, ora me levando ao riso com seu humor ácido, ora me deixando intrigada e ora curiosa, Mia Couto , mais uma vez, me proporcionou uma leitura de indiscutível valor literário e muito simbólica.
O livro se abre com uma espécie de prefácio, um tanto quanto solene, que me levou a pensar: se havia algo de podre no reino da Dinamarca, o mesmo se pode dizer em relação a Tizangara (MOÇAMBIQUE ). De fato: sim, havia algo de muito podre em “Ti-zangara” e tudo começa com as explosões dos boinas azuis – os fazedores de concórdias: força de paz da ONU. Mas teria mesmo explodido os fazedores de concórdia? Quem seriam os responsáveis? É a interrogação que nos acompanha durante toda a leitura e que cria certo suspense. Mas esse não é o objetivo do Mia Couto: fazer uma obra de suspense. Sua intenção era denunciar a corrupção que assolava o país e essa denúncia se inicia de modo, no mínimo, curioso. Chegaram a conclusão que os capacetes azuis tinham explodido porque foram encontrados capacetes azuis e órgãos genitais que não seriam de nenhum homem de Tizangara. Significativo. Seria os órgãos genitais uma metáfora do modo que o país foi violentado? Bem provável.
Mia Couto impregna as páginas com o realismo mágico o que torna a obra mágica, principalmente quando o narrador evoca a estória que sua mãe contava sobre o flamingo e o seu vôo que deu origem ao primeiro poente. E é o flamingo quem deixa entrever a esperança na desesperança de um povo que foi castigado pelo deus diante das corrupções, das guerras, da manutenção da miséria em prol do proveito próprio e que por isso pagou um alto preço.
Terminei “O último vôo do flamingo” , melancólica, pois não pude deixar de pensar no nosso Brasil. Pensei de como ele foi transformado em um jeito tão Tizangara de ser. Ouviremos uma “ canção” que nos permitirá acreditar que sairemos do abismo que nos colocaram? Qual o preço que teremos que pagar?
Eu quero atribuir a essa obra 27 estrelas, tal qual o número de estrelas existentes na nossa Bandeira, desejosa que elas se tornem "a nossa canção" de dias melhores.
Nanci 02/03/2016minha estante
Que bonita resenha, Dirce.
Até agora, esse é meu romance favorito do Mia Couto. Mas estou ansiosa pela continuação de Mulheres de cinzas.




jota 19/10/2012

Falar inventado = faliventar
Com este livro Mia Couto ganhou, em 2001, um prêmio da Fundação Gulbenkian e no final da edição temos seu discurso de agradecimento que também funciona como explicação da gênese de O Último Voo do Flamingo. Antes dos agradecimentos há um pequeno glossário, muito útil, que auxilia no entendimento de palavras e expressões usadas pelos personagens.

Isso no final. Pois no começo mesmo, logo nas primeiras páginas, meu pensamento foi conduzido para os livros de Gabriel García Marquez, em que o escritor colombiano explora o chamado “realismo fantástico”. Explico: soldados da ONU, integrantes das forças de paz presentes em Moçambique logo após a independência do país, inexplicavelmente começam a explodir, mais precisamente na fictícia localidade de Tizangara (daí a lembrança da Macondo de Cem Anos de Solidão).

Também me lembrei de Efrain Medina Reys, outro escritor colombiano (autor de Técnicas de Masturbação entre Batman e Robin, que não li), crítico de Márquez e adepto do chamado “realismo urbano” que diz numa entrevista de 2004: “Nós que vivemos na Colômbia sabemos que as pessoas aqui não voam pelos ares vítimas de um esconjuro, mas, sim, de uma bomba.” Bombas das FARCs e outras, certo?

Tudo isso para dizer que se você estiver mais para Reyes do que para Márquez, talvez não vá apreciar muito o livro de Mia Couto. Se bem que, na verdade, ele parece combinar as duas posições (fantasia/realidade) quando envereda pela situação política, social e econômica de Moçambique, tecendo críticas aos nacionais e estrangeiros que unicamente pareciam querer explorar o país e seus cidadãos - não sei exatamente como anda Moçambique atualmente, mas o panorama da maioria das nações africanas, com exceção da África do Sul, nunca parece ser muito animador.

Nessa história toda Couto salva a pele de um estrangeiro bem-intencionado, o personagem do soldado italiano Massimo Risi, que vem investigar os estranhos fatos que acontecem em Tizangara. O personagem principal, o narrador, no entanto, é um local, um rapaz negro sem nome, o tradutor que acompanha o italiano da ONU. Ele nos apresenta diversos personagens curiosos, como o padre Muhando, a prostituta Ana Deusqueira, o feiticeiro Zeca Andorinho, etc., e até a metade do livro todos eles e outras coisas mais me pareceram muito interessantes.

Por vezes me senti meio que assim na Sucupira de Odorico Paraguassu, imortal criação de Dias Gomes, pois os personagens moçambicanos de Couto nos brindam (como os baianos de O Bem Amado) com muitos ditos populares e expressões típicas do país – várias delas inventadas pelo próprio autor, no entanto. Ou seriam todas? Um trecho saboroso: "Não sou mau lembrador. Minha única dificuldade é ter de escrever por escrito". E prossegue: "Escrevo, Excelência, quase que por via oral (...)"

Desse modo, eu esperava que qualquer hora alguém fosse dizer “prafrentemente” em vez de “daqui a algum tempo”, etc. Não dizem, claro; dizem outras coisas saborosas, tantas que há até estudos pertinentes acerca e um deles apropriadamente se chama: “Mia Couto ou o falinventar da língua”, por Guilherme D’Oliveira Martins, atual presidente do Centro Nacional de Cultura de Portugal. “Falinventar”, captou?

Mais ou menos depois da metade do livro, a história começa a parecer longa demais – queremos saber o motivo da explosão dos soldados estrangeiros, não? –, as expressões e os ditos que antes pareciam curiosos e até poéticos começam a parecer repetitivos ou forçados e o interesse pela história decai um pouco até os redentores capítulos finais(19, 20 e 21).

Como disse alguém, eu li e achei isso.

Lido entre 14 e 19.10.2012.



Ivna 24/05/2014

O último voo do flamingo - um bom livro para se ler.
Numa mistura de real e imaginário, Mia Couto é brilhante ao unir a realidade desastrosa do pós guerra com uma certa medida de metáfora. Alguns críticos costumam classificar O último voo do Flamingo como "realismo mágico", e isso faz muito sentido.
Particularmente, eu não achei um livro muito fácil de entender, pelo uso dos dialetos locais e pelo conteúdo metafórico. Muito embora, a narrativa seja muito simples, corriqueira, e de certo modo até cômica.
Mesmo com toda descontração da obra, Mia Couto explana muito bem a realidade de Moçambique no contexto do pós-guerra. Um país desolado pela colonização europeia, e pela ganância e autoritarismo dos próprios conterrâneos.
A narrativa circunda em torno das misteriosas explosões dos soldados da ONU, que sem razão aparente deixam pra trás apenas o órgão genital. A história se segue com o depoimento dos moradores de Tinzangara, que enriquece ainda mais a narrativa.
É um livro para vida, visto a riqueza das reflexões de Mia Couto sobre o cenário da narrativa.

Recomendo! Vale muito a leitura!
Lucas 03/01/2020minha estante
Excelente resenha. Estou no início da leitura e nos primeiros 2 capítulos achei muito legal. Me veio a mente a comparação com O auto da compadecida.




Andressa 04/01/2010

Grandioso
Um livro que consegue, entre tantas metáforas, explicar e contar a historia de um povo moçambicano, que oprimido pelos brancos tenta a toda maneira pari um pedaço de filho, mesmo que este contenha ossos brancos e que apenas sem eles consigam sonhar livremente. E espera contra todas as possibilidades que aqueles anunciadores da esperanças, os flamingos, voltem para o oriente. “Uma andorinha não faz verão, mas anuncia a primavera.”

Mia Couto o faz, e com uma excelência inexplicável. Pois o livro seleciona o seu público, apenas os que conhecem um pouco da historia desse país poderão entender a grandiosidade do livro e do autor.
“O que não pode florir no momento certo acaba explodindo depois” Dito de Tizangara – A Missão de Inquérito cap. 2
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Túlio Demian 02/04/2012

Um Voo entre sonhos!
Eis um livro interessante que, como em quase todos os outros livros de Mia, expõe o conflito entre tradição e modernidade. Esse paradigma permeará toda a trama que se passa em Tizangara.
A postura e a incredulidade dos funcionários da ONU acabam por nos atrair para um desfecho cujos indícios será para a dissolução racional das mortes misterioras e seus respectivos esclarecimentos. Porém, o que vemos na cena final, onde o pai do protagonista retira o esqueleto para descansar e dialóga sem a estrutura de sustentação, em seguida a revelação que uma lenda defendida, principalmente por sua mãe, acaba por se manifestar no voo largo e distante do flamingo, é a inversão de que a racionalidade moderna tenta pregar.
Vale a pena cada página neste voo entre sonhos!
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