O último voo do flamingo

O último voo do flamingo Mia Couto




Resenhas - O Último Voo do Flamingo


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Helena Frenzel 12/01/2014

O Sol em cada um
O último voo do flamingo, de Mia Couto, é um dos livros mais lindos que já li, uma crítica sutil e poética à política suicida do nosso tempo, um chamado à denúncia, à qual os escritores comprometidos com seu povo e com o seu tempo não podem se omitir, bem como um sopro de esperança pelo que há-de vir com os novos sóis que estão nascendo em cada um de nós. Um livro que todos deveriam ler. Nota mil!!

site: http://bluemaedelle.blogspot.de/2014/01/o-ultimo-voo-do-flamingo.html
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CooltureNews 11/11/2013

Coolture News
Conheci este livro ainda no ensino médio, mas infelizmente não pude ler mais do que o primeiro capítulo e ainda assim, me apaixonei. Este livro é mais do que uma história, é um relato da vida de um povo que primeiro sofreu com a colonização, depois com a guerra civil e então passou a sofrer nas mãos de seu próprio sangue.

A história começa mostrando um retrato ficticio de como está Moçambique 25 anos depois de sua independência, com uma população esperando que a paz se fortaleça sob a vigilia da ONU que está ali para observar este processo. Porém, subitamente os soldados da ONU começam a explodir sem qualquer explicação. É ai que entra em cena o narrador de nossa história, o tradutor do serviço de administração de Tizangara e o enviado para investigar o acontecido, Massimo Risi.

A partir dai segue um relato fantástico e revelador sobre o que aconteceu a estes soldados, misturando critica social, lendas moçambicanas e um tanto da imaginação do autor, que cria uma aura de mistério em torno de todos os personagens. A narrativa de Mia Couto é clara, mas pode haver uma dificuldade em relação a linguagem, já que a editora decidiu preservar a linguagem original do romance e demora-se um pouco para se acostumar.

O último vôo do flamingo faz parte de uma categoria de livros que conheci com García Márquez, o realismo fantástico, e Mia Couto sabe se utilizar bem dele para narrar não somente que estaria acontecendo em Tizangara, mas também a toda Moçambique, que após a guerra civil estava sofrendo com o julgo da indústria da paz, onde administradores corruptos utilizam-se so sofrimento do povo para receberem recursos estrangeiros e os desviarem para seu próprio uso.

Mas ele contém, também, elementos poéticos, intrigantes e bem humorados, dando voz a temática africana sob o ponto de vista de seus próprios “filhos”. Não é mais um olhar estrangeiro que nos conta, mas sim, um olhar moçambicano, de alguém que viveu e presenciou estes acontecimentos. Logo no inicio, o narrador nos conta que seu relato é fiel, mas que foi acusado de ser mentiroso. Porém, seu relato é a mostra de algo real, mas o real vindo da mistura entre o mistico, o trágico e hilariante, uma amostra da África contemporânea.

Este livro é recomendado para quem deseja conhecer um pouco mais sobre a literatura dos países africanos que falam português, pois eles também possuem grandes escritores, que buscam através da literatura divulgar sua história, cultura e sociedade.

site: www.coolturenews.com.br
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Gabriel 07/11/2013


A história se passa em uma vila, Tizangara . Após a guerra soldados das Nações Unidas vão até lá para acompanhar o processo de paz e misteriosamente começam a explodir.
Em um livro como esse acho que ficam margens para várias interpretações, dependendo assim de cada pessoa um entendimento a partir da relação e do momento que ela terá ao lê-lo. No meu caso, acho que ele se trato sobre uma jornada e o encontro consigo mesmo.
O encontro do filho no pai e do filho com o pai.
“- Ainda bem que você não aceitou a minha ordem de matar. Fico contente.
- A sério?
- Agora, ainda sou mais seu pai.” Suplício, pág 199

“-Sabe, estes dias consigo me deram grande vontade de reviver.” Suplício, Pág. 205

O encontro das pessoas com a sua terra:
“-Chega de pedirmos aos outros para resolver os nossos problemas.” Suplício,
Pág 198

O encontro de duas realidades distintas que se tornam uma só:
“ Pela primeira vez, senti o italiano como um irmão nascido na mesma terra.”
Pág. 220

É interessante a visão que Mia nos dá sobre as mulheres no texto, como porto-seguro,elo de ligação,força-motriz:
“-Vocês, homens, vêm pra casa. Nós somos a casa.”Ana Deusqueira, Pág.79

“ A terra guarda a raiz da gente. Mas a mulher é a raiz da terra.” Pág.200

O contexto histórico-político-social da Somália é parte importantíssima do livro. Mia toca em vários assuntos do país e do mundo, como os reflexos da colonização, as guerras, as relações entre pessoas, entre outros. É muito discutido o fato de após a independência a figura que oprimia o povo só muda de face, deixando de ser estrangeira e sendo da terra, porém nada muda, o principal “inimigo” passa a ser o governante corrupto vindo de “dentro”, e esse contexto só pode ser mudado pelos próprios somalianos.

“Sofri racismos, engoli saliva de sapo.” Suplício. Pág. 136

“- Nisso se engana. Não é a paz que lhe interessa. Eles se preocupam é com a ordem, o regime desse mundo.” Suplício. Pág 188.
Este trecho me lembrou muito o livro 1984 de George Orwell, muitas vezes não é a paz que garante a ordem e sim a guerra.

Queria acabar esta resenha com uma frase, um jogo de palavras ou alguma metáfora bem ao estilo Mia que exprimisse a beleza e os bons momentos que eu encontrei ao ler o livro, porém após algum tempo e alguns fracassos depois achei melhor não me arriscar por estes terrenos tortuosos a que só a alguns é dado privilégio de trilhá-lo, como o próprio autor, e apenas aplaudir o livro e torcer para que eu tenha oportunidade de conhecer o resto da obra do autor.
Paulinho 08/11/2013minha estante
Briel, só uma correção é Moçambique e não Somália. Adorei sua resenha!


Gabriel 12/11/2013minha estante
Ops, devia estar com a cabeça na lua quando fiz a resenha e falei Somália... =)




Universo dos Le 09/10/2013

Desde Terra Sonâmbula que Mia Couto vem contando histórias de uma Moçambique após sua independência. A maioria delas trata de um país absolutamente devastado pelas guerras civis das tribos e dos autoritários e violentos governos que, em meio a corrupção, se usam da fé e da crença da população para se tornarem espécies de novos deuses encarnados. No entanto, não se pode dizer que os livros de Mia Couto sejam trágicos ou tristes, pelo contrário, quem os lê percebe logo de cara a imensa poesia, mágica e esperança na narrativa de suas fábulas. Em O Último Voo do Flamingo (2005) não é diferente.

O livro conta a história de um italiano chamado Massimo Risi que chega na vila de Tizangara para investigar misteriosas explosões de soldados da ONU em operações de paz e, por não dominar a língua, acaba recebendo como companhia o Tradutor de Tinzangara, o narrador da história. Na vila, tanto o narrador quando Risi, ao investigar o caso, entram em contato com histórias de todos os moradores daquele local: a estranha e bela Temporina, com cara de menina e corpo de velha, a prostituta Ana Deusqueira, o vidente Zeca Andorinho, e o pai do narrador, o senhor Sulplício. Ah, e claro, há também o governador local, Estevão Jonas, um corrupto enriquecido que manda e desmanda em todos, sendo quase que um opressor entre os oprimidos, uma vez que segue ordens de seus superiores no exterior.

Algo que se pode destacar de O Último Voo do Flamingo é uma espécie de caráter de humor, ou pinceladas humorísticas na escrita, fato raro em Mia Couto, principalmente quando, ao explodirem, os soldados deixarem apenas uma parte como rastro: o pênis. Em uma cena hilária, Ana Deusqueira, a prostituta, é chamada na frente de todas as autoridades para dizer de quem era aquele pênis no meio da rua, uma vez que ela deveria conhecer, literalmente, todos os membros da vila. No entanto, o que parece ser essa leve história de humor, retorna para o tema de Couto: a exploração da pobreza e da crença dos Moçambicanos. Logo de cara, fica claro para todos, até para Risi que só há essa investigação, pois se tratam de estrangeiros que estão morrendo, fato que não ocorreria caso fossem os negros africanos a estarem explodindo. É como dizem, aqueles homens parece que nasceram por defeito.

Como todos os espaços descritos por Mia Couto, aquela vila também parece vertiginosa, mágica, com seres ainda semi-míticos, sempre sendo levados por espíritos, tradições, histórias e passados longínquos que lhes são contados. Temporina, por exemplo, havia sofrido uma maldição de envelhecer no rosto e ficar jovem de corpo, assim como os corpos dos explodidos que, teriam morrido por fornicar com as moradoras da vila e serem punidos pelos deuses por isso. Esses espaços são colocados como um lugar a se descobrir. Risi é logo perguntado: “Qual vila o senhor está visitando? (…) Aqui temos três vilas com seus respectivos nomes – Tizangara-terra, Tizangara-céu, Tizangara-água.”

Ou seja, a lógica é diferente da nossa composição de país ocidental, europeu, lógico, cartesiano: Mia Couto descreve mundos, por vezes muito pequenos, por vezes gigantes, mas que, sonâmbulos, nunca estão no mesmo lugar, nunca se fixam.

Todos esses temas são tratados pelo autor no discurso contido no fim de seu livro, texto que acho que arremata o que tento dizer:

O Último Voo do Flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência – a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. Contra a indecência dos que enriquecem à custa de tudo e de todos, contra os que tem as mãos manchadas de sangue, contra a mentira, o crime e o medo, contra tudo isso se deve erguer a palavra dos escritores.

E é isso que o livro almeja, e faz, ao lado de diversas obras do próprio autor que descreve uma Moçambique mágica, criadora, potente, vital para o mundo, um lugar que vale a pena viver e lutar.

site: http://www.universodosleitores.com/2013/10/o-ultimo-voo-do-flamingo-de-mia-couto.html
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Vini 22/08/2013

Inspirador
São poucos os livro que já li em que o autor realmente sabe usar as palavras, frases que me fazem pensar duas vezes, proporciona ao leitor uma nova visão. Sua história foi bem feita, os personagens tem muita personalidade. O livro tem sua magia.
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Prênteci 31/07/2013

Mia Couto é o melhor autor moçambicano
Os livros de Mia Couto nos remetem a muitas refexões sobre ética, caráter, opressão dos poderosos, relações de poder, família, amor, perdão, redenção.

Muitos fragmentos de seus textos são dignos de se colocar em quadros... São frases daquelas "pra sempre".

Esse livro, em especial, mexeu muito comigo... Me cativou tanto que um dia quero encontrar Mia Couto na varanda de uma casa na Beira... Quem sabe comermos um bolo e tomarmos um café... E jogar conversa dentro.

Posso afirmar que Mia Couto é um daqueles autores que me inspiram... Um dia serei escritor... E sua influência será notada em meus escritos.
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Paty 01/06/2013

Mais uma vez me pego diante de um livro do escritor moçambicano Mia Couto que de uma forma excepcional me arrebatou, me tirou do chão duro da minha realidade e me transportou para outra realidade igualmente dura, entretanto cheia de poesia, neologismos e um amor à nação, à humanidade que parece nunca findar. Não é à toa que só agora, depois de um certo tempo que o li, que consigo parar para tentar achar um pouco de coerência e tentar passar um pouco do muito que o livro O último vôo do flamingo, me impressionou.

Em fins de tarde, os flamingos cruzavam o céu. (...) Tudo nesse momento era sagrado. (...) Para ela, os flamingos eram eles que empurravam o sol para que o dia chegasse do outro lado do mundo.

Mais uma vez, o autor nos conduz pelo realismo fantástico, por seus neologismos, poesia, humor, sua crítica certeira e sua consciência histórico-política para moldar a história e tornar claro o fato.

O último vôo do flamingo conta a passagem de Massimo Risi pela Vila de Tizangara, em Moçambique, na África. A vila é governada por administradores corruptos, que lucram com a pobreza e a desgraça do povo africano. Risi é inspetor da missão de paz das Nações Unidas, que tem como tarefa descobrir como e por que os seus companheiros de farda estão explodindo, e dos quais o único fragmento que resta é o pênis, juntamente com o capacete azul celeste da ONU. E é acompanhado quase que o tempo todo pelo personagem tradutor de Tizangara, que também é o narrador da obra.

- Cortaram esta coisa do homem ou vice-versa?

O estranhamento por parte de Risi aumenta à medida que ele entra em contato com os moradores da vila que, a seu ver, são quase sobrenaturais, assim como os eventos que ali ocorrem. O italiano conhece alguns habitantes da vila que acabam por transformar suas expectativas em nenhuma expectativa. Primeiro conheceu Anadeusqueira, a prostituta, e o administrador, Estevão Jonas e sua esposa Ermelinda, que resguardam a parte mais cômica de todo o livro; depois Chupanga, o puxa- saco faz tudo do administrador; o hospedeiro da pousada onde ficou instalado; e, mais intensa e intimamente, conheceu Temporina, uma moça formosa com rosto de velha.

De repente, o italiano tropeçou num vulto. Era uma velha, talvez a mais idosa pessoa que ele jamais vira. [...] O italiano esfregou os olhos como se buscasse acertar a visão. É que o pano deixava entrever um corpo surpreendentemente liso, de moça polpuda e convidativa.

Mais à frente, outros personagens nos são apresentados, como o Padre Muhando, que tem uma relação muito particular, bem humorada e íntima com Deus; o pai do narrador, Sulplício, que é de onde recebemos a parte mais lírica da narração; Zeca Andorinho, o feiticeiro; Hortência, tia de Temporina e que já está morta.

Continue lendo aqui:
http://almadomeusonho.blogspot.com.br/2013/06/resenha-o-ultimo-voo-do-flamingo-mia.html


PS: Ler Mia Couto é um sopro de vida, poesia, conscientização política e humana, mas também é um sofrimento pra alma tentar condensar em meras palavras, tantas vezes repetidas, tudo de novo que ele nos transborda...
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Fernando Franco 09/05/2013

Cuidado para não explodir...
Nada nesse livro é vazio de sentido. Tudo que o autor decidiu colocar, foi necessário. Não parece, a princípio, aos leitores desavisados (para estes, o Mia Couto estava delirando ao escrevê-lo), por isso mesmo é que ler este livro sem ter a noção da nacionalidade do autor e do contexto histórico de seu país, é pedir pra não compreendê-lo. Através do fantástico narrado pelo autor, o leitor vai pescando o realismo daquilo, às vezes facilmente compreensível, outras vezes, nem tanto. Às vezes eu senti o autor forçando poesia e profundidade demais aos fatos, e o leitor fica se perguntando se não há fato meramente fato na ideia de mundo do autor, se os fatos têm de ser sempre metáforas. Mas não prejudica em nada - muito ao contrário, é a caracterização da obra!
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Andréia Sk 17/03/2013

Lírico
Mia Couto nos presenteia com este fantástico romance, envolto num lirismo tão indescritível quanto a história que ele conta. Tudo é poesia, tudo é crença, tudo é cultura... Os personagens envoltos em intrigas políticas, ambição, receio, medo, solidão... Passado, presente e futuro misturados. E o que é o nosso dia-a-dia se não uma série de acontecimentos sem sentido? Ou, talvez, que fazem sentido demais... No fim, tudo parece ter sido só um sonho.
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Paulinho 13/02/2013

O Último Voo do Flamingo
O Último Voo do Flamingo publicado em 2000 é o quarto romance desse grande escrito moçambicano que é Mia Couto. Li o livro pela primeira vez em 2010 no último ano do meu ensino médio numa época conturba que é a do vestibular. Lembro de o livro ter-me encantado já nesse período, mas dois anos depois terminando o quarto semestre da faculdade de História, depois de ter estuda África, é que acredito ter penetrado profundamente o livro. Essa segunda leitura foi executada com muita atenção, pois uma proposta de uma das minhas disciplinas deste semestre, África II, é um ensaio de uma obra de literatura africana relacionada com textos acadêmicos.
A primeira a destacar é claro são a beleza e a força das palavras de Mia, seus neologismos, as paranomásias, aliterações, Assonância, e inúmeras outras formas de se brincar com as palavras. O narrador justifica seus neologismos:

“[...] Me condenaram. Que eu tenha mentido isso não aceito. Mas o que se passou só pode ser contado por palavras que ainda não nasceram.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Página 09.

Já no início o narrador justifica por que é preciso escrever esse livro, ou seja, contar essa história.

"Hoje são vozes que não escuto se não no sangue, como se a sua lembrança me surgisse não da memória, mas do fundo do corpo.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Página 09.

Ainda me referindo a prosa, a vontade que dar é ler o livro em voz alta para escutar os sons das palavras. Ver, falar e escutar para uma captação maior da beleza dessa escrita. Li e reli parágrafos e até capítulos inteiros só pela beleza e pelo sabor sinestésico de deslumbrar, vislumbrar toda força lírica do texto de Mia Couto.

“Se temos voz é para vazar sentimento. Contudo, sentimento demasiado nos rouba a voz.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 10: OS Primeiros Rebentamentos. Página 111-112.

A história de O último voo do Flamingo se passa um ano depois da Guerra de Independência, soldados das Nações Unidas começam a explodir e a única coisa que resta desses infelizes é o órgão genital. Mia faz, também, uma denuncia dos atuais governos, corruptos e ambiciosos.

"A primeira vez que escutei os rebentamentos acreditei que a guerra regressava em suas tropas e tropéis. Meu pensamento tinha uma só ideia: fugir. Passei pelas últimas casas de Tizangara, minha pequena vila natal. Ainda vi, se silhuetando longe, a minha casa natal, já mais perto, a residência de Dona Hortênsia, a torre da Igreja. A vila parecia em despedida do mundo, tristonha como tartaruga atravessando o deserto.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 10: OS Primeiros Rebentamentos. Página 109.

Mia critica a ação das Nações Unidas, sua ineficácia:

“Morreram milhares de moçambicanos, nunca vos vimos cá. Agora, desapareceram cinco estrangeiros e já é o fim do Mundo?”
ANA DEUSQUEIRA. O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 2: Missão de Inquérito. Página 32.

O último Voo do Flamingo serve também para percebermos os preconceitos que existem em quase todas as sociedades e também nas sociedades africanas.

“Percebeu-se algum desprezo no modo como disse "mulato". O padre Munhando já falara contra esse preconceito. O pensamento do sacerdote ia direito no assunto: mulatos, não são todos nós? Mas o povo, em Tizangara, não se queria reconhecer amulatado. Porque o ser negro - ter aquela raça - nos tinha sido passado como nossa única e última riqueza. E alguns de nós fabricavam sua identidade nesse ilusório espelho.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 5:A Explicação de Temporina. Página 59.

O Último Voo Do Flamingo é um livro que deve ser lido e relido muitas vezes seja pelo valor da historicidade abordada na obra (Moçambique pós Guerra de Independência), seja por nos revelar uma África, diversa, mística, despedaçada, esperançosa, seja pelos personagens e suas histórias encantadas e encantadoras ou seja pelo belíssimo trabalho de escrita poética.

Encante-se, comova-se... Sonhe; leia.

"E pergunto: por que nos ensinaram essa merda de sermos humanos? Seria melhor sermos bichos, tudo instinto. Podermos violar, morder, matar. Sem culpa, sem juízo, sem perdão. A desgraça é esta: só uns poucos aprenderam a lição da humanidade.”
O Último Voo do Flamingo. Mia Couto - 232 páginas - Companhia das Letras. Capítulo 17: O Passarinho na Boca do Crocodilo. Página 178.

Enquanto livros como esse forem escritos canções continuaram sendo cantado e os flamingos, " os anjos róseos", continuaram seu voo.
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Potterish 30/11/2012

O voo solo da África
Nos últimos anos, está cada vez mais fácil ter acesso a autores de continentes como a Ásia e a África. Essa troca de experiências faz com que os mundos europeu e americano tenham uma outra visão de sua cultura e história.

Mia Couto é um dos mais notáveis escritores africanos. O moçambicano alcançou reconhecimento mundial por seus romances que buscam uma identidade nacional, mas de uma maneira diferente da que estamos acostumados a entender. Como sempre, a literatura explica por linhas tortas. Confira a resenha de “O último voo do flamingo.”



“O último voo do flamingo”, de Mia Couto


Contar a história da África é sempre um grande desafio. Primeiro, porque as fontes principais sempre foram colonizadores que viam o continente com os olhos do explorador. Mas mesmo os historiadores contemporâneos, que buscam a história pré-colonial, costumam encontrar dificuldades pela falta de documentos escritos. A cultura africana sempre foi marcada pela oralidade. Dessa forma, é imprescindível que os próprios africanos traduzam para o papel o que vivem. O moçambicano Mia Couto é um dos escritores mais notáveis a fazer isso.


Porém, não espere em “O último voo do flamingo” um registro histórico fiel. Para começar, os acontecimentos do livro se sucedem em Tizangara, uma comunidade imaginária de Moçambique. O período é pouco depois da independência (1975) e um grupo de esquerda está no poder vigiado de perto pela ONU. Apesar das inúmeras mortes locais, a Organização só se preocupa quando seus militares começam a aparecer mortos, na verdade, explodidos, sem deixar pistas.

O italiano Massimo Risi é mandando para Tizangara para desvendar o mistério e ganha a companhia de um tradutor, sem nome, que é o narrador do livro. Nesse momento, o leitor espera o começo de uma narrativa de suspense e investigação, como já vimos e lemos diversas vezes. Mas é exatamente nessa parte que somos surpreendidos.

Quanto mais Risi tenta se infiltrar na cultura moçambicana para desvendar os mistérios, mais perdido ele fica diante de personagens misteriosos, das crenças em feitiços e coisas sobrenaturais, de bebidas alucinógenas, e de coisas sem explicação. O leitor pode até sentir uma certa frustração com a resolução do mistério, mas ela atende perfeitamente à proposta de Couto.

Seria muito fácil colocar Risi como narrador, por ele ser o branco que tenta entender a África e criar uma identificação com os leitores estrangeiros. Mas Couto escolheu de forma correta o tradutor, pois ele simboliza exatamente a dificuldade de refazer os significados não só entre idiomas, mas de uma cultura para outra.

“A sabedoria do branco mede-se pela pressa com que responde. Entre nós o mais sábio é aquele que mais demora para responder. Alguns são tão sábios que nunca respondem”, diz a prostituta Ana Deusqueira. Em outra passagem, o pai do tradutor afirma: “O problema deles é manter a ordem que lhes faz serem patrões. Essa ordem é uma doença em nossa história. Antigamente queríamos ser civilizados. Agora queremos ser modernos”.

“O último voo do flamingo” é um manifesto ficcional de identidade de Moçambique, mas que também pode ser entendido como africano em suas devidas proporções. O livro demonstra de forma eficaz como é difícil trazer a África tradicional para o entendimento europeu de história.

Resenhado por Sheila Vieira

225 páginas, Editora Companhia das Letras, 2006.
Publicado originalmente em 2000.


ACESSE: WWW.POTTERISH.COM/RESENHAS
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jota 19/10/2012

Falar inventado = faliventar
Com este livro Mia Couto ganhou, em 2001, um prêmio da Fundação Gulbenkian e no final da edição temos seu discurso de agradecimento que também funciona como explicação da gênese de O Último Voo do Flamingo. Antes dos agradecimentos há um pequeno glossário, muito útil, que auxilia no entendimento de palavras e expressões usadas pelos personagens.

Isso no final. Pois no começo mesmo, logo nas primeiras páginas, meu pensamento foi conduzido para os livros de Gabriel García Marquez, em que o escritor colombiano explora o chamado “realismo fantástico”. Explico: soldados da ONU, integrantes das forças de paz presentes em Moçambique logo após a independência do país, inexplicavelmente começam a explodir, mais precisamente na fictícia localidade de Tizangara (daí a lembrança da Macondo de Cem Anos de Solidão).

Também me lembrei de Efrain Medina Reys, outro escritor colombiano (autor de Técnicas de Masturbação entre Batman e Robin, que não li), crítico de Márquez e adepto do chamado “realismo urbano” que diz numa entrevista de 2004: “Nós que vivemos na Colômbia sabemos que as pessoas aqui não voam pelos ares vítimas de um esconjuro, mas, sim, de uma bomba.” Bombas das FARCs e outras, certo?

Tudo isso para dizer que se você estiver mais para Reyes do que para Márquez, talvez não vá apreciar muito o livro de Mia Couto. Se bem que, na verdade, ele parece combinar as duas posições (fantasia/realidade) quando envereda pela situação política, social e econômica de Moçambique, tecendo críticas aos nacionais e estrangeiros que unicamente pareciam querer explorar o país e seus cidadãos - não sei exatamente como anda Moçambique atualmente, mas o panorama da maioria das nações africanas, com exceção da África do Sul, nunca parece ser muito animador.

Nessa história toda Couto salva a pele de um estrangeiro bem-intencionado, o personagem do soldado italiano Massimo Risi, que vem investigar os estranhos fatos que acontecem em Tizangara. O personagem principal, o narrador, no entanto, é um local, um rapaz negro sem nome, o tradutor que acompanha o italiano da ONU. Ele nos apresenta diversos personagens curiosos, como o padre Muhando, a prostituta Ana Deusqueira, o feiticeiro Zeca Andorinho, etc., e até a metade do livro todos eles e outras coisas mais me pareceram muito interessantes.

Por vezes me senti meio que assim na Sucupira de Odorico Paraguassu, imortal criação de Dias Gomes, pois os personagens moçambicanos de Couto nos brindam (como os baianos de O Bem Amado) com muitos ditos populares e expressões típicas do país – várias delas inventadas pelo próprio autor, no entanto. Ou seriam todas? Um trecho saboroso: "Não sou mau lembrador. Minha única dificuldade é ter de escrever por escrito". E prossegue: "Escrevo, Excelência, quase que por via oral (...)"

Desse modo, eu esperava que qualquer hora alguém fosse dizer “prafrentemente” em vez de “daqui a algum tempo”, etc. Não dizem, claro; dizem outras coisas saborosas, tantas que há até estudos pertinentes acerca e um deles apropriadamente se chama: “Mia Couto ou o falinventar da língua”, por Guilherme D’Oliveira Martins, atual presidente do Centro Nacional de Cultura de Portugal. “Falinventar”, captou?

Mais ou menos depois da metade do livro, a história começa a parecer longa demais – queremos saber o motivo da explosão dos soldados estrangeiros, não? –, as expressões e os ditos que antes pareciam curiosos e até poéticos começam a parecer repetitivos ou forçados e o interesse pela história decai um pouco até os redentores capítulos finais(19, 20 e 21).

Como disse alguém, eu li e achei isso.

Lido entre 14 e 19.10.2012.



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