Jessé 05/02/2017
Pode um livro com uma capa um tanto quanto macabra ser tão adorável? Pode.
Nunca li nada do tipo, confesso, mas O Substituto é aquele livro amorzinho que você respeita. Tudo bem, a capa sugere que a história envolva terror ou algo do tipo, mas o foco é totalmente diferente.Acompanhamos a vida de Mackie Doyle, um garoto de dezesseis anos que vive na pacata cidade de Gentry, nos Estados Unidos. Logo no começo, percebemos que há algo de errado por ali, pois o garoto simplesmente não pode chegar perto de ferro. É a kriptonita dele. Mackie é um garoto bem "na dele". Faz o que for necessário para não chamar a atenção. A princípio, pensamos que esse é o único motivo, mas acabamos descobrindo que ele é um substituto. Foi deixado no berço de um bebê há dezesseis anos, trocado pelo verdadeiro filho da família.
Ah, a família Doyle. Eles são um ponto extremamente importante para a história. Mesmo que Mackie não seja, de fato, um membro da família, sempre foi tratado como tal, ainda mais devido à sua condição especial. Todos lhe tratam como igual, principalmente sua irmã, Emma.
Conforme a história avança, descobrimos que Mackie não foi o primeiro, e nem de longe será o último. O buraco é muito mais embaixo (literalmente).
Ao longo dos anos, essas criaturas receberam vários nomes, mas hoje em dia preferem não ser chamadas de nada. De acordo com elas, o que é nomeado acaba perdendo a força. Bom, eu prefiro chamar apenas de criaturas mesmo. Essas tais criaturas vivem no subterrâneo de Gentry, num local conhecido como Casa do Caos. A Casa do Caos é governada por Morrigan, uma princesa nada comum. Mas isso não é o pior que acontece por ali, confie em mim. Mackie não gosta muito de estar ali, mas acaba não tendo escolha. Ele está morrendo, e acaba descobrindo que a Morrigan pode ajudá-lo, desde que ele a ajude também, seja com aquilo que ele precisa, seja contando a história dos substitutos.
A irmã caçula de uma garota, Tate, acaba falecendo, e ela jura de pé junto que aquela coisa que foi enterrada não era a irmã dela. A garota passa a perseguir Mackie, na esperança de que ele confesse ter algum envolvimento no caso. Ele foge, o máximo que pode, mas acaba cedendo, e descobre que Tate é muito mais do que apenas uma garota durona.
O livro é muito bem escrito. No começo, acabei estranhando um pouco a história, mas acabei pegando o embalo e devorando-o na noite seguinte. A história tem um tom cinzento e melancólico mas, no fim das contas, você torce para que tudo dê certo. Não se trata apenas de Mackie fazer o que ele decide fazer (sem spoilers). Tudo isso é muito maior do que ele, talvez maior até mesmo do que Gentry. Mas nosso pequeno e improvável herói não está sozinho nessa. A autora não economizou os relacionamentos entre os personagens, e cada amigo de Mackie tem sua importância para a história. Cada detalhe citado pela autora colabora para o desfecho de tudo. Se você acha que aquele balão no começo do livro (é só um exemplo) não tem importância, você está errado. Tem importância.
A amizade entre Mackie e Roswell é um dos pontos altos. Roswell sabe que seu amigo não tem a melhor saúde do mundo e, mesmo assim, ele sempre está lá, para ser aquilo que Mackie precisar. Faltam amizades assim.
O Substituto é um livro amorzinho, que vale a pena ser lido. Você vai achá-lo um tanto quanto diferente, mas vai amá-lo. Paixão, medo, suspense, compaixão, aventura, coragem e por aí vai. Mackie Doyle não é o herói que nós queremos, mas o herói que precisamos. O livro é o primeiro da autora Brenna Yovanoff e, se ela fez algo tão bom logo no primeiro romance, mal posso esperar para ler os outros.
Ponto positivo para a Bertrand Brasil. A edição do livro é maravilhosa. Sim, eu comprei o livro pela capa, e não me arrependi. A diagramação é ótima, de forma que a leitura não se torne cansativa. Capa e história se completam sutilmente.
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