Bruna Martins 17/05/2016
A ESTRELA MAIS BRILHANTE DO CÉU - MARIAN KEYES
Chick-Lit || 602 Páginas || Editora: Bertrand Brasil || Classificação 5/5 Favorito
A história tem um narrador misterioso, uma espécie de espírito, que observa atentamente a vida dos moradores de um edifício na cidade de Dublin, na Irlanda, pois tem a missão de escolher uma dessas pessoas e mudar sua vida para sempre, tudo em apenas 60 dias.
Os inquilinos do citado prédio são irreverentes, engraçados e bem diferentes um dos outros, o que torna bastante complicada a escolha que o espírito precisa fazer.
Kate é uma mulher madura, bem resolvida e muito independente, sempre impecável, em seu salto alto, unhas bem feitas e roupas descoladas. Ela trabalha no ramo de ralações públicas agenciando vários astros da indústria musical. Através do trabalho, conheceu seu atual namorado, Conall Hathaway. Apesar de ser louco por Kate, ele passa pouco tempo com ela, é um exemplo perfeito de workaholic, sempre trabalhando, viajando a negócios e checando seu Black Berry até mesmo nos raros momentos de folga. Kate se sente muito sozinha e não recebe nenhum tipo de apoio da família em sua vida, anseia por uma relação mais completa com Conall, fato que parece que nunca acontecerá de verdade.
Jemina é uma velha senhora que vive há tempos no edifício na companhia do bom e fiel cachorro Rancor. Seu filho Fionn é um jardineiro conquistador, bonitão e um tanto quanto sem noção. Apesar de não visitar muito a mãe, o rapaz arrumou uma proposta de trabalho em Dublin, terá seu próprio programa sobre jardinagem na TV e passará uns tempos em sua companhia, agitando a pacata vida da senhora e dos outros moradores do local.
O jovem e aparentemente perfeito casal Matt e Maeve, casados há 03 anos tem uma rotina pacata, certinha e cheia de hábitos curiosos. Todo dia pela manhã tomam uma espécie de vitamina, um café apressado e seguem para o trabalho (ele de carro e ela perigosamente rápida em sua bicicleta). À noite tiram suas roupas, colocam uma espécie de pijama, fazem algumas anotações em seus respectivos caderninhos e dormem. O passado do casal é bem explorado na trama e tem uma carga emocional muito forte; aqueles estranhos hábitos são um efeito colateral dos seus últimos anos… Algo que pretendem esquecer e superar, o que pode ser muito mais difícil do que parece.
Os últimos inquilinos do prédio 66 da Star Street são três colegas de quarto nada convencionais, Andrei, Jan e Lydia. Os dois rapazes são poloneses que vieram à Irlanda em busca de melhores condições de vida, apesar de grandalhões, os dois tem bom coração e morrem de saudades de seu país. Jan é sensível, pacato e gentil, trabalha arduamente e sempre ajuda nas tarefas do apartamento. Andrei é um tanto rude e namora a ultima virgem de Dublin, um casal esquisito, que pode ser muito atrapalhado por Lydia, com quem ele mantém uma estranha relação de ódio e desejo. Esta, por sua vez, é uma jovem, baixinha, direta (fala tudo o que pensa) e excêntrica motorista de taxi. Ela é a personagem mais engraçada da trama e seu jeito casca grossa causa muitas confusões. Apesar de tudo, ela enfrenta uma barra em sua família, talvez pesada demais…
A vida dessas pessoas é observada de perto pelo narrador, que vai nos dando maior detalhes da trama. Como de costume, Marian aborda temas complicados, polêmicos, mas reais na vida de muitas pessoas. Isso aproxima muito o leitor e traz um pouco de drama a obra.
Um livro bem diferente de tudo o que Marian já escreveu, usando uma mescla de estilos, comedia, drama e suspense, a autora nos presenteia com uma trama densa e muito doce.
O desfecho conta com uma boa dose de humor e a mudança de muitos dos personagens. O mistério em torno do narrador e sua busca naquele pequeno prédio dá aquela curiosidade gostosa no leitor e a revelação é linda e realmente transformadora. Em suma, o final açucarado e cheio de emoção não poderia ter sido melhor.
Leve, fluido, lindo, tocante e diferente, essa obra me encantou não pelas razoes obvias esperadas dessa autora que tanto gosto, mas por ter esse quê a mais, provando, mais uma vez, a versatilidade e capacidade inquestionáveis de sua escrita.