leosilva 12/01/2016
Receita para anticlímax
Jogando Xadrez com os Anjos, de Fabiane Ribeiro, é um livro com sérios problemas, a começar pelo público-alvo. Se for para crianças, ela erra, pois a história não possui uma “pegada” infantil que o permita incluí-lo nesse grupo; se for para adolescentes, ela erra novamente, pois o teor do texto e a ausência de elementos compatíveis com esse público-alvo também não existem; por fim, se for para adultos, ela erra mais ainda, pois a linguagem do narrador é extremamente infantil e simples – e o livro não é narrado pela menina Anny -, incompatível com um público mais adulto e exigente. Assim, a história parece transitar entre todos os públicos e cair no marasmo de uma narrativa inchada por acontecimentos enfadonhos. O Reino Xadrez, por exemplo, é um enjôo que foi inventado para tornar a leitura mais chata, pelo menos para mim. Anny é uma garota insuportavelmente insossa, que aceita todo o sofrimento sem reclamar e ama seus maravilhosos pais (relapsos e ausentes). A mãe não a ama desde o começo, e ela parece não perceber isso em momento nenhum do livro. Não há justificativa para que uma história que se passe na Inglaterra não contextualize decentemente a época, de forma a fazer o leitor se interessar. As descrições fora da casa são sempre muito vagas. A história vai ficando confusa e os conflitos não são resolvidos ao final do livro. Uma parte que poderia ser bem trabalhada (que é a do manicômio), por exemplo, passa muito rápido, como se a autora quisesse voltar logo para o cenário da casa da família que adotou Anny, tornando a leitura mais chata. Ribeiro chega a numerar os dias que Anny passa no manicômio (Dia 1), mas não sai disso, pois a menina é libertada logo depois. As histórias paralelas são outro problema, pois praticamente não interferem na história de Anny e só servem para deixar o livro mais chato e arrastado e assim, algo que se resolveria em 200 páginas, se arrasta por 400, somente para criar volume. E o final... Bem, no final a autora prova que não sabia o que estava fazendo, pois cria um parente perdido para Anny de última hora e deixa as coisas sem resolver direito. Infelizmente a história foi mal escrita, pois poderia criar uma imersão do leitor na Inglaterra Pós-Guerra, mas se perde e se resume a um longo conto sobre uma menina que poderia ser a filha de Madre Teresa com o Gandhi, de tão boazinha e angelical que é (e aos 18 anos Anny ainda parece ter os mesmos pensamentos de quando tinha 9, não é melhor investigar isso?). Como se não bastasse tudo isso, ainda tem o anticlímax: o ponto alto do romance acontece uns dois capítulos antes do final. E depois, o que temos? Narrativas enfadonhas sobre a mãe de Nicole e sua obsessão sexual por nativos. Enfim, depois de um samba de crioulo doido que parece durar uma eternidade, o livro termina sem emoção e deixando a impressão de ter sido perda de tempo. Só não foi maior porque, apesar de tudo, Fabiane tem o mérito de escrever um texto bem simples e fácil de entender. Só isso.