Lola 05/12/2013Xadrez - Fabiane Ribeiro“Ela podia ser quem desejasse ser. E ela desejava ser livre. Portando, assim era sua alma.” – Página 78, Capítulo 3.
Fabiane Ribeiro tem uma sensibilidade para a escrita que pouquíssimos autores têm na atualidade. Ela transmite uma veracidade em suas linhas que fica difícil não sorrir, chorar, torcer e rezar junto com a pequena Anny que tem em seu coração uma carga incrível de amor e sabedoria. Xadrez é um livro que toca seu coração e que lembra o quão importante é nunca perder a liberdade de espírito, porque a felicidade só é alcançada quando estamos dispostos a amar sem reservas.
Xadrez despertou em mim muitos momentos de bipolaridade. Eu queria terminá-lo logo para ver Anny parar de sofrer nas mãos de pessoas ruins e amargas. Ao mesmo tempo eu queria mais da companhia dela, queria ouvir as histórias de Pepeu e vê-lo fazendo mágicas, queria ver o Senhor Hermes voltar a ser um desbravador sem medo de viver, queria Nicole ensinando lições a Anny e contando sobre a vida maluca, mas feliz de sua mãe, Charlotte.
Cada capítulo tem um quote que deixa seus sentidos aguçados tentando antecipar os fatos que levaram àqueles acontecimentos.
Fora que as conversas de Anny e seu amigo Pepeu são um presente a parte.
“-É assim que deve ser, – Pepeu disse, após outra história divertida que fizera Anny gargalhar – as crianças devem sorrir, as pessoas devem sorrir, mesmo as que sofrem. Você sabia que o riso espanta coisas ruins?” Página 80, Capítulo 3.
Anny é uma garotinha de 8 anos que mora em uma casa confortável e que tem pais que trabalham viajando, ficando muito pouco em casa, por isso a pequena os vê apenas nos sábados.
Um dia ela recebe a notícia de que em função do trabalho dos pais ela passará a vê-los apenas uma vez por ano. Antes de separar-se das pessoas que mais ama no mundo ela recebe do pai um presente maravilho: um tabuleiro de xadrez com peças de cristal.
E ela é deixada aos cuidados de sua professora malvada, Jane e seu marido Hermes, e muda-se para a casa deles apenas levando sua ovelhinha de pelúcia e o jogo de Xadrez.
Mesmo diante de uma vida quase miserável, dormindo em um quartinho com uma cama dura, obrigada a fazer os trabalhos da casa e sendo tratada como pouco menos do que um nada a menina nunca perde a esperança de rever os pais e ser feliz ao lado deles.
O tabuleiro de Xadrez é a maior conexão com os dias alegres ao lado do pai, por isso ela constrói sua vida entrelaçada ao jogo, tanto que quando ela adormece é transformada em rainha e caminha por seu Reino Xadrez, e durante suas conversas com o Bispo (sim, a peça do tabuleiro) ela encontra ainda mais forças para não desistir jamais.
Durante o desenrolar do livro acompanhamos a evolução que Anny passa, de garotinha a mulher, porém que luta a cada dia para não deixar morrer o seu lado criança, o seu lado que está cheio de esperança e vontade de ser feliz. Seu lado que perdoa e que acima de tudo crê que no amor buscamos forças para alcançar qualquer coisa que desejarmos.
Um ponto super positivo que devo ressaltar é que a Fabi conseguiu criar uma teia enorme de personagens e de vidas que se entrelaçavam umas as outras sem se perder. Nenhuma ponta solta, nenhum destino foi esquecido. Ela uniu sutilmente todas as histórias e conseguiu fechar com chave de ouro.
Se eu tivesse que apontar um ponto que me desagradou levemente foi que se as páginas fossem amarelas ia ser um sonho, porque fora isso a editora está de parabéns pois não encontrei um só erro nem nada fora do lugar.
Mais uma vez, assim como mencionei na resenha de Corações em Fase Terminal, elogio a construção de seus personagens, cada um está exatamente onde deveria, suas descrições são na medida certa e a história apesar das suas 380 páginas não é cansativa em nenhuma linha.
Pelo contrário, é como se a sabedoria brotasse em cada vírgula, cada ponto final. Você lê e fica refletindo sobre como o mundo está carente de amor e de palavras verdadeiras, você começa a se dar conta de que não podemos esperar o outro agir, a mudança em busca de um mundo mais sereno deve começar dentro de cada um.
“Deixamos de nos encantar, de dar valor ao que tem valor, de fazer o mundo ao nosso redor sorrir, e de sorrir de volta para ele. Não nos permitimos fazer coisas diferentes, porque seguimos regras o tempo todo. Aí, cada vez mais pensamos que podemos controlar tudo e a todos; e ensinamos as crianças, quando, na verdade, elas é que deveriam nos ensinar.” – Página 81, Capítulo 3.
Leitura mais do que recomendada, não só por ser uma autora nacional, mas também por ser uma escritora que alcançou a sintonia com o seu dom de escrever transformando seus romances em must read eternos.
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