@retratodaleitora 12/03/2015Um doce de protagonista. Neste livro acompanhamos a história de Anny, uma linda menininha de 8 anos que nunca saiu de casa... O emprego dos pais não permite isso, e ela só pode vê-los uma vez por semana. Bem, agora isso está prestes a mudar, mas para pior.
O pai de Anny, Jefferson, presenteia a menina com um lindo jogo de Xadrez feito de cristal, e esse logo vira o brinquedo favorito de Anny, depois de sua ovelhinha de pelúcia Tiara, claro. O jogo a faz lembrar do pai quando ele está longe, e ela fica treinando para que, quando o pai volte, possa jogar com ele. Os sábados são os melhores dias, pois é quando seus pais voltam e passam o dia com ela.
"O amor dela pelos pais era maior que o mundo. Era do tamanho do seu coração. Era um amor tão lindo e suave que parecia uma prece." pág 8
Mas agora Cindy e Jefferson não vão mais vir uma vez por semana, agora virão, se puderem, uma vez por ano. Anny fica muito triste e pede por tudo que não a deixem; mas o emprego de seus pais requer compromisso total, além de ser perigoso... A menina não tem ideia do que fazem.
Anny fica ainda mais triste quando descobre que morará com sua professora Jane, que mora na pequena casa em frente a mansão onde ela mora.
Jane é uma mulher sem nem um pingo de amor ou piedade em seu coração; mora com seu marido Hermes, um homem que há muito tempo esqueceu de viver e, naquela casa, não existe cor nem luz, até Anny chegar.
A menina passa por todo tipo de humilhação e privação. Ela não pode sentar à mesa, não pode sentar no sofá, nem assistir televisão ou ouvir rádio, e são apenas duas refeições por dia; não pode falar com Jane ou Hermes se não for algo importante; tem que varrer e lavar toda a louça, não pode nem afastar as cortinas e olhar a rua pois seu pai pagou muito bem para que Jane não permitisse ela sair pois homens maus podiam se vingar de Jefferson fazendo mal a sua filha.
"A vida é como uma partida de xadrez, se não se consegue em um dia, deve-se tentar no dia seguinte, e nunca deixar de acreditar - Anny dizia para Tiara."Pág 26
A única alegria de Anne é contar os dias para que o inverno chegue e com ele a neve... É quando a neve chega que seus pais aparecem, uma vez por ano. Como se sente muito só o tempo todo, ela passa seu tempo jogando xadrez e cuidando do jardim que está sem flores e sem vida a muito tempo. Com o tempo e muita dedicação de sua parte, ali começam a brotar lindas flores e amizades...
É nesse cenário, no jardim, que Anny conhece Pepeu, um jovem artista que aparece do nada para trazer ainda mais luz e esperança para os dias da menina. Ele logo se torna seu melhor amigo, como um irmão mais velho, sempre pronto para ouvir o coração cheio de saudades da menina. Ele, com o tempo, vai contar-lhe sua triste história, que ele guarda dentro de si à 7 chaves.
Anny encontrou um amigo que mais parecia um anjo, ou Pepeu era realmente um anjo? Apenas ela podia vê-lo e sentir sua presença, mais ninguém. E eles, juntos, formavam uma família.
Anny tem um coração imenso, ama com toda a sua alma e faz de tudo para afastar pensamentos negativos, deixando apenas sentimentos puros e bonitos em seu interior, nunca medindo esforços para ajudar o próximo; buscando sempre motivos para sorrir e acreditar, tendo fé em Deus e no destino.
Mas toda essa pureza e delicadeza presente na menina só provocava raiva em Jane, e a convivência com aquela mulher asquerosa e cheia de ódio estava a cada dia mais difícil. E sempre quando as coisas ficavam ruins anjos apareciam... Primeiro veio Pepeu, seu amigo e irmão, e depois veio uma mulher, Nicole, sobrinha de Jane, que vendo a situação da menina naquela casa de pôs a ajudar e fazer dos dias de Anny dias mais bonitos e a espera pelos seus pais mais suportável.
"Não podemos esperar das pessoas mais do que elas estão prontas para nos entregar." Pág 62
As desventuras que Anny vive são tão tristes e cruéis que toca o coração do leitor e trás uma forte emoção a cada virar de páginas. É uma história triste, sim, mas linda e cheia de lições importantes. Uma pessoa tão positiva e cheia de amor como a Anny é difícil encontrar na vida real, longe do mundo dos livros. A felicidade que a menina encontra nas pequenas coisas do dia a dia faz o leitor repensar sobre as próprias atitudes.
Essa história começa no ano de 1947 e se passa na Inglaterra em um cenário pós segunda guerra. Por se passar fora do Brasil eu tive um certo medo de não conseguir imaginar aquele cenário e até achar forçado da parte da autora. Mas eu sinceramente gostei disso no livro, dessa coragem da autora de criar uma narrativa que se passa longe de seu país de origem e onde os costumes e o clima são diferentes do nosso.
A narrativa é toda em terceira pessoa, e a escrita da Fabiane é uma delicia. A narrativa flui muito bem, pelo menos até chegar ao final...
Vi algumas pessoas comentando sobre o final e afirmando que essa foi a melhor parte do livro. Eu discordo. O livro todo é lindo e de leitura fácil e rápida, mas o final eu achei meio repetitivo e um pouco maçante. Não tenho dúvidas de que o desfecho foi bom, mas eu esperava mais dele. E sobre o livro ter 400 páginas eu achei um pouco demais, poderia sim ter sido encurtado em 350 páginas e ainda seria maravilhoso.
A personagem principal é a Anny, mas existem outras histórias de outros personagens presente no livro. Temos a história de Pepeu, que é uma história de amor interrompida; a história do senhor Hermes; e também a história da irmã de Jane, mãe de Nicole, que foi morar no Alasca após a morte do marido. Essas histórias lindas e tristes ao mesmo tempo fizeram com que o livro não ficasse entediante e acrescentam muito à história. Ah, temos também partes que narram o que os pais de Anny estão fazendo.
"Ele esboçou seu sorriso largo e contagiante, daqueles que fazem todos sorrir também. Um sorriso calmo, sem pressa, um sorriso de menino, mesmo que no rosto de um pequeno homem. Um sorriso sincero, conquistador, desafiador e, ao mesmo tempo, desbravador... De um mundo sem limites. Tudo que havia naquele sorriso era reflexo do que a simples lembrança do amor trazia a Pepeu." Pág 71
Jogando Xadrez com os Anjos é um drama, e como a maioria dos dramas, trazem fortes emoções a quem o lê. Eu sofri junto a Anny e também me diverti junto a ela.
A escrita da autora é muito boa! Ela ambientou a história em outro país e fez isso de uma maneira incrível... o Brasil só é citado nas últimas páginas, mas eu gostei disso pois Fabiane sabia o que estava fazendo.
Olhando no facebook da autora eu vi até que foi traduzido para o inglês, olha só que maravilha!
Eu sei que muitos de vocês não curtem drama (eu adoro), mas eu acho que deveriam conhecer essa belíssima história e sua linda e iluminada protagonista.
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