miri.miri 04/06/2024
Traumas, isolamento e consequências.
Logo no início fui cativada pela protagonista, Sally Diamond é anti-social ao ponto de fingir que é surda pra não ter que conversar com as pessoas. O livro gira em torno dela, do passado dela, e também de outro personagem muito importante. Esse livro é extremamente viciante, um grande inimigo da ressaca literária!
Não querendo me aprofundar e explanar os acontecimentos, vou dizer por alto que a história é pesada com situações de cárcere privado, abuso, entre outras. Vamos acompanhando o passado e o presente alternado entre capítulos, as duas partes, as duas maneiras expostas de como certos traumas vividos na infância podem afetar alguém. Coisas cruéis. Acredito que um exemplo de como traumas geram traumas ou ainda pior...
Eu realmente gostei da Sally, a forma como ela é sincera mesmo que isso traga problemas. O jeito como ela encara as emoções e o jeito assertivo de pensar. Foi algo interessante de acompanhar. As partes mais leves do livro. Mas mais interessante ainda foi o Peter, o trauma dele sendo mais extenso em duração e o jeito que aquilo terminou...
O livro é muito bom, diria que entrega tudo já na metade, por isso no final pareceu perder a força, murchar um pouco. Não foi bem o final mais impactante de todos, mas foi capaz de deixar um encômodo. Uma conclusão boa se não for comparar com a alta qualidade do livro ao todo. E fica melhor se você refletir. A Sally fez a escolha certa de vida... Na minha humilde opinião anti-social. 10/10.
Preciso comentar alguns pontos importantes, com spoiler.
!!!!! Lá vem o SPOILER !!!!!!
!
Uma coisa que me chamou a atenção foi o fato de Peter ainda seguir acreditando que não era igual ao pai, mesmo copiando parcialmente as atrocidades dele. Foi uma viagem ele ser capaz de manter a Lindy em isolamento mesmo sabendo a dor do isolamento. Ele sofreu por ser isolado, mas isso não o fez ter empatia com a situação. Ele só se tornou uma cópia modificada do pai, assumindo a vida deturpada que lhe foi dada. Eu vi ele como psicopata... Mas ele tem o lado vítima. Entretanto, o final provou que ele estava estragado pra sempre. E a parte incômoda é que ciclo vai continuar. Esse é o desconforto que esse final passou, mesmo sendo sútil. O abuso que Conor sofreu da mãe foi passado adiante em uma espiral de ódio, que se fez misoginia e vontades doentias. Algo passado de mãe pra filho, e de filho pra filho. O que Conor fez com Denise, Sally, Lindy e o próprio Peter... Foi irreversível, sequelas dolorosas e brutais.
Quando digo que Sally fez a escolha certa... Me refiro realmente a ela ter terminado o livro sendo anti-social novamente. Sei que não é o melhor, mas às vezes a zona de conforto é tudo o que precisamos pra não surtar.
( !!! Spoiler Acima !!! )