Liliane225 12/09/2023
Itamar, obrigada.
Que livro cara, QUE LIVRO.
É dificil não comparar as leituras de Torto Arado com Salvar o Fogo, Torto Arado me deixou tonteada por dias e foi a leitura do ano pra mim em 2020. E entendo que vim pra essa leitura de Salvar o Fogo com muitas expectativas e isso poderia ter prejudicado a leitura, mas cara, NÃO, ele atendeu a todas as minhas expectativas e digo mais, me conectei com essa leitura ainda mais do que com Torto Arado.
Você aqui tem uma leitura que não é linear, você vai conhecer a história pelo ponto de visto de um menino que deve ter seus 7, 8 anos mais ou menos e vai acompanhar ele até sua fase adulta. Depois vai conhecer a história pela visão da irmã mais velha dele, que não casou e não pode sair de casa então virou a mulher da casa após a morte da mãe, portanto teve que criar ele e lidar com o pai alcóolatra. E depois você ainda vai acompanhar outro trecho da história na visão de uma das irmãs que se casa e sai de casa logo cedo.
Em nenhum momento eu me senti perdida, a parte da história contada pelo menino deixa algumas coisas abertas a interpretação, ele é uma criança e não entende algumas coisas, mas você leitor, vai entender. Não só vai entender como vai sentir a dor que ele passa mesmo não entendendo o que está acontecendo, vai sentir a falta do carinho e isso é algo presente tanto nesse como no livro Torto Arado que me traz muitas lembranças. Minha família é do interior da Paraíba e desde muito pequena eu ia visitar eles e custava a entender o jeito deles de demonstrar carinho, minha mãe compensou, acredito eu, a falta de carinho em casa com muuuuito afeto comigo, então quando eu chegava lá e queria abraçar e beijar meus avós e tios e eles riam, ficavam com vergonha e diziam que eu era muito pra frente, eu achava doido eles acharem isso e lendo o Itamar colocar esses sentimentos em seus livros, me faz entender mais esse lugar de falta de afeto, de pessoas que se gostam mas não sabem demonstrar, simplesmente porque nunca viram isso sendo feito.
Essa leitura me arrebatou, Luzia pra mim é a junção de mil mulheres que já passaram pela Paraíba e viraram história na boca de meus pais, tios e avós, aquelas histórias que são contadas a noites depois do jantar sentados na calçada da casa do sítio de meu avô onde sempre tinha alguém muito mística, com poderes, com mágia que não podia ser mais usada.
O ponto da cidade ser quase comandada pela Igreja, caraca, quem conhece sabe o quanto as cidadezinhas são formadas ali em volta da Igreja matriz, os padres visitam as casas pra ver se os moradores tem as imagens, tem um altar. O ALTAR, tantas vezes vendo minha avó cultuar seu altarzinho com suas imagens e esse ser o ponto mais bem cuidado e de valor na casa.
Enfim, mais uma canetada do Itamar, dando o nome e sobrenome. Fico feliz de acompanhar isso em real time.