Thiago275 12/09/2022
Excelente e necessário
Nesse terceiro volume da série sobre a escravidão, Laurentino Gomes discorre sobre o tema perpassando o período que vai desde a Independência do Brasil até a promulgação da Lei Áurea. O autor descreve como, já na época da Independência, havia pessoas contrárias ao trabalho escravo, mas não por razões humanitárias, e sim por considerarem as pessoas negras inferiores, que deveriam ser devolvidas para a África para não “mancharem” o Brasil.
Um dos pontos mais interessantes (e revoltantes) do livro é o capítulo que mostra como a elite agrária da época, a famosa bancada ruralista – que manda no Brasil até hoje – fez de tudo para adiar e impedir a abolição, e quando ela finalmente chegou, conseguiu manter a estrutura arcaica do poder baseado na posse de grandes extensões da terra. Depois de ler esse trecho, fiquei me perguntando onde estaríamos hoje se tivesse prosperado um projeto sério de reforma agrária, que garantisse pequenos lotes de terra não só aos ex-escravos mas também aos imigrantes que aqui chegaram para ser explorados por essa mesma elite que queria “branquear” o Brasil.
Assim como nos dois volumes anteriores, Laurentino mescla capítulos mais expositivos com outros mais pitorescos, contando histórias ao mesmo tempo interessantes e trágicas. Destaque para os capítulos sobre Nã Agotimé, uma rainha africana trazida como escrava para o Brasil, sobre os americanos do sul dos Estados Unidos que vieram para cá após terem sido derrotados na Guerra de Secessão, ou sobre Luiz Gama, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e André Rebouças, quatro grandes abolicionistas.
O único capítulo dedicado à família imperial intitula-se “Isabel”, e mostra como os Bragança, apesar de pessoalmente contrários à escravatura, nunca realmente utilizaram o poder do Trono para mudar o status quo.
Com Escravidão – Volume III, Laurentino Gomes encerra a trilogia iniciada em 2019 sobre esse tema que, segundo o autor, é o mais importante da história do Brasil. E, depois de ler esses livros, é difícil discordar dessa afirmação. Uma das melhores leituras do ano!