Escravidão

Escravidão Laurentino Gomes




Resenhas - Escravidão - Volume 3: Da Independência do Brasil à Lei Áurea


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Cleber.Laia 06/07/2023

Obra primorosa
Não esperava menos, foi um encerramento digno da trilogia, uma avaliação criteriosa da escravidão brasileira, deveria ser material obrigado nas escolas... Uma obra que deveria ser avaliada com seis estrelas.
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Gois 04/07/2023

Trilogia essencial
A escravidão sustentou todos os ciclos econômicos do Brasil quando colônia e império e ate hoje é uma chaga não resolvida no Brasil (e talvez sustente a riqueza de muito branco até hoje). A abolição não foi um processo justo, mantendo intacta a estrutura escravista e carrega problemas sociais e raciais até hoje. Entender sobre Escravidão, numa trilogia como essa, é não apenas algo interessante, como deveria ser uma OBRIGAÇÃO para todo brasileiro. Entender que o ontem está mais no hoje que imaginamos. Em alguns momentos a leitura cansa e se repete. Nesse livro, queria ter visto mais sobre a abolição e menos sobre a escravidao (que já foi abordada nos outros dois volumes). Mas continuo dizendo: essa trilogia é essencial e mudou minha visão sobre Escravidão, negritude, racismo e questões afins. Recomendo demais.
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Juliano.Ramos 02/05/2023

No último livro, o fim da escravidão é retratada e vemos como tudo não passou de uma encenação para o mundo e para o povo.
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Biblioteca Álvaro Guerra 27/04/2023

Maior território escravista da América em 1822, o Brasil assim se manteria até o final do século XIX, com sua rotina pautada pelo chicote e pela violência contra homens e mulheres escravizados. Nenhum outro assunto é tão importante e tão definidor da nossa identidade nacional quanto a escravidão

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Geisi.Ferla 23/04/2023

Último volume
Último livro da excelente trilogia se Laurentino Gomes sobre a escravidão no Brasil. Este volume trata da Abolição da Escravatura e suas consequências na economia, na sociedade e na cultura brasileira.
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Jamille Madureira 18/04/2023

Todos deviam ler
Trilogia necessária para entendermos a base desse racismo estrutural que persiste ainda hoje. Em tempos que a maior população carcerária e pobre desse país é negra, essa leitura é urgente!
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Stella F.. 22/03/2023

Resenha/Resumo
Escravidão (volume III)
Laurentino Gomes - 2022 / 592 páginas - Globo Livros
Cheguei ao final da excelente trilogia “Escravidão” do autor Laurentino Gomes. Foi uma grande viagem ao longo dos séculos, tratando de todos os envolvidos com essa brutal violência contra outros seres humanos.
O volume III tem como subtítulo: Da Independência do Brasil à Lei Áurea.
O autor é um verdadeiro contador de histórias e através de sua escrita didática e acessível, relembramos muitos fatos esquecidos, conhecemos alguns que não prestamos atenção na escola e desfazemos alguns ensinamentos que tínhamos como certos, mas que eram compreendidos erradamente. Um autor e pesquisador atento, sempre mostrando dados estatísticos, mas não só. Sabemos pequenos casos particulares, interessantes, que talvez fiquem mais gravados na memória dos que outros menos anedóticos.
O primeiro capítulo vai abordar os importantes eventos em torno da assinatura da Lei Áurea, depois de toda uma pressão por anos, chegou-se a um acordo, que deveria ser o melhor a ser feito. Vemos todos os preparativos para a cerimônia, as festas realizadas em todo o país, o processo de votação, quem votou a favor, contra ou se absteve e sobre a vaquinha de todo um país, dos mais pobres aos mais abastados para dar à Princesa Isabel a caneta de ouro incrustada de diamantes para assinatura da lei, que ao final do livro, no capítulo sobre Isabel, será mais bem desenvolvido e com mais detalhes. "A julgar pelas palavras de Isabel, a abolição não seria uma conquista dos abolicionistas e dos próprios escravos que, nos anos anteriores, passaram a se rebelar e promover fugas em massa. Era, na verdade, resultado de "admiráveis exemplos de abnegação da parte dos proprietários", em especial os barões do café, nata da aristocracia escravista que até então o Império recompensava com títulos de nobreza e outros privilégios." (pg. 44)"
Estamos agora com D. Pedro I a caminho do Ipiranga, para o dia do Fico. Aqui vamos conhecer muitos barões do café, que recebiam sesmarias, em troca de apoiar a coroa, além de comendas. E tudo girava um torno da escravidão.
Logo em seguida, Os Esquecidos, os próprios escravos, vão ser tratados como lixo, uma carga que deve ser eliminada, esquecida, de tal forma, que não se lembre do fato de que foram necessários. O que fazer com eles? Devem ser educados, para ter dignidade, e ficar no canto deles continuando a servir os brancos. Surgem muitas teorias, mas nenhuma resolução de fato. Começa- se a querer embranquecer o Brasil com a vinda de imigrantes.
Muitos decretos foram assinados com a Inglaterra, se comprometendo a acabar com a escravidão, principalmente em relação ao tráfico de escravos. Navios eram autuados pela Marinha Britânica, estabelecia-se um tribunal misto, mas muitos conseguiam burlar os decretos e havia, em alguns casos, conivência dos próprios britânicos, fazendo parte do esquema. Novos decretos eram lançados, e seguiu-se assim por muito tempo. Os decretos eram feitos, desrespeitados, esquecidos, e fazia-se outro com mais algumas exigências. A burocracia era tanta, que o navio era multado e o dono o perdia, mas devido às falcatruas, muitas vezes retornava ao próprio dono, pintado e com outro nome, ou outra bandeira. E os Estados Unidos vão entrar na brincadeira, porque nunca deixaram a Inglaterra controlá-los. “Em 15 de setembro de 1845, no auge do tráfico ilegal de africanos escravizados para o Brasil, nada menos do que 21 empresas britânicas com escritório no Rio de Janeiro passaram um atestado de idoneidade a um dos maiores traficantes do país, o português Manoel Pinto da Fonseca. (pg. 130)"
Em “Honoráveis Beneméritos” conhecemos grandes traficantes negreiros, que após ganhar bastante dinheiro com a escravidão, tornam-se senhores de bem, grandes beneméritos, tendo bustos em sua honra tanto no Brasil quanto em Portugal. Fundam bancos, ajudam hospitais, fazem parte de Irmandades, e esquece-se que viveram do tráfico de pessoas. Até acontecer, em 2020, um caso de reivindicação da retirada de uma estátua da frente de um hospital em Salvador, que não foi retirada. "As aparências, aqui mais uma vez enganam." (pg. 135)
As fazendas cafeeiras são um convite a um passeio pela região de Paraíba do Sul e Werneck, e deu vontade de conhecê-las, apesar de saber de como foram adquiridas, através da escravidão, de comendas, que não eram hereditárias e através de trocas de favores.
Ao longo do “Império Escravista” conhecemos alguns abolicionistas, como o escritor Joaquim Nabuco, com suas muitas obras sobre o assunto. Além de estrangeiros, que apesar de serem "contra" a escravidão, eles mesmos possuíam um plantel de escravos. "A escravidão era um fenômeno onipresente e universal na realidade brasileira. [..] Tudo dependia do trabalho em regime de cativeiro. o governo imperial brasileiro era, ele próprio, um grande senhor de escravos." (pg. 177)
Nos anúncios de venda, compra e aluguel de escravos, havia uma série de exigências, principalmente características físicas, porque ter escravos, muitas vezes, era garantia de poder, a possibilidade de tomar dinheiro emprestado, eram herança, podiam ser vendidos para pagar dívidas, podiam servir como dote, podiam ser alugados e podiam servir como soldados. Mas, como diz o autor sempre de maneira excelente na abertura de todos os capítulos: "Negros escravizados carregavam tonéis de água e dejetos de esgotos, transportavam pessoas, puxavam carroças, vendiam comida, serviam de médicos e curandeiros nas esquinas e em barbearias precárias nas quais se cortavam o cabelo e a barba dos transeuntes, mas também se receitavam remédios e se aplicavam ventosas e sanguessugas com o objetivo de "purgar" o sangue de impurezas e maus humores causadores de febres, inchaços, dores e outras doenças." (pg. 189)
Então vamos passear pelo Valongo, um local muito importante no Rio de Janeiro, principal porto de chegada dos escravos na cidade. Escondido por muito tempo, ficando em uma rua meio escondida no centro da cidade, foi claramente desvendado em uma reforma de um casarão, onde se encontraram muitos corpos sem identificação. Hoje tornou-se um Instituto dos Pretos Novos, na Rua Pedro Ernesto. O autor, vai criticar ainda a inexistência de um Museu nessa área do Rio de Janeiro, já que instituições semelhantes existem em outros países. Ressalta que os museus não são apenas locais de passeio e entretenimento, mas também de estudo e reflexão. "Esse local assombrado pelas dores da escravidão por muito tempo foi de propósito mantidos no esquecimento. Embora a existência do cemitério de escravos fosse conhecida de historiadores e da literatura sobre a cidade do Rio de Janeiro, durante décadas sua exata localização era ignorada nos mapas de ruas e nos guias turísticos." (pg. 212)
Toda história tem dois lados, e a maioria dos relatos são uma visão do branco sobre a escravidão São muitos relatos, apenas um negro teria escrito sua biografia, mas ainda se discute a autenticidade da obra: Mahommah Gardo Baquaqua.
O baiano Francisco Félix de Souza, que era o maior traficante de escravos para o Brasil na primeira metade do século XIX, era o Amigo do Rei. Sua história se entrelaça com o Daomé, o Rei Guezo, e ele foi tão importante que recebeu do soberano do Daomé o título de Chachá, honraria hereditária, semelhante a um vice-rei. Não tive como não me reportar ao excelente livro “Um Defeito de Cor” de Ana Maria Gonçalves, que acabei de ler, e que fala da relação de Kehinde com o Chachá e seu enterro com muita pompa e sacrifícios humanos e muitas amazonas. Além do Chachá conhecemos a rainha do Daomé, Nã Agontimé, que foi vendida como escrava pelo próprio filho Adondozan, e fundou A Casa das Minas no Maranhão, um espaço diferente, com muitos mistérios, e que até hoje existe, e é tombado pelo IPHAN, mas está caindo aos pedaços. No livro já citado, ela foi um personagem muito importante.
Tomamos conhecimento do tráfico negreiro em Angola, e que após a independência, tratou de esconder um passado que não queriam lembrar, destruindo prédios, instituições, grandes monumentos. “No romance Barroco Tropical de 2009, o autor Agualusa vai falar disso no seu personagem Bartolomeu Falcato. Agualusa vai dizer que Luanda é um espaço ferido, afetado pela imposição de uma nova ordem, na tentativa de reescrever o passado, perpetua mecanismos de exploração e exclusão herdados da época da escravidão”. (pg. 274)
Entramos então nas diferentes revoltas pelo país, principalmente a Revolta dos Malês, Sabinada e outras. Os baianos passaram a ser malvistos. Quando havia intercâmbio de escravos entre as diferentes regiões do país não aceitavam baianos. Criou-se um edital de conduta dos escravos para saírem na rua e muitos foram deportados para a África. Devido a essas revoltas, vários fazendeiros começaram a escrever Manuais de melhor convívio com os escravos, para continuar com eles nas fazendas sem rebeliões, sem brigas e castigos, ou seja, dar um pouco de dignidade a quem merecia.
Tivemos um episódio bem interessante na Baía de Paranaguá (PR) com canhões velhos e um cruzador britânico, que causou um incidente diplomático sério e que eu não tinha conhecimento. Sempre aprendendo coisas novas.
“No Limbo” vai tratar dos alforriados que viviam entre a escravidão e a liberdade, mas viviam no limbo sem saber o que fazer. "Chamados de 'libertos', 'livres' ou 'emancipados', eram, em sua maioria, africanos importados clandestinamente depois da proibição do tráfico. Havia também escravos libertados pelos governos central e provincial em condições especiais, como, por exemplo, por serviços militares prestados em épocas de conflito. Legalmente, não eram mais cativos, mas, ao mesmo tempo, nunca chegariam a conquistar a autonomia plena. Em vez disso, continuaram de fato no cativeiro até o fim de suas vidas." (pg. 332) Havia um vácuo jurídico.
Sabemos sobre o Apogeu e Queda do Império e quais as crises que o fizeram ruir, tudo agravado pelo final da Guerra do Paraguai e das doenças de D. Pedro II. E o fim da escravidão só ia sendo empurrado com a barriga, criando-se mil argumentos para deixar o tempo resolver.
Surge então o Movimento Abolicionista, com importantes figuras como Luís Gama (autor que conheci em 2022), Joaquim Nabuco, André Rebouças e José do Patrocínio, com descrições detalhadas sobre sua biografia, obra e ideias sobre o movimento. As lojas maçônicas tornam-se locais de encontros de abolicionistas.
Com o movimento crescendo, o primeiro estado a libertar os escravos foi o Ceará, seguido do Amazonas. Os fazendeiros não satisfeitos com essas abolições pontuais, enviam petições ao governo contra isso, pedindo uma posição mais clara ao Império.
Ainda houve um trato do Império Brasileiros com os Confederados americanos, após estes perderem a Guerra da Secessão, em troca de asilo. Eles trariam tecnologia para colonização e aperfeiçoamento da lavoura. Nesse capítulo reaprendi sobre essa guerra e seus motivos (tinha uma lembrança errada) e vou tomar conhecimento de um projeto antigo de colonização da Amazônia com os escravos trazidos pelos confederados (ao final surgiu a Libéria onde eles colocaram os escravos.
E o embranquecimento da população volta à baila, com projetos de imigração, principalmente de italianos, para trabalhar nas lavouras do Rio Grande do Sul, através de um incentivo aos imigrantes e seus descendentes. Os anti-abolicionistas pensavam no embranquecimento da população, propondo até um cruzamento entre as várias raças para em 5 gerações a população de cor preta sumir. Mas, alguns imigrantes se revoltaram, porque estavam sendo tratados como escravos brancos, e o governo teve que rever os acordos.
Com as alforrias, os fazendeiros desesperados querem a manutenção do trabalho escravo em troca de alforrias, e os escravos já com a liberdade em mente, fogem em massa, e há a criação da primeira favela em Cubatão, onde foi fundado um quilombo. O Exército foi envolvido no retorno de fugitivos às fazendas, envolvendo até a Princesa Isabel no desvio de função.
Ao final temos uma pequena biografia da Princesa Isabel, seu casamento, sua insegurança em relação a estar nesse lugar, substituindo o pai em várias ocasiões, suas cartas, seu casamento, e o próprio evento da Lei Áurea, e tudo que estava por trás desse ato tão adiado. A Lei Áurea foi assinada e entendemos o que resultou ou não dela. Foi um ato importante, mas sem programação do que seria a vida dos escravos depois da assinatura. Não havia um planejamento por parte do governo imperial e depois pelo governo republicano. Os ex-escravos foram deixados à deriva, sem saber como proceder, como arranjar emprego, como viver. Primeiro foram andando sem rumo, comemorando, e as pessoas, foram dizendo que eles eram baderneiros, que algo deveria ser feito. Aos poucos como não havia jeito, foram retornando às fazendas, e trabalhando novamente nas mesmas por um salário irrisório, e tudo ficou como antes. "Na falta de mudanças estruturais, sobraram nas fazendas alguns curiosos malabarismos semânticos. Os antigos alojamentos e senzalas de escravos passaram a se denominar "dormitórios de empregados ou camaradas". Na ala feminina, [..] "quartos de empregada" e "dormitório de libertas". Os feitores foram chamados de "apontadores" e não usavam mais o chicote, mas armas. (pg. 519)
O autor vai terminar o livro falando da queima de arquivos por parte de Rui Barbosa, que fez o serviço incompleto, possibilitando hoje muitos estudos importantes sobre uma época triste e ainda presente, A Escravidão.
Adorei!












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Rinaldo 31/01/2023

Escravidão Livro 03
Laurindo Gomes encerra a trilogia brilhantemente, com fatos a se pensar, questões do nosso dia dia como trabalho análogo a Escravidão e todo legado que este fato histórico trouxe a nosso povo e seu racismo estrutural.
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Thamires49 25/01/2023

A história do passado que reflete no hoje
Laurentino concluí sua trilogia mais uma vez com um ponto de reflexão, não um ponto final, ler sobre a história sobre a escravidão principalmente sobre a escravidão no Brasil é conhecer e entender o nosso presente.
O modo como a sociedade é montada e estruturada tem reflexo no seu passado, recomendo este livro para todos que querem conhecer sua história, suas raízes e entender o mundo em que vive.
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Eliseu 25/01/2023

Escravidão III
Somos o que somos, enquanto país, porque o racismo sempre foi tratado como um exagero, um problema da "negrada", nunca como uma chaga aberta por onde está estruturada a espinha dorsal da nossa sociedade.

No Brasil houve todo um esforço para prolongar ao máximo escravidão africana, seja por meio de leis de distribuição de terras ou do estabelecimento da "vadiagem", uma invenção descarada na tentativa de perpetuar a indústria escravocrata. De certa forma, muitas dessas mazelas e barbáries sobreviveram como um câncer nas entranhas do nosso país.

O Brasil não deu certo como nação, pois sempre fomentou a segregação como ponto de partida de sua identidade.

O volume III de Escravidão narra a execução moral da dignidade humana no Brasil pós independência. Aos poucos, os tijolos foram sendo colocados para erguer nossa sociedade, uma sociedade que abriu mão de todos os valores necessários para a formação de seu caráter: a justiça, o amor ao próximo, a dignidade, etc. Tudo isso foi trocado por sangue negro.
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Lucas 19/01/2023

Os reflexos do "ontem" que ainda chegam no "hoje": o fim de um projeto que queria (e conseguiu) dissecar quatro séculos de escravidão, mas que explica muito do Brasil de hoje
É com uma chave dourada que o escritor paranaense Laurentino Gomes encerra um trabalho audacioso, de mais de dez anos de pesquisa: relatar numa trilogia de livros os quase quatro séculos da escravidão no Brasil, a maior tragédia humana já vista por aqui. Escravidão: da Independência do Brasil à Lei Áurea cumpre um primoroso papel de fechamento nesse trabalho, que se tornará um símbolo perene de um assunto tão delicado e por vezes esquecido pela sociedade brasileira.

Cronologicamente, este terceiro volume é o que cobre menos tempo: são "apenas" 66 anos entre a proclamação da Independência em 1822 até a simbólica assinatura da Lei Áurea em 1888. Mas, como pode ser imaginado dada a comparação com os outros livros da trilogia (o primeiro, por exemplo, narrava vendas de cativos da África ocorridas antes mesmo do descobrimento do Brasil), neste período mais atual o material de pesquisa é muito mais vasto e isso acaba refletindo no texto, a qual agora traz a impressão de maior detalhismo (isso ajuda a explicar o fato desse terceiro volume ser o que possui mais páginas).

O estilo permanece: com exceção do início e do fim, não é seguida uma linha cronológica rígida. Os capítulos podem ser lidos como ensaios, as quais relacionam-se entre si com alguns acontecimentos ou personagens. Mas avaliando-se os três livros em conjunto, sutis diferenças são aqui percebidas: enquanto o primeiro enfoca mais a crueldade chocante (e real) com grande apego a dados numéricos e o segundo é contextual, descrevendo toda a atmosfera socioeconômica do chamado ciclo do ouro, este derradeiro livro da série lança luz a personagens efetivos, as quais se relacionaram com a escravidão em boa parte do século XIX. Desse modo, muitos dos citados ensaios que compõem os capítulos funcionam como biografias destes personagens, o que, para um amante desse estilo como este que escreve, faz a leitura ser um deleite ainda maior.

Nesse compêndio de personagens, Laurentino os divide claramente em dois grupos: os chamados contrários à abolição da escravatura, notadamente fazendeiros (especialmente do interior de São Paulo na região do Vale do Paraíba, berço dos chamados barões do café) e políticos ligados a este setor; e a casta dos abolicionistas, formados majoritariamente por autônomos (jornalistas, em especial), uma classe média nascente e, com o tempo, alguns políticos não ligados às oligarquias rurais. No meio desse "tiroteio", haviam os próprios escravos, alheios a boa parte das discussões e a Coroa, em especial a figura de Dom Pedro II (1825-1891) e sua filha, a princesa Isabel (1846-1921).

O último monarca brasileiro (e se forem considerados todos os mandatários do Brasil independente foi o que mais tempo ficou com essa responsabilidade, por 47 anos) é descrito por Laurentino Gomes como alguém com várias dissonâncias: se por um lado Dom Pedro II foi um grande literato, amante das ciências, patriota (no sentido puro e não intoxicado desse adjetivo) e estadista, por outro ele sucumbia aos interesses de poderosos, especialmente de uma então nascente elite agrária, a qual ainda hoje possui muita voz e vez no Brasil. Sua veia abolicionista, por isso, era marcado por idas e vindas, lindos discursos e recuos nos bastidores.

Na verdade, o autor não é tendencioso com a monarquia e o tratamento destinado a Dom Pedro II em passagens isoladas por todo o livro é o mesmo dado à sua filha, a princesa Isabel. Talvez a principal protagonista da abolição nos livros de história mais comuns, a filha mais velha do imperador foi quem, na ausência de Dom Pedro II que estava em Paris num tratamento médico necessário para os seus recorrentes problemas de saúde, assinou a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil na tardia data de 13 de maio de 1888. Recentemente, inclusive, houve certo burburinho e endeusamento da princesa Isabel como uma das únicas responsáveis pela liberdade dos cativos, o que passa muito longe da verdade, conforme Laurentino Gomes comprova. Mas Isabel possui um destaque merecido na obra: o penúltimo capítulo, um dos melhores, é dedicado a ela.

Efetivamente, o processo de abolição envolveu um grande movimento político, com vertentes diplomáticas. Quase que de uma hora para outra a Inglaterra, um dos países pioneiros no tráfico de gente, passou a condenar essa atividade, impondo sérias sanções às nações que ainda praticavam tal "comércio". A pressão inglesa foi o gatilho para que um movimento abolicionista nascesse dentro do Brasil, especialmente a partir de 1830. A abolição foi o final de um processo iniciado muito antes, como a lei Eusébio de Queirós (1850), que extinguia (ao menos no papel) o tráfico de africanos, a lei do ventre livre (1871), garantindo a liberdade de todos os descendentes de cativos a partir da sua promulgação e a lei dos sexagenários (1885), a qual libertou todos os escravos com mais de sessenta anos. Todo este arcabouço legal não era seguido à risca, mas promoveram muitos avanços na abolição total, juntamente com a persistência de grandes abolicionistas (em especial Luiz Gama (1830-1882), negro alfabetizado nascido na Bahia e que recebeu um capítulo só seu neste volume).

O movimento abolicionista, entretanto, possuía inimigos poderosos na sociedade brasileira da época, em especial os grandes latifundiários. Para a manutenção da escravidão, havia todo um apanhado de argumentos: estabilidade econômica, já que o branco não era um "animal de carga" como o escravo e estava inapto a grandes esforços, falta de inteligência e bons costumes dos africanos, a garantia da etnia branca no Brasil, "ameaçada" com a presença dos escravos e presumivelmente golpeada após a liberdade destes, entre muitos outros pontos asquerosos. Valia até mesmo recorrer à ciência, que dizia que negros eram defeituosos e ao "bom" e secular direito de propriedade: se um fazendeiro comprava um "lote" de escravos, ele teria prejuízos econômicos enormes caso a liberdade fosse concedida de uma hora para outra. Libertar os escravos, portanto, era aderir ao recém-nascido comunismo, o que geraria uma desvirtuação de valores sem precedentes na história do Brasil... Mesmo que tudo isso tenha ocorrido há cerca de um século e meio (onde tudo era diferente, de fato), é impossível não se enojar com nossos antepassados.

Por mais que o autor enobreça a data de 13 de maio de 1888, a qual foi um dia de festa nos grandes centros brasileiros, Laurentino explica e disseca que a Lei Áurea foi resultado de um processo longo, que despertou ódios, revelou a influência do poder econômico na política nacional (a queda da monarquia dezoito meses depois está totalmente ligada à abolição dos escravos) e que não promoveu nenhum tipo de integração dos libertos à sociedade. O preço e a influência de tamanhos equívocos estão em nosso meio até hoje... Pessoas são enxotadas de lugares públicos, esbarram em barreiras intransponíveis para acesso a oportunidades, são direcionadas à margem geográfica e literal das grandes cidades, são perseguidas e discriminadas, tudo isso simplesmente em função da cor da pele.

Num país que trata de forma no mínimo confusa a sua memória, Laurentino Gomes tenta pagar uma dívida brasileira: tornar eterna a lembrança de que fomos um país escravista até três ou quatro gerações atrás. E isso não é um acinte à nossa história como nação; é um eterno lembrete, dos erros do passado que reverberam hoje e ainda influenciarão o amanhã. Somos diretamente responsáveis pelo Brasil que as próximas gerações receberão e se não formos capazes de aprendermos com os erros de nossos antepassados, nossos filhos também não desenvolverão essa habilidade. A leitura da trilogia do autor sobre a escravidão abre os nossos olhos para inúmeras questões relacionadas a este dilema e explica muitas das mazelas sociais brasileiras da atualidade, fazendo com que a validade dos seus escritos sobreviva ao tempo.
Thiago275 19/01/2023minha estante
Excelente resenha!


Luis 25/02/2023minha estante
Extraordinária a sua resenha. Digna dessa trilogia fundamental. Parabéns.




Julia.Miquelini 16/01/2023

Escravidão
Que trilogia rica e valiosíssima. Como o próprio autor diz a obra mais importante da carreira dele. Cheia de informações que demoraram 10 anos em pesquisas pra se transformar nesses 3 livros. Termino a leitura com muito mais conhecimento histórico, e com muito mais consciência do que se trata a dívida histórica que temos com a população preta, que perdeu a vida, a identidade e muito mais que não podemos imaginar, já que a história deles praticamente não foi contada. Se tem uma coisa que eu posso falar é: leiam essa trilogia!
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Heros Pena 09/01/2023

Fechou a com chave de ouro, o volume final da trilogia mantém o mesmo nível dos dois primeiros livros, trazendo uma leitura dolorosa porém necessária e reveladora.
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Peter.Molina 30/12/2022

Monumental
O terceiro livro da trilogia sobre a escravidão não poderia ser melhor. Abordando principalmente fatos próximos e posteriores à abolição pela Lei Áurea, ainda nos fala sobre a vida dos abolicionistas, a elite escravagista e o panorama atual da população preta. E muitas outras questões abordadas numa leitura envolvente e acima de tudo necessária para se compreender o que a escravidão gerou e ainda gera de efeitos nocivos na nossa sociedade. Excelente!
Brenda 04/01/2023minha estante
Realmente indica?? Amei o primeiro, e simplesmente não consegui terminar de ler o segundo, achei informações demais que fugiram do assunto principal, oq tornou minha leitura muito arrastada! Tenho receio de comprar o terceiro e não gostar do desenvolvimento do assunto, apesar de me interessar sobre!


Peter.Molina 04/01/2023minha estante
Recomendo sim. Este último volume é excelente e análise questões mais atuais.




Perla.Campos 18/12/2022

Como a verdade da história do nosso país chancela nosso hoje. Como é triste saber que tanta coisa foi mascarada e continua sendo, por puro preconceito.
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