Aegla.Benevides 15/12/2022Entre ver tudo o que você ama desaparecer e ser perseguido por nunca esquecer de nada, o que você prefere? Essa é a principal reflexão que nos traz Yoko Ogawa em seu romance ?A polícia da memória?, história em que as memórias são as protagonistas.
Com personagens sem nome (afinal, eles serão logo esquecidos mesmo), uma ilha inteira vive sob um véu de esquecimento: um dia acordam e percebem que sumiram as rosas, os pássaros, os perfumes, os calendários. Numa postura passiva, mas sobre a qual nada pode ser feito, a população da ilha se vê desaparecendo aos poucos, com exceção das pessoas que lembram ? e essas são perseguidas pela polícia da memória, pois lembrar do que sumiu é o pior crime existente.
A personagem principal, uma escritora de romances, luta para manter vivas as pessoas mais importantes de sua vida (após a morte dos pais), um amigo próximo e o velho balseiro que conhece desde criança. Em uma vã tentativa de não sumir e nem deixar com que eles sumam, ela vê e narra - algumas vezes de forma angustiante - a ilha cair no esquecimento, e é essa caminhada que o leitor traça junto dela ao longo das páginas.
Particularmente, gostei de tudo o que a autora fez nesse livro, desde mesclar partes do romance da protagonista com a narrativa principal até descrever alguns sumiços de forma tão fiel. O final, apesar de aberto e reflexivo, não poderia combinar mais com o que foi construído por Ogawa nessa grande obra. Porém, reforço: não é um livro que todo mundo consiga - e queira - apreciar da mesma forma.