Alba 05/03/2011
Resenha feita por mim, no Psychobooks!
Mark Haddon estreou de forma fenomenal com esse livro. Ele já tinha experiência com o tema por ter trabalhado com crianças autistas e foi além, ao se transportar para a mente de um autista e ousar colocar em palavras o que se passa na mente tão peculiar desses indíviduos.
Mark se transforma (sim, é exatamente essa impressão que se tem quando lemos o livro) em Christopher, um Asperger (uma forma mais leve de autismo) de 15 anos que vive com seu pai após a morte de sua mãe. Sua rotina consiste em ir à escola e basear todas suas ações em possíveis desdobramentos bons ou ruins decorrentes de fatos aleatórios como: quantos números de carros de tal cor ele vir no caminho da escola, ou se as cores estavam dispostas de forma errada.
Seu passatempo e válvula de escape são as contas complicadas. Quando se vê em situações difíceis, Christopher para tudo e se põe a fazer cálculos e mais cálculos para se livrar da sensação ruim que algumas circunstâncias o fazem sentir.
Quando Wellington, o cachorro da vizinha é assassinado, Christopher – um apaixonado por animais, em especial por esse cachorro – se vê na obrigação de desmascarar o assassino. As confusões e descobertas que são feitas a partir daí são repletas de suspense e surpresas.
É um livro lógico, porque a mente de Christopher é lógica, mas ao mesmo tempo apaixonante e envolvente. A forma como Mark Haddon expressou os sentimentos do garoto foi de grande ajuda para entender alguma coisa do que se passa na cabeça do Lucas (meu filho). A aversão por algumas cores ou alimentos, a falta de entendimento quando é usada a linguagem figurada… Por exemplo na expressão: “Você é fogo”, um autista entende isso da forma literal, e fica confuso sobre a mensagem que o interlocutor quer passar. São cuidados que têm que ser levados em conta ao tratar de uma criança ou adulto com esse diagnóstico.
Esse é um daqueles livros em que a atenção e o cuidado com cada colocação de palavras têm que ser bem analisados. Se você se perder em algum momento na leitura ou divagar, pode perder o porquê de uma ação futura de Christopher.
Vou deixar um trecho do livro em inglês porque não tenho o livro em português. A tradução que se segue foi feita por mim, então pode não estar fiel à tradução feita pela Editora Record.
“And Father said, ‘Christopher, do you understand that I love you?’
And I said ‘Yes,’ because loving someone is helping them when they get into trouble, and looking after them, and telling them the truth, and Father looks after me when I get into trouble, like coming to the police station, and he looks after me by cooking meals for me, and he always tells me the truth, which means that he loves me.”
Página 87
TRADUÇÃO LIVRE: “E o Pai disse: ‘Christopher, você entende que eu te amo?’
E eu disse ‘Sim’, porque amar alguém é ajudá-lo quando ele se mete em confusão, e cuidar dele, e dizer a ele a verdade e o Pai me ajuda quando eu me meto em confusão, como vir para a delegacia de polícia, e ele cuida de mim fazendo minhas refeições, e ele sempre me diz a verdade, o que significa que ele me ama”.
Autistas são metódicos e ligados à rotina, não entendem linguagem figurada. Esse trecho que deixei pra vocês é a chave de todo o sentimento que Christopher carrega e toma como verdade. É a peça chave da trama do livro.
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http://www.psychobooks.com.br/2011/01/o-estranho-caso-do-cachorro-morto-mark.html
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