Wanderlei 25/02/2010
O Estranho Caso do Cachorro Morto" de Mark Haddon é uma espécie de literatura rara: Aquela que é inteligente, substancial e absolutamente prazerosa.O autor soube muito bem pesquisar o ambiente no qual a pessoa com a síndrome está imersa e proporcionar o desmontar de uma cabeça autista a nossos olhos,vista de dentro,onde jamais poderiamos descrever de forma tão lúcida se não fizesse do jovem autista Christopher de 15 anos que não gosta de ser tocado por alguém, assim como, odeia amarelo e marrom, é incapaz de interpretar a mais simples expressão facial de qualquer pessoa.Não consegue mentir nem entende metáforas ou piadas.O narrador mostra o mundo pela sua perspectiva.Dá pra sentir o quanto é difícil viver numa família com uma doença desse tipo, tanto para os pais quanto para o próprio menino.Em muitos momentos dá pena do menino pela incompreensão do mundo.Mas também nos faz rir sobre certos comportamentos humanos, que hoje consideramos totalmente normais.O livro além de engraçado e às vezes comovente.Vale a pena ler , pois é bom ver o mundo com outros olhos, outra lógica!!!
“- Christopher, você entende que eu amo você?
- Sim, eu entendo.
Porque amar é ajudá-lo quando ele está com problemas, tomar conta dele, falar sempre a verdade, e o Pai toma conta de mim quando eu estou com problemas, como quando ele foi atrás de mim no distrito policial, cozinha pra mim e sempre me diz a verdade, e isso quer dizer que ele me ama.“
“No dia seguinte, vi quatro carros amarelos quando ia a caminho da escola, o que fez com que o dia fosse um Dia Ruim, por isso não comi nada ao almoço e fiquei todo o dia sentado no canto da sala, lendo o meu manual para o exame de admissão de matemática (...), não falei com ninguém e, durante toda a tarde, fiquei sentado no canto da Biblioteca a gemer (...), isso fez-me sentir calmo e seguro."
"Voltei a enrolar-me em cima da grama e, mais uma vez, comprimi a testa contra o chão e fiz aquele barulho a que o Pai chama gemer. Eu faço este barulho quando está entrando na minha cabeça muita informação vinda do mundo exterior. É como quando se está ouvindo um rádio de encontro ao ouvido, sintonizando-o entre duas estações, e tudo o que se consegue ouvir é estática; depois aumenta-se o volume, até que esse barulho é tudo o que se conseguir ouvir, e sabe-se que se está seguro porque não se consegue ouvir mais nada. O policial pegou-me no braço e obrigou-me a ficar de pé. Eu não gostei que ele me tocasse. E foi então que lhe bati"
Estes são alguns dos seus problemas comportamentais:
- Não falar com ninguém durante muito tempo;
- Não comer nem beber nada durante muito tempo;
- Não gostar que lhe toquem;
- Gritar quando está zangado ou confuso;
- Não gostar de estar em espaço muito pequenos com outras pessoas;
- Gemer;
- Não gostar de coisas amarelas nem marrons e recusar-se a tocar em coisas com estas cores;
- Não reparar se as pessoas estão zangadas com ele;
- Não sorrir;
- Dizer coisas que as outras pessoas consideram indelicadas.