maria 05/11/2020
A reinvenção dos vampiros a partir de Anne Rice
Se os vampiros existissem em nosso mundo, eles seriam exatamente iguais aos das crônicas vampirescas de Anne Rice. Uma breve introdução:
É assim que inicio a minha resenha desse livro que mudou totalmente a minha concepção sobre vampiros. Confesso que mesmo tendo visto o filme e gostado muito fui ler o livro com muito medo de encontrar uma grande decepção pelo simples preconceito que eu e muitas outras pessoas que se autodenominam cultas tem com histórias de vampiros, pois cá entre nós, existem pouquíssimas relevantes ou apenas fáceis de digerir, já que os púberes vampiros contemporâneos que brilham na luz do sol mataram o vampiro original de Drácula. No entanto, o vampiro de Anne Rice é muito mais do que um inofensivo adolescente que está condenado a passar a eternidade no ensino médio e paquerando. Aqui ele é realmente um perigo, e sua natureza violenta e sádica é explorada minunciosamente durante as passagens do livro.
Escrita
Muitos reclamam da escrita ser lenta e demorada, dizem que detalham demais, e que chega a ser monótono porque não tem muitos altos e baixos, mas eu lanço a seguinte pergunta, quando você está lendo uma biografia você espera o quê? o livro é exatamente uma entrevista biográfica sobre um vampiro contando sobre sua vida e o passar de suas décadas, séculos de vida, não tem como escrever atropelando os acontecimentos ou simplesmente não nos dar detalhes. Por outro lado, as descrições do vampiro sobre sua vida a tornam muito mais realista e crível, e garanto que nenhuma página será tediosa. O único defeito dessa forma de escrita é que ela se tornou confusa em alguns pontos, mas não chegou a ser um erro grave, tanto que não consegui descontar estrelas.
Personagens
Se você busca personas complexas, personagens nem maus nem bons, pouco previsíveis, está no livro certo. Os personagens em questão são tão profundos que você quase acredita que são reais. Fora a diversidade entre eles, nenhum esteriótipo se apresenta ou nenhuma característica se repete entre eles, são absurdamente distintos! Se o Louis é ponderado e pensativo, Lestat é impulsivo e inculto, e Cláudia, consegue ser os dois ao mesmo tempo. Fora que temos realidades completamente diferentes, como a de Cláudia que é eternamente criança, apesar da mente estar evoluindo. Logo vamos ter a perspectiva dessa vivência exótica e suas consequências.
Romance?
Muitas pessoas descrevem a obra como um romance homoerótico, eu sinceramente não consigo tomar posição sobre esse assunto. Mesmo sendo simpatizante e claro, integrante da comunidade LGBTQ, não consigo afirmar com certeza se os personagens principais tem uma relação além da amizade ou não, pois nada é afirmado no livro. Logo, pensei em 2 hipóteses, a escritora realmente quis fazê-los como um casal mas não o fez por medo de repreenderem a obra, tendo em vista que ela foi escrita nos anos 80, ou simplesmente ela quis demonstrar a admiração e a contemplação que os vampiros tem por seus iguais. Afinal, um homem admirar e amar (dentro dos limites da amizade) o outro não o torna necessariamente gay/bi. Devemos estar atentos a generalização e ao preconceito. Acho que se fosse pra escolher entre as duas hipóteses, se fosse levar apenas a minha vontade, eu iria amar que ela confirmasse o casal, pois eu acho que precisamos mais de representatividades nesse meio literário. No entanto, por uma análise racional e fria, eu acho que a Rice estava usando esses momentos como uma metáfora para a forma com que esses seres não-humanos se relacionam e se entendem entre si.
Conclusão Final: Análise do conteúdo filosófico do livro e o porquê lhe dei 5 estrelas.
Louis, um vampiro que se torna frustrado e melancólico por não conseguir a resposta do mistério acerca dos vampiros: sua criação e seu propósito. O fato que eu mais gosto do Louis
é a semelhança que encontrei entre ele e eu, esse espírito infeliz e insaciável pelo conhecimento. Atemporal, sempre a frente do seu tempo. Um homem dos tempos antigos sempre pensando a frente. E que por fim, não encontrou a resposta em Deus, Diabo e em lugar nenhum. Pois os vampiros, não tem algum privilégio acerca dos humanos sobre o conhecimento do seu propósito na Terra, Anne não deu brecha a alguma interpretação romantizada dos vampiros, muito menos polarizada, eles não são maus nem bons, pois assim como Cláudia, foram desenhados naturalmente para ser assassino, e, já que foram feito assim, não tem muitas opções. Ademais, o detalhe que mais adorei sobre os vampiros é a sua destruição. Na teoria, eles seriam eternos, mas poucos deles aguentam mais que dois séculos pois a mente começa a degenerar, assim como os polvos que pagam o preço por uma mente super desenvolvida e morrem dementes com uma mente degenerada, digamos que todo fim de um vampiro é triste, beiram a depressão e loucura, não fugindo do seu destino, que é o de morrer sozinho. E não é assim que os humanos foram feitos para ser? Todo mundo morre sozinho, e essa é a realidade. Isso não é bom ou ruim, é a vida.