Rub.88 19/01/2021Sem SombraNo livro Dexter no Escuro, o terceiro da coleção escrita por Jeff Lindsay, temos o serial killer justiceiro mantendo os hábitos noturnos de prender numa mesa com fita adesiva e estripar os malvados que a lei desconhece. Mesmo preste a se casar e ganhar dois filhos meio problemáticos, Dexter ainda não está ciente que o seu modo de vida pode ficar difícil de prosseguir do jeito que era. Ainda se disfarçando de boa praça, enfrenta os preparativos para a cerimônia matrimonial estoicamente. Trabalha na perícia da polícia de Miami, o que o deixa de antena ligada para crime mais peculiares. Chamando para o campus da faculdade, onde no passado estudou, Dexter vai analisa a cena do crime. Duas mulheres mortas, carbonizadas e decapitadas. Foram colocadas numa pose cerimonial e no lugar das respectivas cabeças havia, em cada uma, cópias de cerâmica da cabeça de um touro. Assim que viu aquilo o Passageiro das Trevas, que é o instinto assassino de Dexter se assusta e fica amuado. Dexter estranha isso pois é exatamente esse tipo de coisa que o deixa animado. As investigações continuam e a irmã de Dexter, Sargento Deborah que é de uma incompetência monstro, lidera o caso. Praticamente ela segue o que o irmão adotivo palpita e indica. À medida que as pistas e suspeitos vão aparecendo Dexter sente a falta do Passageiro das Trevas. A voz que sempre lhe sussurrou opiniões no mínimo controversas e que foi disciplinada pelo código de Harry está quieta demais. Como se tivesse sumido. Esse pensamento desconcerta Dexter que vivia razoavelmente bem com a sua sombra. Sem ela, ele era o ser humano mais vazio que existe. E esse vácuo começou a ser ocupado por sentimentos que ele nunca experimentou. Incertezas sobre o que ele era passou a deixa-lo nervoso e ansioso. Paranoia. Começou a sonhar. A ter ataques de sonambulismo. E a sentir medo. Estava perdido sem o seu lado negro. E alguém sabia que ele foi abandonado, que estava indefeso. O cerco vai se fechando ao redor de Dexter. Perseguições de carro. Tentativas de invasão a casa que mora com a futura mulher e filhos. As mortes ao redor o conectado a crença antiga a um deus cananeu. Cerimonias profanas e sacríficos humanos. Misticismo bíblico e compartilhamento duma essência ancestral que é raiz de todo o mal na terra.
Esse livro se descola da mitologia que eu conhecia das estórias de Dexter. Na série e nos dois primeiros livros era como tratar da psicopatia de modo prático e racional. O personagem central não vai melhor e nem virar herói. Ele é tão criminoso com os bandidos que mata. O pai de Dexter decidiu em vez de encarcera-lo ou interna-lo, o instrui a identificar e sumir com os da sua espécie. Esse é era o tema. Dexter é culpado. Mesmo que possa ser diagnosticado como uma mente doente, ele é lucido o suficiente para ser responsabilizado. Em Dexter no Escuro passa-se a cogitar que um força externa que o impulsione a fazer o que faz. E isso em parte o exime dos atos cometidos. Não gostei. Essa mudança pode e vai guiar o resto dos romances. Uma divindade do velho testamento influenciando os facínoras de hoje...