Luiz Pereira Júnior 25/04/2021
No final das contas, todos somos supérfluos
Percebi que é bem melhor começar a resenha (crítica, se você preferir) escrevendo um pequeno resumo do livro lido. Não que eu vá fazer um “control c, control v” dos resumos de outros ou das próprias editoras. O que eu escrever como resumo servirá apenas para situar quem estiver me lendo, e nada mais do que isso.
“Diário de um homem supérfluo” é uma história curta (uma novela, no sentido literário), que pode ser lida em uma tarde para quem já tem o doce hábito da leitura. Um homem outrora bastante rico se encontra à beira da morte e resolve fazer um diário de seus últimos dias. No entanto, acaba por voltar ao passado e relembrar (ao que parece) seu único amor. E unilateral talvez seja a melhor definição desse amor.
Em poucas páginas, o autor nos mostra a definição de um homem supérfluo, um homem que não fará falta a ninguém quando sair desse mundo. Nas palavras duras e cruas do autor, um homem inútil.
O pior para o leitor é justamente essa a revelação que o autor faz de um modo que parece não intencional (afinal, quem sou eu para saber o que havia na mente de um mestre russo – ou de qualquer outro escritor?): todos somos homens e mulheres inúteis.
Sempre temos a imagem de que, quando de nosso desaparecimento, o mundo parará por uma fração de segundo e as pessoas com quem convivemos se tornarão petrificadas pela dor de nossa partida ao menos por algumas semanas, ou meses, ou anos. Ledo engano...
Sim, é uma dor monstruosa, que nenhum idioma consegue exprimir e não há palavras suficientes em qualquer dicionário que existiu ou que possa existir, quando da perda de nossos pais, de nossos avós, de nossos irmãos, de nossos filhos, de nossos netos e, para alguns sortudos, daquele amigo que foi um irmão de pais diferentes dos nossos...
Mas, talvez a mais difícil verdade a ser aceita seja justamente aquela frase que acabou se tornando um chavão (e todo chavão sempre tem algo ou muito de verdade) que alguém sempre diz quando perdemos alguém: “vida que segue”, “precisas procurar um jeito de seguir a vida”.
E, sim, todos somos homens e mulheres supérfluos, pois o mundo não se acabará por nosso desaparecimento, mas também somos eternos. O mundo prossegue sem nossos pais, sem nossos filhos, sem nossos avós e irmãos, mas eles se tornam eternos em nossas lembranças. E esse é também um sentido de imortalidade, daquilo que permanece, daquilo que não é supérfluo...