Karol Nantes 27/04/2019
A Marca do Leão – Uma voz ao vento
Este é o primeiro livro da trilogia de Francine Rivers. Uma ficção cristã.
Num período de conquistas, depois de Cristo, Jerusalém que já passava por atritos e rebeliões internas, foi tomada por Roma. Hadassah e sua família passavam a páscoa todos os anos na cidade.
Após presenciar a vida se esvair de sua família, Jerusalém consumida pelo caos, seus cidadãos crucificados, gente faminta e ferida, Hadassah é levada como escrava pelos legionários. Com sua frágil fé ela questiona Deus por tê-la mantido viva, sobrevivendo a todo o trajeto. No entanto, ela percebe nas circunstâncias que Ele tem um propósito, mesmo que ainda não entenda, pois até mesmo aos olhos dos romanos que a capturaram não havia utilidade numa moça judia tão pequena, sem aparente beleza, magra e que poderia morrer a qualquer momento.
Entoando um grito a Tiwaz, deus da guerra, como acreditavam os guerreiros germanos, Atretes, líder da tribo, é capturado servindo de gladiador nas lutas que terminavam em morte nas arenas. Entretenimento aos romanos.
Na casa dos Valeriano, Hadassah serve com amor e dedicação a Júlia, filha de seu dono, garota “voluntariosa, egoísta e insensata”(p. 152), enquanto mantem sua fé em segredo, incomodada por não possuir coragem suficiente para anunciar aos seus donos, que buscam de todas as maneiras possíveis a felicidade e a paz, a mensagem de salvação.
“Deus, por que não posso gritar a verdade aos quatro ventos? Por que não tenho coragem de falar como meu pai falava? Eu amo essas pessoas, mas não tenho palavras para alcançá-las. Tenho medo de dizer que elas estão erradas e que eu estou certa. Quem sou eu além de uma escrava? Como posso explicar que sou a única livre, e que são eles os cativos? ” (p. 237)
Assim como a luz não passa despercebida pela escuridão, Hadassah passa por várias complicações por ser cristã. Embora não expusesse essa verdade por medo do destino dos que professavam essa fé, é perceptível sua maneira distinta diante dessa sociedade inclinada a idolatria, prazeres e paixões. E essa beleza, reflexo do que ela leva dentro de si, atrai a atenção do filho do seu senhor, Marcus, por quem também é apaixonada, mas que se nega a aceitar a ideia de um Deus que destrói o próprio povo. Como um relacionamento entre uma escrava cristã e seu amo cético pode acontecer? Se é que acontecerá.
Atretes, contabiliza suas vitórias da maneira mais amarga. Ele se foca na vingança sobre aquela gente que o dominara e que o força a matar para satisfazer seus prazeres. Em sua prisão ele procura esperança nas lembranças de seu povo e de seu país, mas se vê sucumbir em tristeza, solidão, e no que o estão tornando.
“Era a raiva que fazia Atretes seguir em frente. Ele a usava para se motivar nas longas corridas, para afastar a depressão que o tomava à noite enquanto ouvia as botas dos guardas fazendo ronda, para alimentar o desejo de aprender todas as formas possíveis de matar um homem, esperando um dia ganhar a liberdade para não ser obrigado a obedecer a ordens de ninguém novamente.” (p. 156)
Há uma voz ao vento que soa chamando-os para a liberdade. Quem ouvirá? O que podemos esperar das escolhas que Atretes, Marcus e Hadassah tomarão?
Ansiosíssima para o próximo livro, que conforme a Verus Editora, será lançado ainda neste semestre.