Nicolas Rodeghiero 27/05/2024
Quantas perdas cabem na vida de uma mulher?
Melancólico, profundo, pesado, mas bonito. Esse livro deixa um vazio tão grande no leitor, seja durante ou após a leitura, que eu tenho certeza de que não vou esquecer essa história tão cedo. Foi a minha primeira experiência com essa escrita poética, e acredito que eu não poderia ter escolhido uma obra melhor para começar.
Nessa jornada curta, mas ao mesmo tempo tão longa, nós acompanhamos de perto a vida dessa protagonista misteriosa. Ficamos próximos e conectados à mesma sem sequer saber seu nome. Em contrapartida, ficamos por dentro em primeira mão dos seus traumas e segredos mais íntimos, desde a inocência da sua infância, até a maturidade da sua vida adulta.
Conforme uma onda de caos envolvendo diversos gatilhos emocionais começam a assolar seus sonhos, percebemos o quanto apenas um acontecimento pode ser o suficiente para mudar todo o conjunto de planos de um ciclo. Inclusive, deixo meu alerta principalmente ao público feminino: alguns trechos são realmente difíceis de digerir. Leiam com a saúde mental em dia.
Durante muito tempo, pelo que me foi passado, minha ideia de "O Peso do Pássaro Morto" era de que seria um livro recheado somente de sofrimento gratuito. Mas não, é uma obra com diversas reflexões sábias, sejam algumas delas sobre: a vida e a morte; a inocência de uma criança perante assuntos complexos e delicados; o bullying; a dificuldade em amar ou expressar esse amor repreendido; ou o fato de nunca ser tarde para encontrar a paz e a felicidade, mesmo que momentâneas.
Isso não foi o suficiente para evitar que eu derramasse uma lágrima ou outra durante a leitura, admito. Mas sinceramente, acho que todo mundo que ainda tem um pouco de humanidade no peito, vai compartilhar desse mesmo sentimento. Se ainda temos a capacidade de sentir empatia pelo próximo, essa história vai nos afetar, é inevitável. E sendo objetivo, eu vejo muita beleza nesse tipo de obra. São elas que nos tiram da zona de conforto que vivemos hoje em dia e nos mostram que estamos vivos, que somos capazes de sentir as mais profundas emoções, sejam elas boas ou ruins.
Dito tudo isso, eu já estava com vontade de me aventurar em mais livros nacionais esse ano. E após eu ter mandado uma mensagem há alguns meses para a Aline Bei no Instagram sem pretensão alguma de ser respondido e ela me atender com toda a humildade e atenção do mundo, eu já havia me tornado fã dessa mulher antes mesmo de ler algo escrito por ela. Enfim, ao finalizar, posso afirmar que o carinho e respeito que desenvolvi pela mesma só aumentou, e mal posso esperar para ler "Pequena Coreografia do Adeus" também, que já está me aguardando na minha estante.
Por mais que a época em que escolhi para dar início à essa leitura não tenha sido a ideal, já que mal tive tempo e vontade de ler devido a certos acontecimentos tanto na minha vida pessoal quanto em relação às tragédias que estão ocorrendo no estado em que eu moro, não me arrependo. É uma obra com escrita rápida e fluida, e acredito que demorar para terminá-la só fez com que eu me aprofundasse ainda mais nela, já que tive mais tempo para refletir e absorver tudo que li. Recomendo. Partiu meu coração, mas me tornou um pouco mais humano.