aline araújo 28/08/2022
"A menina que roubava livros"
RESENHA (sem spoilers)
As batalhas nasceram em meio à humanidade, e dela nunca se despediram. Há muito tempo, eram mais focalizadas. No entanto, com o passar dos anos, algumas começaram a crescer, até que o mundo inteiro decidiu se automutilar durante a Primeira Guerra Mundial.
Guerras com certeza deixam sequelas e, assim como a vida pode dar origem à vida, o caos pode gerar mais caos, e morte, mais morte. Então, poucos anos após a Primeira, surgiu a Segunda Guerra Mundial.
Em épocas como essa, nas quais o ser humano parece simpatizar com a ideia de extinguir a própria espécie, não há ninguém melhor para narrar a história do que a própria morte. Essa ideia é genial e seu inventor trabalhou em cima dela com maestria na obra "A menina que roubava livros".
Nela, a Morte conta a história de Liesel, uma menina que viveu na Alemanha Nazista, por meio de uma narrativa fluida, mas não tão leve, justamente por conta da época em que a história se passa.
A Morte constantemente descreve o céu por usá-lo para se distrair de seu trabalho, que é levar as almas dos mortos embora. Achei isso intrigante, especialmente porque, durante as guerras, muitas vezes ocorrem incêndios ou bombardeios, então o céu também adquire características que mostram a destruição. Outra coisa é que o tempo meteorológico foi extremamente importante na Segunda Guerra. Em batalhas como a de Stalingrado, ele foi um dos fatores que mais contribuiu na derrota alemã, e com certeza foi muito marcante para os soldados presentes durante o acontecimento.
Para uma obra sobre tempos e lugares que queimam livros, a escolha perfeita de protagonista é alguém que valoriza e sabe da importância das palavras, justamente por já ter vivido sem saber como usá-las. Sendo assim, apesar de que todos os personagens são extremamente bem desenvolvidos e cativantes, dando destaque para o melhor amigo de Liesel, Rudy Steiner, que é o meu favorito, achei que o fato de Liesel ser a protagonista deu um toque especial à obra.
Achei fascinante que o literato tenha mostrado perdas de ambos os lados: tanto dos alemães, quanto de seus inimigos. A maior parte dos livros que li sobre a época não mostravam muito bem o sofrimento pelo qual os alemães passaram.
Algo que pode desagradar a muitos leitores, mas que não me incomodou, foi o fato de a narradora não fazer suspense. Muitas vezes, a Morte cita acontecimentos que ocorrerão depois, ou até mesmo no final do livro. Porém, na minha visão, o objetivo do texto não é ter um final chocante, e sim mostrar como a humanidade é contraditória e como a existência de alguns humanos vale a pena.
À vista disso, o desfecho não deixa de ser assaz criativo. Não consigo imaginar um melhor, apesar de este ter trazido em mim um sentimento de tristeza.