Nilton 19/05/2020
Quando a Morte conta uma história, você deve parar para ler.
Começo essa resenha para "A Menina que Roubava Livros" me arriscando a dizer que esse é aquele trabalho que todos gostariam de possuir a autoria. É inegável a consistência dessa obra do início ao fim, e o empenho de Marcos Zusak em elaborar um enredo com uma temática tal como essa, sem dúvidas, funcionou.
Ambientada no apogeu da Segunda Guerra Mundial, a história, cuja narradora é a mais inusitada possível, conta parte da mocidade de Liesel Meminger, uma menina órfã de pai e mãe que, após assistir morrer o irmão mais novo a caminho da adoção de ambos, seria entregue, sozinha, a um novo lar e uma nova parentela, bem num dos centros da guerra: a Alemanha nazista.
A leitura de "A Menina que Roubava Livros" não é arrastada, nem monótona. São quase quinhentas páginas que, no fim das contas, passam, ligeiras. O bom uso da língua, bem como o talento nato de Zusak em expressar-se por meio de suas palavras, com toda a certeza, encaminhou o sucesso de sua obra. Até mesmo o uso de figuras de linguagem, com certa ênfase em prosopopeias, serviu para trazer movimento à história, deixando-a dinâmica.
Além disso, Marcos Zusak, o autor, pareceu ter captado muito bem a complicada tarefa de contar uma parte da história dos que viveram debaixo dos ditames do antigo nazismo, e o fez de um jeito divertido, pertinente e, acima de tudo, realista. Por falar nisso, a obra expõe o cotidiano bélico da forma mais realista possível: horripilante como uma tragédia. O sentimento de choque parece agravar-se quando se constrói certa familiaridade com os personagens e a história destes. Senti, diversas vezes, que eu era quem fazia parte daquilo, mais uma cabeça a correr das incertezas e do medo, que explodiam feito bombas de guerra.
Devo dizer, por fim, que "A Menina que Roubava Livros", de certo modo, não tem a menor pretensão de maravilhar o seu leitor. Este é um relato que choca, que entristece e que ensina. A obra tem, sim, a presença de personagens marcantes e boas histórias a serem contadas, mas a grande descoberta, talvez, é que não se pode esperar o melhor dos resultados quando se vive uma guerra. As guerras existem, e o saldo que fica costuma assombrar.