Andre.28 31/10/2020
Ambiguidades, amor e uma narrativa entre altos e baixos
Quando um autor se propõe a escrever sobre relacionamento, teoricamente, temos um pressuposto para que ele possa desenvolver suas ideias sobre o assunto na medida em constrói um enredo e desenvolve os personagens. Quando uma narrativa começa bem, fazendo esse “dever de casa”, mas o tom é quase “imposto” como verdade, as coisas ficam meio desagradáveis para quem lê, piora quando os personagens começam a tomar escolhas erradas, tendo atitudes descabidas e movidas pela vaidade e desespero. Em “O Curso do Amor”, livro publicado em 2016, pelo escritor britânico Alain de Botton, nós temos estes elementos evidenciados numa narrativa que se completa numa decrescente.
Antes mesmo de qualquer coisa, esta resenha contém pequenos “spoilers” (entre aspas mesmo, porque são coisas dadas no enredo e nem se configuram tanto como spoiler), e caso quem leia, fique logo ciente disso. O livro conta a história de Rabih, um jovem arquiteto britânico/libanês de 35 anos e sua história de amor, casamento e vida com Kirsten uma jovem mulher de seus 30 e poucos anos, independente e trabalhadora. Da paixão, ao namoro e depois ao casamento. Os altos e baixos do relacionamento do casal, os filhos, as brigas e os comportamentos irritantes da convivência. Um balaio permeado pela narrativa em terceira pessoa, feita por uma espécie de conselheiro amoroso (o autor) que tenta explicar o amor e suas dificuldades.
Quanto as minhas considerações, posso dizer que o livro tem um caráter de “conselheiro amoroso do casamento”, o título é autossugestivo quanto a isso. Os problemas estão no enredo e no tom da narrativa, no começo é perceptível que o autor quer empurrar “verdades”, vendendo uma ideia de "amor ideal". O personagem do Rabih faz muitas burradas, erra e irrita, o mesmo acontece com a Kirsten, que em muitos momentos mais parece que o casamento dos dois é por pura conveniência. Mas a gota d’água foi a traição, que para mim matou a empatia pelo Rabih, sem falar das desculpas esfarrapadas do autor pra manter a família, mesmo com um desconforto latente e as brigas gratuitas. Rabih é muito inconsequente, e a Kirsten indiferente, e ambos em muitos momentos do casamento são inconsequentes, grosseiros e mimados, CARAMBA, o que custa se comportar como adulto e conversar sobre aquilo que tá incomodando? Eu fiquei muito chateado com a forma como esse casal se comporta como adolescentes mimados e sem noção de dialogo. Eu tentei relevar o tom de “verdade absoluta” que o autor tenta descrever toda hora sobre o que é o amor, mas chegou um momento que nem dava mais pra suportar.
Da metade para o final a narrativa cai muito, mas, mais especialmente o enredo e o comportamento dos personagens. O leitor vai perdendo a empatia, e o que resta é uma vaga observação de comportamentos insensatos e a constatação que já nem é tão interessante ver como duas pessoas se perdem numa noção equivocada de casamento. Um livro que posso dizer que foi mediano, entre altos e baixos, porém nem tão atraente assim. A ideia de superar o amor real não exime o comportamento imaturo de pessoas adultas que não sabem estabelecer um canal de dialogo, principalmente se as pessoas se encontram em um casamento, onde o diálogo é parte fundamental, alicerce da convivência e do amor. Não se poderia sublimar isso em nome de uma representação de um suposto “amor real”. Num casamento amor sem diálogo não é amor, e sentimento de conveniência entre duas pessoas.