Biatunix 20/02/2024
Dei cinco estrelas porque é o máximo, mas por mim é 10/10
Li estação carandiru, fiquei encantada e ao mesmo tempo abismada, com as histórias contadas pelo Dr. Drauzio.
Quando soube que era uma trilogia, e com um livro sobre a penitenciária feminina, fiquei interessada pensando nas histórias que iria conhecer.
O livro me doeu mais, pois dessa vez eu consegui me ver nos lugares daquelas mulheres. Podia ter sido eu, e isso foi assustador.
Meu pai poderia ter seguido o caminho do meu avô, virando um bêbado que batia nos filhos. Minha mãe podia ter se deixado tentar pelas drogas, bebida, assim como seu pai, meu avô materno. Podia ter sido eu, uma daquelas meninas, assustada, sem estrutura familiar, em uma periferia onde o crime organizado cresce e se mostra um meio de viver, ganhar dinheiro e sair da pobreza.
Por vários fatores, não fui como elas, tenho uma família estável, trabalho e consigo pagar minha faculdade. Não vivo de luxos, mas também não vivo como a maioria das mulheres citadas no livro, viveram.
Óbvio, que não apaga seus crimes, os mesmos que elas já pagam na penitenciária, em completa solidão, já que são esquecidas na cadeia pelos familiares.
É muito triste, ver mulheres espertas, com extremo potencial, saindo da cadeia e voltando pro crime, porque nosso país é extremamente falho em reinserir a massa carcerária a sociedade.
Esse livro é uma denúncia, Dr. Drauzio conta com maestria e linguagem simples, a vivência das mulheres que atendeu, onde 90% tem o mesmo início de história: filhas de um pai alcoolista e agressivo, mãe com dificuldade de cuidar dos filhos, que vão de 3 até 9, e que infelizmente morrem muito cedo.
Também é um livro sobre reflexão, onde de maneira brilhante, o Doutor trabalha com fatos, números e conhecimento de mais de 40 anos em voluntariado em penitenciárias. Ele fala sobre os problemas da sociedade, sobre o ciclo sem fim e como o PCC ocupou um lugar sensível e que precisava de atenção do estado.
Como dito por uma prisioneira durante o livro:
"Que não é vista, não é lembrada".